É fácil gozar com a imagem central de ‘A Ghost Story’: uma construção extremamente rudimentar de um fantasma através de um lençol branco e dois buracos para os olhos. No entanto, considerando os temas pesados que apresenta – tempo, legado, vida, morte – torna-se uma imagem apropriada de quão absurda é.
Nunca haverá um melhor símbolo que encapsule toda a beleza caótica da vida e o profundo vazio da morte, a confusa e esquiva alegria, a sensação de que tudo e nada importam. Nunca haverá uma representação tão boa de complexidade que esta tão simplista, e Lowery mostra-nos que percebe isso. Há um aroma humorístico e consciente de si envolto no filme: os fantasmas têm legendas, e vemos tinta a secar, literalmente.
Estas imagens têm, no entanto, um poder transcendente nelas, um pulso firme na especificidade das nossas vidas em comparação a um estado de existência muito maior, colossal. O formato do enquadramento a 4:3 enclausura-nos, mas há muita coisa a respirar naquele quadrado pequeno.
O que não é falado não se torna tolo ou pretensioso quando é de facto falado: ao invés, sentimos mesmo que este balbuciar existencial é de alguém que viveu uma vida. ‘A Ghost Story’ é uma produção poderosa e audaz de primeira ordem, um poema meditativo sobre a enormidade do tempo, e a segunda parte do filme é uma tour de force de storytelling que engenhosamente explora a sua premissa na totalidade. É um filme que entende o impacto de planos longos quando usados bem, que demonstram uma teimosia em ficar no silêncio enquanto observam o sujeito da cena navegar pelo tempo em si. Intensidade e intimidade na restrição.
Há uma dor, uma solidão, que perdura no ar enquanto vemos um lençol branco a deslizar por campos e salas vazias. Vemo-lo de longe. Sereno. Assombroso. Todas as ervas em que raspa e todas as pessoas por que passa acabam por desvanecer para o nada. Todas as pessoas que conheces acabam por desvanecer, e significar nada. Todos os feitos conseguidos são pequenos, por fim, inúteis. Somos invisíveis, estamos sozinhos. O tempo passa.
Isto, visto de longe.
Aproxima-te um pouco, e as coisas tomam outra forma.
A nota, o piano, a conversa, a pessoa, a criação. As coisas que nos importam no momento, naquele período, as coisas que na nossa perspetiva podem durar para sempre. Depois, a história. O legado. O que deixamos para trás nos espaços que habitámos, mesmo que brevemente. Depois…
…e depois?