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Succession: Deliciosamente Malvados

by Tiago Marques

A segunda temporada de “Succession” traz de volta aquilo que tanto cativou a sua audiência originalmente: a interminável competição entre os irmãos Roy na busca pelo poder, influência e aprovação do seu pai, bem como os esquemas engendrados para os obter.

Na primeira temporada conhecemos a família Roy encabeçada pelo patriarca Logan (Brian Cox), um avarento e caprichoso magnata que procura entre os filhos um sucessor para a liderança do seu império de media e entretenimento, a Waystar Royco.

Roman (Kieran Culkin) é o benjamim que luta, muitas vezes contra si próprio, para provar aos outros que é mais que uma criança imatura e merece um lugar à mesa dos crescidos. Ele e o seu irmão Kendall (Jeremy Strong) trabalham na empresa do pai e, ao longo desta primeira temporada, ambos visam ocupar o lugar cimeiro da mesma. Ken, ao contrário do irmão, já não tenta agradar a Logan a todo o custo e acaba por se aliar a um antigo rival do pai numa operação de aquisição hostil à Waystar.

Temos também Siobhan (Sarah Snook), a única mulher da família, que trabalha na política até ao momento em que o pai lhe oferece o “top job” da multinacional no início da nova temporada. E, por fim, Connor (Alan Ruck) – o filho primogénito e o mais afastado do negócio da família que escolhe ocupar o seu tempo com projetos inconsequentes que vão desde tentar comprar o pénis preservado de Napoleão à candidatura à presidência dos Estados Unidos da América sem qualquer experiência de trabalho prévia.

O início da segunda temporada pega na história exatamente onde foi deixada no final da primeira, com a desistência por parte de Kendall do ataque ao seu pai, motivado pela forma como um acontecimento traumático o afetou. Com Ken fora da corrida e Roman incapaz de ser levado com a seriedade que tanto deseja, Logan vira agora a sua mira para Shiv e aponta para ela as suas intenções de nomear um sucessor entre os seus descendentes.

Photo by Craig Blankenhorn – © 2018 – HBO

Assim aparentam ser as dinâmicas entre as personagens principais mas, em “Succession”,  nada é permanente e tudo pode mudar em breves instantes…

Ao longo da série somos levados pelo ambiente opulento e extravagante em que o topo 0.1% da sociedade vive e no qual os Roy, facilmente, se inserem como venenosas cascavéis que, confortavelmente, se enroscam nas suas tocas.

A manipulação não conhece limites e todos se servem dela para obterem o que querem. Desde a fria e calculista manipulação emocional levada a cabo por Siobhan no próprio marido, Tom (Matthew Macfadyen) – ele próprio um ser reles e subserviente – à duplicidade demonstrada por Kendall ao lidar com a Vaulter (empresa de tecnologia detida pela Waystar) e o seu CEO somos habituados à ideia de que tudo vale em nome do sucesso pessoal.

Todas estas mentiras e traições são pautadas por uma espiral descendente e interminável de violência emocional que é infligida por quem está acima na hierarquia social sobre os que estão abaixo, em que os primeiros podem (e pensam que devem) abusar desse poder para tirarem tudo o que quiserem dos segundos.

Juntando estes dois factores, há um tema que salta à vista: a insignificância das palavras. Na maior parte do tempo as palavras são usadas como artifícios descartáveis num dado estratagema, o que faz com que os raros momentos em que há uma expressão honesta dos sentimentos de uma personagem sejam especialmente impactantes em termos emocionais.

Todo o elenco entrega brilhantes prestações e constroem personagens complexas que, apesar de cometerem actos reprováveis, nos conseguem fazer torcer para que tudo lhes corra bem, mesmo nos seus piores momentos.

Photo by Craig Blankenhorn – © 2018 – HBO

Brian Cox é imponente no papel de Logan Roy, Sarah Snook encarna na perfeição a ambiciosa e implacável Siobhan e Jeremy Strong mostra-nos um Kendall que cresce e evolui à frente dos nossos olhos passando por períodos de determinação inabalável e outros de pura apatia, flutuando num equilíbrio muito pouco saudável entre o ódio e a completa adulação ao pai.

A série conta ainda com a participação do talentoso compositor Nicholas Brittel ( Moonlight, Big Short) que criou para esta ocasião uma fantástica banda sonora e um estrondoso tema de abertura original. Brittel refere que tentou criar “música que a família Roy imaginasse para si própria” e isto originou um tema com melodias que evocam poder, supremacia, luxo e requinte mas que, por baixo da superfície, são contrapostas por notas dissonantes que indiciam que há algo de errado com esta família de bilionários.

O compositor introduz também uma ideia, em parceria com o criador da série Jesse Armstrong, que equipara a primeira temporada ao primeiro movimento de uma sinfonia, onde se estabelece qual é a história e quem são as personagens e a segunda temporada ao segundo movimento, em que se exploram novas ideias mas também voltamos aos temas explorados em primeiro lugar, agora com um novo ponto de vista.

Surgem assim peças que associamos a uma dada personagem e que, posteriormente, relacionamos com outras tantas explorando ainda novas dinâmicas entre os intervenientes.

Esta é a altura perfeita para ver ou rever a série, visto que estamos a poucos dias da cerimónia dos Emmys e já há rumores de que a terceira temporada irá começar as gravações em Nova Iorque pela altura do Natal.

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