Na verdade, viver a vida é algo exponencialmente diferente de estar vivo por si só. Tudo o que Joe Gardner (Jamie Foxx) sempre quis desde jovem, foi ser músico de jazz. O Jazz faz com que se sinta vivo, mas, infelizmente, este sentimento nem sempre comporta a destreza necessária para pagar as contas ao fim do mês. “Soul” explora esta temática dos sonhos e afetos, sendo, por isso, um sucessor espiritual de “Inside Out”.
Com a realização de Pete Docter, “Soul” conta a história de Joe Gardner um homem apaixonado por Jazz. Ele respira o género musical de forma apaixonante, num legado deixado pelo pai. Não obstante, para fazer face às despesas que tem na sua vida, Joe tem de agarrar as oportunidades que estão ao seu alcance, e, desta feita, acaba por exercer funções de professor de música.
A dada altura, pelos desígnios do destino, Joe recebe a oportunidade de tocar com uma banda de jazz de renome no Half Note Club. Porém, um acidente fatídico transporta-o para o reino sobrenatural de “The Great Before”. Para regressar ao seu corpo na Terra, Joe deve fazer equipa com soul 22 (Tina Fey) e ajudá-la a descobrir a sua paixão.
Tão profundo como “Inside Out”, mas talvez não tão intenso, “Soul” é a verdadeira exploração do existencialismo da Pixar. É uma aventura divertida que celebra a criatividade e as paixões, ao mergulhar nas alegrias e experiências que fazem com que a vida valha a pena.
Dividido em dois mundos com capítulos distintos, Docter explora os temas principais por meio de uma fórmula usada em demasia, enquanto Joe e 22 unem esforços numa missão secundária.
Este filme será, sem dúvida, um sucesso entre as crianças, já que leva a muitos cenários cómicos. Mas, é nos momentos mais silenciosos, como quando Joe fala com a mãe (Phylicia Rashad) ou quando 22 experimenta o voo gracioso de uma semente de Sycamore, que “Soul” ganha vida.
O elenco extremamente talentoso traz os personagens à vida de forma maravilhosa, com Jamie Foxx a brilhar na abordagem do seu pianista. Há uma profundidade incrível no trabalho vocal de Fox, especialmente nas cenas que exploram e celebram a comunidade e as conexões familiares do personagem.
O verdadeiro alívio cómico é Rachel House, com Terry, que traz a sua intensidade característica para o papel. Richard Ayoada também contribui para ao dar voz ao sarcástico, mas cuidadoso, Gerry, muito parecido com o desenho leve de Picasso.
A Pixar elaborou um novo mundo maravilhoso, com “The Great Before”. Este plano de outro mundo desmesuradamente tranquilo, é representado com tons pastéis aconchegantes e faixas idílicas de colinas e nuvens.
A banda sonora de Trent Reznor e Atticus Ross adicionam uma atmosfera divertida e oferecem um verdadeiro contraste com o jazz quase frenético de Jonathan Batiste.
Muito parecido com o armazenamento de memórias em “Inside Out”, a representação visual de como uma combinação única de comportamentos e interesses pode ser transformada em personalidades, é extremamente criativa e bem realizada no “You Seminar”.
A equipa de criação captou a natureza movimentada da cidade de Nova Iorque de forma afetuosa, e provou ser extremamente envolvente em contraste com o “The Great Before”. O estúdio também conseguiu surpreender na fotografia, particularmente nas cenas de jazz com a saxofonista Dorothea (Angela Bassett).
“Soul” é uma aventura comovente, que celebra a vida e a experiência humana. Docter aborda profundamente a ideia de que, em conformidade com as expectativas da sociedade, perdemos a alegria infantil e até o prazer de viver. Embora não represente o soco emocional de “Inside Out” e “Up”, há muita beleza (e alma) na aventura de Joe e 22.