O novo serviço de streaming da DC, intitulado DC Universe, não se podia dar ao luxo de desapontar os fãs com a sua primeira série original. Após muitas dúvidas, no entanto, o resultado acabou por ser satisfatório.
Aquando da divulgação do primeiro trailer de Titans, muitos fãs voltaram-se contra a série antes desta sequer estrear. Eu incluo-me, assumidamente, neste lote. Veio então o segundo trailer, mas a situação não melhorou. As personagens principais pareciam desviar-se bastante das suas versões originais, e o próprio tom dos trailers dava a entender que a série tentaria ser demasiado “edgy”. Ainda que amplamente cético, decidi dar uma oportunidade à série. No final dos 11 episódios que constituem a primeira temporada, posso dizer que a qualidade desta série me surpreendeu positivamente.
Ao contrário dos habituais 5 membros que formam a equipa que dá pelo nome de “Teen Titans”, nesta temporada estão apenas presentes 4. São eles Dick Grayson (Robin), Koriand’r (Starfire), Rachel Roth (Raven) e Garfield Logan (Beast Boy). Dick trabalha como detetive em Detroit, após ter abandonado Gotham, e o seu mentor, Bruce Wayne. Kory vem de um planeta longínquo, mas não tem memórias do seu passado ou da sua identidade. Rachel, cujos poderes são afetados pelas suas emoções, é filha de um poderoso demónio, e teve uma infância muito perturbada. Garfield é um rapaz com abilidades metamórficas, ex-membro da Doom Patrol, que se juntou a Kory, Dick e Rachel.
Todos os membros da equipa se encontram, cada um à sua maneira, à procura da sua identidade. É então ao juntarem-se, como aliados, que descobrem mais sobre eles mesmos, sobre os seus poderes, e para que fins podem usá-los. O mais notório exemplo é Rachel. A “escuridão” dentro de si insiste em manifestar-se, e em tomar conta das suas emoções, mas ela vai gradualmente aprendendo a lidar melhor com os seus poderes, embora ainda não os domine totalmente. É precisamente no desenvolvimento da Rachel que está o principal fio condutor da série.
Quem esperava uma Raven estóica e sarcástica como na série animada, terá de continuar a esperar. Rachel mostra ainda bastante falta de confiança e bagagem emocional, o que na verdade se adequa à narrativa da série. Os seus momentos de maior leveza emocional dão a entender qual será o rumo que a personagem tomará no futuro. E é seguro dizer, penso eu, que esse rumo agradará à maioria dos fãs. O desenvolvimento da personagem de Dick segue a mesma linha, ainda que por caminhos diferentes. A série apresenta-o numa das fases de maior conflito interior na sua vida. O pós-Robin, pré-Nightwing. Apesar de este ser um Dick mais violento, tal caraterística não se deve ao acaso, ou sequer a uma visão diferente dos showrunners para a personagem. É, sim, o ponto chave do seu desenvolvimento, na medida em que uma vez que a sua revolta interior seja ultrapassada, Dick conseguirá ser o compasso moral desta equipa, e tornar-se-á num herói independente, íntegro, e sem ressentimentos.
No que toca aos outros 2 personagens principais, Kory e Gar, o caso muda de figura. Esta versão da Starfire é drasticamente diferente da Starfire a que estamos habituados. Nunca a Starfire foi tão badass, especialmente na popular série animada. E, na minha opinião pessoal, esta mudança torna a personagem bastante mais interessante. Kory, tal como os outros, procura a sua identidade. Literalmente, aliás, visto que não tem quaisquer memórias do seu passado. Garfield Logan, o Beast Boy, por outro lado, é de todos aquele que é mais fiel à sua versão original. O seu arco foi, talvez por isso, o menos explorado, e também o mais simplista. Trata-se da típica narrativa em que o personagem lida com os transtornos causados pelas ações do “monstro” que tem dentro de si.
Durante os 11 episódios da série foram também introduzidas novas personagens deste universo. São os casos de Jason Todd, Donna Troy, o grupo Doom Patrol, e o fantástico duo Hawk & Dove. Todos eles têm o seu encanto, e é um sentimento gratificante ver a expansão do universo.
Há outra questão que não posso deixar de mencionar, que é a abordagem aos romances. Enquanto via os primeiros episódios, fiquei satisfeito pela série não tomar o rumo fácil para criar intimidade entre os membros da equipa, que seria inserir romances entre eles. Isso acabou por acontecer, no entanto, e ainda que a execução tenha sido aceitável, não posso dizer que sou o maior fã da decisão. Principalmente no que diz respeito a um certo par. Sem dar spoilers digo que as perspetivas de futuro, também neste caso, são mais animadoras.
A ação é deveras satisfatória para uma série deste calibre. As cenas de ação não roçam propriamente a perfeição, mas têm uma qualidade de execução bastante elevada. Principalmente as cenas de combate corpo a corpo. A soundtrack sim, merece bastantes elogios. A escolha das músicas adequa-se a quase todas as cenas, enriquecendo-as sem lhes tirar o foco.
O maior ponto negativo da série é o pacing da história em determinados momentos. Isto é algo especialmente notório em 2 ou 3 episódios a meio da temporada, em que a maioria do tempo são “tempos mortos” onde não se passa nada que avance a história, ficando todas as questões de interesse guardadas para os últimos minutos.
Ainda que tenha os seus defeitos, Titans é uma série que vale a pena seguir para quem é fã do género, valendo-se da química entre as personagens principais como a sua maior arma. Duplamente, para quem quer ver um universo televisivo que junte várias personagens da DC.