Vis a Vis (conhecida como “Locked Up” nos EUA) é uma série de suspense criada por Daniel Écija, Iván Escobar, Esther Martínez Lobato e Álex Pina (criador de La Casa de Papel). Recheada de um suspense intrigante, dilemas que se interligam e plot twists que conseguem apanhar mesmo o indivíduo mais céptico de surpresa. Sempre houve a tendência de se comparar esta série com Orange is the New Black, mas, tirando certos elementos em comum, é impossível associar os ambientes vividos em cada história.
Nota: Esta é uma crítica sem spoilers
As comparações com Orange is the New Black, além de alguns poucos elementos em comum podem-se resumir com o plot principal que guia ambas as séries: uma jovem é enganada por um(a) amante no âmbito de uma ação ilegal e como tal acaba a cumprir tempo de cadeia num estabelecimento prisional para mulheres. Porém aqui as histórias de Chapman e Macarena (Maggie Civantos) adotam rumos totalmente diferentes, visto que o rumo da segunda personagem será marcado por reviravoltas impensáveis a partir do momento em que ela põe os pés pela primeira vez em Cruz del Sur.
A partir da sua primeira noite após o assassinato misterioso de uma colega sua de cela (que origina uma busca pelo paradeiro do dinheiro de um assalto de sucesso organizado pela vítima), Macarena ver-se-à envolvida numa série de reviravoltas que irão envolver toda a população da prisão, bem como a sua própria família. Zulema (Najwa Nimri), uma das presidiárias mais remidas de Cruz del Sur será um dos piores obstáculos que a “rubia” irá ter que enfrentar. Dentro desta prisão uma série de histórias irão colidir e causar uma série de plot twists que não irão falhar em manter o interesse do espectador.
Ação, drama e thriller são os principais ingredientes que tornam esta série um must watch. Temas como preconceito, machismo, bulliying e abuso sexual são abordados muitas vezes de forma nua e crua. Vis a Vis é basicamente a primeira ideia que eu tinha sobre Orange is the New Black, antes de saber do que realmente se tratava a segunda. Por gosto pessoal, foi esta a série que mais me cativou, apesar de alguns episódios serem demasiado longos (problema esse que senti mais na segunda temporada).
Vis a Vis vai-se apresentando aos poucos com um pequeno formato de documentário à mistura. Ao mesmo tempo, vamos conhecendo cada uma das personagens, quer as presidiárias, os funcionários de Cuz del Sur, a família de Maca e a polícia. As estrelas desta série acabam por ser as prisioneiras cujas personalidades e atitudes tomadas ao longo da história são bastante heterogéneas, cada qual com o seu charme.
A série leva o seu tempo a introduzir-nos a cada personagem e a deixar-nos ir avaliando as suas ações a cada episódio que se segue. Uma personagem que possa parecer demasiado “boazinha” acaba por se revelar ou mais “nuanceada”, ou mais negra do que aparenta, no entanto por vezes há personagens que pecam por se levarem demasiado pela emoção ou pelo “drama”.
Uma desvantagem, contudo é o prolongar de vários dramas românticos entre personagens que acabam a dada altura por fazer revirar os olhos ao espectador (especialmente se estivermos a falar da dinâmica entre Maca e Caracóis). Algumas personagens chegam inclusive a ter atitudes totalmente impulsivas sem ter grande motivo para tal. A única exceção à regra foi Zulema, que em muitos casos sabia como dar a volta a várias situações, ironicamente comprovando que as mentes mais maldosas conseguem (ironicamente) ser das mais racionais em ficção. É o tipo de personagem que chega a ser odiável, mas a dada altura o espectador vai adorar odiar esta personagem. Macarena, por outro lado, ora é uma personagem muito frustrante, ora tem momentos em que claramente se nota o seu amadurecimento.
Todas as personagens, de uma maneira geral, passam pelas suas próprias provas de fogo que muitas vezes lhes irão testar os limites. Mais do que uma história passada numa prisão feminina, Vis a Vis conta a história de uma série de mulheres lutadoras que mesmo tendo cometido crimes, são tão humanas como o comum dos mortais. Com uma protagonista frágil, mas corajosa e uma vilã cruel mas sentimental, esta série brilha apesar de tudo pela forma como apresenta as personagens mostrando tanto os seus lados negros como os humanos.
Apesar da segunda temporada ter momentos mais “parados” e frustrantes em relação à primeira, são ainda assim duas sequências com reviravoltas que não irão decepcionar mesmo os espectadores mais perspicazes. Vis a Vis é uma série que certamente irá agradar quer aos fãs de Orange is the New Black, ou até aos entusiastas fãs de La Casa de Papel. É um exemplo sólido do porquê de as séries espanholas estarem a conquistar uma audiência cada vez mais internacional.
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