“Stockholm”, de Robert Budreau, usa uma abordagem de comédia negra e fictícia para contar a história verídica sobre o assalto a um banco que correu da pior forma possível, e que deu origem ao termo – “Síndrome de Estocolmo”. O filme é protagonizado por Ethan Hawke, Noomi Rapace e Mark Strong.
Lars Nystrom (Ethan Hawke) tem um plano – roubar um banco, libertar Gunnar Sorensson (Mark Strong), o melhor amigo, da prisão, e fugir para França num Mustang 305.
Por conseguinte, decide assaltar o Kreditbanken em Estocolmo. No entanto, Nystrom percebe que negociar com as autoridades não é tarefa fácil, visto que ninguém acredita na sua vontade de ferir reféns. A dada altura, Nystrom demonstra mesmo alguma relutância em magoar inocentes, particularmente Bianca Lind (Noomi Rapace), que também não está disposta a tentar fugir ou a cooperar com a polícia.
O enredo deste filme é vagamente baseado numa história verídica sobre o assalto a um banco que ocorreu na Suécia em 1973, onde uma refém se apaixonou pelo raptor, algo que deu origem ao termo “Síndrome de Estocolmo”.
De certa forma, Robert Budreau não tenta analisar o fenómeno, mas dramatiza o que aconteceu, e fá-lo a partir de uma perspectiva próxima e pessoal dos raptores e dos reféns. Todavia, embora se sinta mais confiante com as suas pinceladas cómicas, Budreau nunca se compromete totalmente a abandonar os tiros em dificuldades sombrias.
Apesar do assalto apresentar algumas circunstâncias demasiado insensatas, existe um certo suspense genuíno na demanda, nomeadamente no que toca aos diálogos, às disputas fraternas e até aos erros imbecis (especialmente quando as personagens tomam decisões terrivelmente precipitadas).
Devido à política envolvida, a noção de que as vítimas adotam um senso de confiança e cooperação com os raptores não parece ser visto como uma lavagem cerebral complexa ou uma traição não intencional e distorcida. Em vez disso, a abordagem incide no facto das vítimas atuarem como cúmplices para aumentar – ou, em vez disso, garantir – a sua própria segurança. Além disso, a desconfiança da polícia e das forças do governo é um ponto de vista totalmente compreensível.
Desta feita, o elenco, cujas performances são de bom tom, ajuda a evitar que as muitas invenções no argumento não pareçam tão irreais.
Efetivamente, a performance de Ethan Hawke é o destaque do filme. Mas isso até nem provoca grande espanto, dada a qualidade e o leque de trabalhos com que o ator tem presenteado o público nos últimos tempos (como a atuação em “First Reformed”, de Paul Schrader).
Em “Stockholm”, não obstante ao facto de exagerar na exacerbação das ações, o que é necessário para o papel em questão, sabe entregar uma suavidade primordial quando assim é solicitado.
Noomi Rapace exalta mais uma vez que se consegue adaptar a uma variedade de personagens. Desta vez, revela-nos uma mulher forte e determinante, cujo o olhar ou qualquer movimento subtil conseguem fazer derreter o coração de um pobre maltrapilho em busca de meia dúzia de tostões, e que nutre uma admiração desmedida pelas músicas de Bob Dylan.
No que toca a Mark Strong, não entrega uma prestação medíocre na sua génese, mas retrata uma personagem que não é suficientemente trabalhada para que exista um desafio efetivo de grande relevo.
A certa altura, “Stockholm” enfatiza que o medo e o desejo de sobreviver são os fatores que unem os criminosos e os cativos. Às vezes, o verdadeiro inimigo é uma simples questão de perspectiva.