Green Book (Um Guia para a Vida) traz-nos a história de dois homens – Tony Vallelonga e Don Shirley – que apesar de serem completamente diferentes, têm muita coisa a aprender um com o outro.
Frank Vallelonga – ou para os amigos, Tony Lip – é segurança num bar chamado Copa onde é conhecido por resolver situações que maioritariamente são brigas. Depois de o bar fechar para obras, fica sem nada para sustentar a família durante dois meses e como tal, decide procurar trabalho.
É assim que, por volta dos anos 60, conhece Don Shirley, um músico negro cujo talento é o piano. Tony é contratado para motorista de Don por recomendações de outros. O mesmo Tony que deitou dois copos ao lixo quando dois negros beberam água dos mesmos em sua casa.
É-lhe dado para a mão o “green book” – um guia para motoristas dos negros que contém tudo o que é preciso para uma viagem, ou no caso deles, uma digressão de oito semanas por várias cidades. Neste guia existem restaurantes que os negros podem frequentar e em que hotéis é que podem dormir.
Por outras palavras, Don é aclamado e aplaudido quando vai tocar para a classe alta e os encanta com o seu talento mas quando desce do palco, volta a sofrer das mesmas condições como os outros de cor.
O filme prima muito pelo contraste que há entre estes dois homens e faz-nos rir e emocionar com coisas mínimas que fazem com que eles aprendam muito um com o outro.
Pequenas coisas como Tony convencer Don a experimentar frango frito ou Don ajudar Tony a escrever cartas de amor para a sua mulher.
Vêm de dois mundos diferentes mas no fundo têm os dois coisas em comum. Só sei que às tantas, Tony é quem protege mais Don. recorrendo muitas vezes a violência, o que não agrada ao patrão, mas é também ele que ajuda Don a impor-se contra as injustiças.
A relação entre Mahershala Ali e Viggo Mortensen neste filme é simplesmente incrível. Para mim, nem faz sentido que eles estejam nomeados para categorias distintas nos Óscares porque são os dois atores principais neste filme.
Ver como este equilíbrio entre os dois é construído, embora as atitudes sejam completamente diferentes – Tony é mais desleixado, Don é mais sofisticado – é emocionante e faz-nos realmente pensar em como algumas situações não são assim tão diferentes hoje em dia.
E num filme em que a maioria das cenas são passadas dentro de um carro, algo que podia se tornar monótono, é o que traz mais vida e entusiasmo ao mesmo. Nick Vallelonga pegou na história do seu pai e das suas aventuras com Don e deu-nos “Green Book”.
Um filme simples que ganha por isso mesmo. É essencialmente um filme com uma mensagem de que é preciso arriscarmos dar o primeiro passo. Que nos ensina que não se deve julgar o livro pela capa. E que, acima de tudo, há muito para aprender com quem nos rodeia. São mensagens fortes para a cerimónia deste ano, e claro, inspirado numa história verídica consegue surpreender os mais emotivos.