No preciso momento em que escrevo este artigo de opinião, o filme “Spider-man: Across the Spider-Verse” tem uma valorização de 96% no website Rotten Tomatoes (críticos e audiência), um valor de 86 no Metacritic e um 9,1 no IMDB.
A sequela do modesto sucesso do filme “Spider-man: Into the Spider-Verse” está a ser descrito por muitos como um dos melhores filmes de animação de sempre e um dos melhores filmes baseados em Comic Books de sempre. Algumas almas ainda afirmam que este é o melhor filme que já viram há mais de 10 anos.
Confrontado com todos estes louvores, dei por mim sentado numa sala de cinema entusiasmado mas, ao mesmo tempo, receoso. Estaria pronto para ser desiludido devido ao facto do hype ser demasiado em torno deste filme? Ou estaria à beira de ver uma obra de arte a desenrolar perante mim?
Ao fim de 2 horas e 20 minutos, saí da sala completamente extasiado, incrédulo. Não compreendia exatamente como foi possível, mas o filme tinha conseguido ultrapassar todas as minhas expectativas.
Mas o que será que leva a que este “Across the Spider-Verse” seja um filme acima da norma? Para responder a esta questão, irei listar alguns destes factos, não apenas para eu próprio tentar perceber o que me leva a gostar tanto deste filme, mas também para incentivar a quem ainda não o viu a sair de casa e ir à sala de cinema mais próxima.
Então vejamos:
Utilização do género
Muitas são as pessoas que ainda vêm a animação como um género cinematográfico inferior ao que são os filmes ditos como live action. Quantas vezes já ouvimos dizer que animação são apenas “desenhos animados para putos”?
“Across the Spider-Verse” torna-se como o estandarte primário em como esta ideia não passa apenas de uma grande falácia. O filme utiliza a animação como parte do storytelling, não apenas nas suas ideias e abordagens em transportação do espectador para diferentes mundos com diferentes cenários, como também a utiliza para expressar o sentimento da personagem ou intenção de uma cena.
Desde o cenário desvanecer durante uma discussão entre personagens, o cenário ficar mais claro devido a um abraço ou um murro estilhaçar-se numa pluralidade de cores, cada momento é pensado ao detalhe para comunicar aquilo que as personagens não dizem.
O conhecimento sobre a personagem
Nota-se a paixão por este projeto pela parte das pessoas que criaram o filme. O conhecimento sobre Spider-man e a sua história é profundo e escamado com camadas atrás de camadas. A oferta que temos de personagens e variações de Spider-Persons é gigante e agradará a cada pessoa na audiência, independentemente do seu grau de conhecimento da personagem.
E apesar da pluralidade de personagens e de histórias que nos contam, o filme nunca perde o foco da história que quer contar. Os cameos são aos milhares, as relações entre os super-heróis são muitas e ainda existe a componente familiar de Miles Morales, que se torna muito mais impactante que a do filme anterior. Porém, a mensagem do filme é simples – apesar de tanta gente à sua volta, Spider-Man é uma pessoa que está sempre sozinha e que procura um sítio onde pertencer.
Não tiveram medo de arriscar
“Across the Spider-Verse” não teve qualquer medo em arriscar e fazer all in. Seja na ambição da sua história, conjungando na perfeição o micro com o macro, os seus variados e detalhados visuais, a banda-sonora a encaixar na perfeição em cada sequência ou no quão sombria a história que estão a contar se torna. A própria duração do filme, pouco comum para filmes de animação, é um risco que eles tiveram de tomar. O próprio facto de demorar o seu tempo no início do filme a explicar cada personagem e a sua dinâmica umas com as outras. Nada terá sido uma decisão fácil de tomar.
Contudo, arriscaram e valeu a pena. Cada minuto do filme é de louvar, porque pegaram no conceito de que um filme de animação deve ser/fazer e mostraram como nem tudo tem de ser feito como a norma indica.
O final
Este é daqueles finais que apenas nos deixa a salivar por mais. Estamos à beira da cadeira e simplesmente… Pára. Eu nem digo que o filme termina, mas sim que o filme pára. Tal como um “Empire Strikes Back” ou um “The Fellowship of the Ring”, o filme encerra com uma promessa daquilo que se avizinha. E o que se segue tem a possibilidade de ser super arrebatador.
É dos cortes mais frios que já vi nos últimos tempos. Talvez a última vez que tenha visto um final assim terei de ir até ao “The Hobbit: The Desolation of Smaug”. Porém, ao contrário dessa trilogia, esta promete ser uma das que ficará para a história como uma das melhores de sempre.
“Across the Spider-Verse” é uma experiência avassaladora que deve ser experienciada por todos. É um marco no cinema de animação que tenho a certeza que terá uma pegada importante no futuro. Facilmente consigo ver este filme a ser o 4º filme de animação a ser nomeado para Melhor Filme nos próximos Óscares. Agora só temos de esperar 9 meses pela conclusão da trilogia. Até lá, é rever estes dois até à exaustão.
What´s up, Danger?