Quarenta e dois anos depois de “Star Wars” ter chegado ao grande ecrã, a epopeia ao redor da família de Darth Vader chega ao fim em “Star Wars: The Rise of Skywalker”.
esta crítica não contém spoilers
Em 2012, quando a Disney adquiriu a Lucasfilm, o acordo veio com a promessa de mais filmes, incluindo a concepção de uma nova trilogia em torno dos Skywalker. Por conseguinte, “Star Wars: The Force Awakens”, de J.J. Abrams, foi lançado em 2015, tendo prosseguido dois anos depois com Rian Johnson ao leme de “Star Wars: The Last Jedi”.
Agora, para o último filme desta nova trilogia, Abrams voltou a ocupar a cadeira da realização. Curiosamente, trabalhou a partir de um argumento que escreveu com Chris Terrio (“Batman V Superman: Dawn of Justice”).
Primordialmente, o filme tem a tarefa de concluir toda a saga Skywalker, que teve início há mais de 40 anos com a obra de George Lucas.
Para alguns, a devoção singular de Abrams em entregar algo previsível deverá ser suficiente. Alianças são forjadas e desfeitas, planetas são destruídos e os destinos acabam por ser cumpridos. Adicionalmente, tudo isto não poderia deixar de ser espelhado na companhia da lendária banda sonora de John Williams.
“The Rise of Skywalker” tem o fardo das expectativas demasiado altas que acompanham uma das franquias mais populares da história do cinema, e, como seria de prever, não vai agradar a todo o público. A longa-metragem tende a corrigir alguns detalhes de “The Last Jedi”, tem alguns momentos divertidos e o “fan service” habitual.
A primeira parte do filme apresenta uma amálgama de histórias tão variadas que poderiam dar origem a múltiplos filmes a partir dali. J.J. aposta em reviravoltas inéditas, ao passo de oferecer uma sequência da narrativa de “The Last Jedi”. Desta feita, para quem apreciou o filme de Johnson, esta poderá não ser a conclusão que ambicionavam, mas que segue a fórmula conjeturada em “The Force Awakens”.
Existe muito trabalho centrado na configuração retroativa do regresso de uma personagem importante na saga. Portanto, a história foca-se muito na clássica demanda de Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega) e Poe (Oscar Isaac) a enfrentarem essa velha ameaça.
Rey ainda está à procura do seu lugar no universo, mesmo quando é atraída tanto pela luz como pelo lado negro, da mesma maneira que a sua figura paterna – Luke Skywalker – foi no passado.
Abrams, Terrio e os demais envolvidos em “Star Wars: The Rise of Skywalker” fazem um esforço valioso para tentar agradar a gregos e troianos, e o resultado não é mais do que um filme coeso, com uma realização metódica de desejos vagamente concretizados, mas com alguns exageros no enredo.
Há respostas para todas as perguntas que Abrams colocou em “The Force Awakens”, tal como uma recontagem inegável de certas respostas que Johnson deu em “The Last Jedi”.
Leia de Carrie Fisher surge através de imagens não utilizadas, que não são perfeitas, mas funcionam suficiente bem.
Existem batalhas de lightsaber maravilhosamente coreografadas, batalhas espaciais com muitos truques à mistura e outros tantos detalhes para apreciar. Assim, tal como existem elementos para todos gostarmos em “Star Wars: The Rise of Skywalker”, também existe o reverso da medalha.
Abrams foca-se tanto a tentar entregar o que público pretende que parece esquecer-se de oferecer um filme de qualidade. Assim, embora possam surgir aspectos de “The Rise of Skywalker” que surpreendam o público (seja na história ou nas decisões de realização), nada subverte as expectativas.
Efetivamente, isso pode agradar a alguns fãs, assim como pode irritar outros. É um filme relativamente seguro, que tenta regressar à génese de “The Force Awakens” e afastar-se da divisão de “The Last Jedi”, mas que terá certamente opiniões diversas por jogar numa zona de conforto, tal como “The Last Jedi” teve por jogar em nome do risco.
Abrams oferece-nos a oportunidade de dizer “adeus” aos personagens que nos são queridos, enquanto tenta definir uma conclusão satisfatória para a história de Rey e Kylo Ren. Enquanto que “The Last Jedi” servia para matar o passado, “The Rise of Skywalker” quer sufocar-nos com ele como um abraço quente e felpudo de Ewok.
Embora seja expectável que nem todos concordem com o desfecho delineado, qual poderá ser a solução ? Isto é “Star Wars”! Como é possível não rasgarmos um sorriso ao constatarmos o regresso de Billy Dee Williams como Lando Calrissian, bem como a oportunidade de podermos regressar ao cockpit da Millennium Falcon!
Há momentos em que “The Rise of Skywalker” oferece pequenas coisas que fazem aquecer o coração dos fãs, como o som dos lightsaber a fervilhar de poder, ou os X-Wing a travar na posição de ataque. São estes momentos que fazem com que nos esqueçamos que o resultado final poderia ter sido melhor.
Os Skywalker deixaram uma marca inigualável em várias gerações de fãs de cinema, e esta não é a ocasião de apontar prontamente apenas os erros evidentes no final, mas é a oportunidade de dizer adeus, e dizer adeus é sempre difícil.
“The Force will be with you. Always.” — Obi-Wan Kenobi