No capítulo desta semana temos a música mais rentável de sempre de uma banda-sonora, teve quase para não ser como a conhecemos mas o esforço de Kevin Costner e Whitney Houston foi altamente recompensado!
Filme : The Bodyguard (1992)
Tudo começa em 1973 quando Dolly Parton e Porter Wagoner (músicos Country) terminam a sua parceria musical. Esta dupla ganhou grande fama e quase todos os prémios no que à música country diz respeito. Para além disto, tinham que conviver constantemente com os rumores de um possível romance entre os dois, algo que nunca foi confirmado.
Querendo começar uma carreira a solo, Dolly escreve uma música baseando-se na ruptura entre os dois. Algo que sugerisse o termo de uma relação amorosa em que uma parte tem de deixar partir a outra mesmo que a ame para sempre. Ou seja, dar mais ênfase ao que realmente tinha acontecido, implementando um factor amoroso a algo que tinha sido, segundo os dois, estritamente profissional.
Dolly escreve e compõe sozinha a música “I Will Always Love You” e lança-a em 1974 e, em pouco tempo, chega a número 1 dos tops de música country.
https://youtu.be/aDqqm_gTPjc
Quem não ficou indiferente a este sucesso foi Elvis Presley que queria fazer uma versão da música. Então, o Rei contactou Dolly para perguntar se o poderia fazer. Dolly concordou que Elvis fizesse uma versão, contudo esta versão caiu por terra quando o agente do Rei informou Dolly que este ficava com 50% dos direitos da música e de publicação.
Assim Dolly conservou todos os direitos da música para si.
Em 1982, Dolly é convidada para a banda sonora do filme “Best Little Whorehouse In Texas”, mas em vez de apresentar uma música nova, a artista apresenta uma versão renovada do seu tema… e assim “I Will Always Love You” regressa ao primeiro lugar do top de música country.
Em 1991, Kevin Costner torna-se num dos mais credenciados atores de Hollywood, muito devido ao filme “Dances With Wolves”, onde para além de ator principal, é também o realizador. O filme ganha 7 Óscares incluindo o de Melhor Filme e Melhor Realizador. É assim que Costner é convidado para um novo projecto, “O Guarda-Costas”.
O filme estava escrito há muito por Lawrence Kasdan (conhecido pela sua obra em Star Wars e Indiana Jones), e segundo o próprio, o guião estava guardado desde meados da década de 70, chamando-se originalmente Star Vehicle, em que os papéis principais foram escritos com base nos actores Steve McQueen e Diana Ross. O ator só aceitava mediante duas condições:
- 1- Ser um dos produtores do filme;
- 2- Após ler o guião, Costner acreditava que ia dar um ímpeto igual ao de Diana Ross se ao invés de uma actriz, a figura principal do filme fosse mesmo uma cantora e aí a sua favorita era Whitney Houston;
A primeira condição foi de fácil resolução, visto que após o seu trabalho em “Dance With The Wolves” este seria uma mais valia. O problema era o segundo ponto, visto que a cantora estava com uma agenda preenchida, mas a vontade de Costner foi mais forte e as gravações foram adiadas por 6 meses, ou seja o filme só iria estrear em 1992.
Assim, Whitney assina um contrato bastante vantajoso, visto que, para além do filme, a cantora fica responsável por 6 músicas da banda sonora, onde 4 delas seriam singles, ou seja, quase um álbum novo e quase sem custos. Contudo a cantora ia cantar algumas versões de músicas antigas, mais especificamente da altura em que o guião original tinha sido escrito, pois faziam parte deste. Uma dessas versões seria escolha da cantora/atriz e a outra seria escolha de Kasdan e posteriormente as outras seriam escolhas conjuntas.
Kasdan escolheu “I’m Every Woman”, um original de Chaka Khan de 1978, já Whitney Houston escolheu “What Becomes of The Brokenhearted”, um original de Jimmy Ruffin editado em 1966. A escolha de Whitney seria o tema principal do filme e tudo estava alinhado no que diz respeito a direitos. Contudo, ao adquirirem os direitos das músicas, Clive Davis, dono da Artista Records e mentor de Whitney Houston, constata que a escolha da cantora tinha sido usada um ano antes, 1991, no filme “Fried Green Tomatoes”, logo seria um risco usá-la. Sem nenhuma música em mente, a cantora pergunta a Costner se se lembra de algum tema emblemático da época, ao que o actor responde: “I Will Always Love You”.
A escolha agradou à cantora, mas não agradou nada ao seu mentor, mas mais uma vez a vontade de Costner prevaleceu, onde se justificou dizendo que era o tema perfeito para o filme pois a letra estava em perfeita sintonia com o guião.
Dolly Parton desta vez não se opôs à ideia, visto que seria mais uma forma de rentabilizar a música, isto porque na altura em que Elvis pediu para fazer uma versão, esta chocaria nos tops com a sua versão original e isso era algo que não iria acontecer agora.
David Foster era o produtor da versão de Whitney Houston e tinha ficado encarregue de falar com Dolly sobre a utilização da música. Dolly quando aceitou, deu um conselho a David: para este ir em busca de uma versão pouco conhecida da música… a versão de Linda Ronstadt de 1975, que para além de rara, era bem mais bonita que a sua e tinha um final bem diferente segundo Dolly, que por gostar tanto nunca levantou grandes problemas com royalties. Assim David Foster foi em busca desta versão, só encontrando-a numa loja de vinis antigos, visto que já estávamos no início da era dos CDs. Assim trouxe o disco antigo para Whitney aprender a música. Após esta escolha, David teve de pedir a Mick Jackson, realizador do filme, para aumentar 40 segundos de duração, algo que foi concedido mas obrigou a versão do filme a ficar sem o último verso da letra original.
Após a decisão em relação ao tema escolhido pela cantora, Clive Davis decide mudar o tema principal para “I’m Every Woman” pois sentia que era um tema mais forte como primeiro single. Cientes da decisão, Costner e Houston depositaram uma fé enorme em que a nova música seria bem melhor e, após a gravação desta, foram mostrar a Clive para persuadi-lo a trocar os singles.
Já com o single de lançamento decidido, a Artista Records já tinha tudo tratado, mas após Clive ouvir o início Acapella da música telefonou de emergência para a editora discográfica para cancelar os ditos singles.
Assim após uma persuasão megalómana por parte de Kevin Costner e Whitney Houston, “I Will Always Love You” chega às lojas em 3 de novembro de 1992, 20 dias antes do filme… E escreveu-se história, vejam os factos:
O segundo single mais vendido de sempre durante 5 anos, ficou apenas atrás de “We Are The World”. Em 97 perde o segundo lugar para “Candle in The Wind” de Elton John.
O álbum da banda sonora foi o mais rápido de sempre a vender 1 milhão de unidades ( demorou 4 dias) e ainda hoje é a mais vendida de sempre.
Whitney Houston ganhou os Grammys de Álbum do ano e Melhor Vocalista pop feminina.
Ficando 14 semanas em primeiro lugar do top americano, a música bateu o anterior recorde que era 11 semanas. A música por não ser original, não pôde concorrer aos Óscares, onde venceria facilmente.
O filme foi um sucesso estrondoso fazendo com que Kevin Costner tivesse luz verde para uma sequela. Nesta sequela que já estava escrita, a personagem de Costner seria guarda-costas de uma princesa e a escolha para o papel era a verdadeira Diana de Gales. Estava tudo acertado e as filmagens arrancavam em novembro de 1997, algo que nunca aconteceu porque Diana morreu num acidente de automóvel nesse verão.
Dolly Parton adorou a versão, afirmando que o sentido que Whitney deu à música tornava-a mais bela e pessoal que a sua. Dolly recebeu 6 milhões de dólares de direitos com base nas vendas do single.
David Foster considera esta música o melhor dos seus trabalhos, apelidando-a de a melhor música de amor do século passado e no final do dia pode muito bem ter razão e até atrevo-me a acrescentar, olhando para as estatísticas, a melhor música de amor de sempre!