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Sonic the Hedgehog 3 – Crítica Filme

by João Pedro

É impossível escrever sobre um filme de forma imparcial, se é que existe tal coisa quando se avalia uma obra, quando somos precisamente parte do público-alvo. É o meu caso, com este peso pesado azul, a mascote da SEGA. Tenho uma forte ligação emocional com o universo Sonic desde algures na minha infância, algo que não me abandonou desde então, sendo cada novo lançamento, uma compra certa.

Por isso esta será uma análise diferente das que costumo fazer, mais pessoal, e menos analítica. Em 2020 ter uma longa-metragem live-action do ouriço azul era uma conquista enorme. Uma sequela era inimaginável. E agora, um terceiro, que traz para o grande ecrã os eventos de Sonic Adventure 2 e, por arrasto, Shadow The Hedgehog, é digno de ficar sem palavras, isto claro, para um fã aficionado como eu.

Não é nenhum segredo que a indústria de cinema sempre tratou exageradamente mal as propriedades intelectuais oriundas dos videojogos. Só há coisa de pouco tempo, no virar da década, é que as adaptações deixaram os clichés de lado e realmente, provaram todo o potencial aí inerente. O filme inicial de Sonic, por muito que hoje não tenha o mesmo brilho de outrora, foi no seu tempo um dos marcos que encabeçou esta nova era de boa qualidade. Com provas dadas do seu potencial no segundo filme, as portas estavam mais do que abertas para este terceiro. Como aconteceu antes, este novo filme pega no gancho deixado pelo que veio antes, para apresentar uma súbita ameaça em rota de colisão com o trio colorido. Esse evento é o mote que arranca a história, havendo alianças e reviravoltas pelo meio, replicando a dinâmica do segundo, onde tudo culmina num desfecho bigger than life que todos já vimos algures no género de ação.

Shadow (Keanu Reeves) in Sonic the Hedgehog 3 from Paramount Pictures and Sega of America, Inc.

Quem não é fã e vê de fora poderá ter outra opinião, mas o ouriço preto e vermelho é um favorito, não haja dúvidas quanto a isso, e tê-lo aqui, obviamente que tiraria espaço considerável de outros personagens já estabelecidos. Até porque Shadow não é um mero anti-herói acidental ou mais uma “ameaça da semana”, não se trata disso. Há todo um passado vasto que traz para cima da mesa, é o personagem mais bem desenvolvido e com profundidade, no universo dos jogos. Tal é a profundidade que, só este aspecto, teve direito a um jogo, em 2005, clarificando a nebulosidade da sua origem.

O que pode parecer uma curiosidade, é um facto indiscreto de referir, porque se dentro dos jogos houve (e de certo modo há ainda) um conflito criativo de aspectos do que é ou não, a razão de ser de Shadow, a equipa de guionistas teria, por isso, de tomar um lado, e fazer escolhas. Aquilo que aqui temos no guião, opta por simplificar bastante, priorizando mesclar somente aquilo que casaria bem com a versão cinematográfica de Jeff Fowler, o realizador, pondo tudo o resto de parte. Na prática Shadow está bem conseguido, e é o ilustre atração principal desta produção.

Desde a postura edgy misteriosa às frases de efeito dark que espelha o esperado, mesmo que por vezes seja impossível de não associar a Keanu Reeves, quando fala, algo que aconteceu no meu caso. Há espaço para recriação de cenas, frame a frame, que irão arregalar os olhos aos que estão familiarizados e até a easter eggs do próprio personagem, por vezes, até de memes literais. Isto foi o que mais me deixou satisfeito, devido ao receio que tal fosse descartado e menosprezado pela equipa de Fowler. Posto isto, a reboque da sua origem, vem claro, atrelado Maria e Gerald Robotnik, sendo o próprio Jim Carrey a interpretá-lo também, não fosse este último da mesma escola de comédia slapstick de Eddie Murphy.

Jim Carrey as Ivo Robotnik and Gerald Robotnik in Sonic the Hedgehog 3 from Paramount Pictures and Sega of America, Inc.

Carrey é quem mais se diverte aqui, pois o próprio tem dando sinais de que uma eventual reforma estará mais perto do que se espera, e avaliando pelo desenvolvimento das personagens que aqui interpreta, e de uma certa cena no final, este poderá ter sido um último adeus. Uma despedida em território que é casa para si, dando asas ao seus maneirismos e piadas, que destoam de Eggman, mas que o fazem ser, lá está, o Jim Carrey que marcou os anos 90s. Seja como for, a realização gradualmente foi acertando o tom do doutor melomaníaco, encontrando aqui a sua forma mais perfeita, equilibrando-se entre o humor estridente, que Carrey lhe cunhou, ao estilo pitoresco dos jogos, que tem tanto de substância, quanto de estético.

Com seis personagens em destaque, a história repete a dose da corrida contra tempo, colocando heróis contra vilões, na busca de mais um McGuffin da vez. Sonic, Tails e Knuckles mantêm-se no registo que já conhecemos, não havendo por isso, nada de novo a dizer a este respeito. Isto permitiu que, quase, e digo quase com felicidade, que os personagens humanos originais destas adaptações, quase fossem esvaziados do filme, mas foi só quase. Não há uma cena do casamento no meio abruptamente na narrativa, como antes, mas esteve na tangente disto se repetir.

A ideia enraizada na cabeça dos executivos estadunidenses, de que filmes com personagens CGI conhecidos, que o público vai só para vê-los, tem de ser acompanhado por um trope de personagens humanos desnecessários, para que alegadamente o público se consiga relacionar com eles, é algo que me ultrapassa. Na minha ingenuidade pensei que a saga Transformers tivesse ensinado uma poderosa lição ao estúdio produtor, mas não por muito. As personagens de James Marsden e Tika Sumpter voltam a ser acessório, numa história que teima a empurrá-los com muita força, por muito que todos na audiência clamem para que só se passe para a cena seguinte. Apenas deixam um rasto de protagonismo das cenas que provocam vergonha alheia e sem graça alguma do filme. O que é o calcanhar de Aquiles de Sonic 3 e, de produções do género.

Sonic (Ben Schwartz), Knuckles (Idris Elba) and Tails (Colleen O’Shaughnessey) in Sonic the Hedgehog 3 from Paramount Pictures and Sega of America, Inc.

Um dos pontos que mais estranheza me provocou, foi a forma como se assobiou para o lado aquando da inserção de músicas dos jogos. Qualquer apaixonado pela franquia, sabe que até no pior dos jogos, a banda sonora foi algo que sempre se mantinha num patamar de qualidade inabalável. À terceira é de vez, e por isso, aqui temos uma presença destacada, havendo espaço para a inclusão de uma música ou outra, do início ao fim. Até porque, a fase onde o Sonic 3 vai buscar inspiração é uma onde nos jogos a banda sonora, e em especial as letras, ganharam um estatuto diferente, sendo indissociáveis dos momentos em que se ouvem. E Fowler, finalmente, teve isso em consideração, não fosse ele perder a oportunidade ‘once in a lifetime‘ de colocar aquela certa música quando Sonic e Shadow colidem em batalha.

Falando em cenas de ação, estão no mesmo nível do que já se viu e se espera, ainda que, devido à escala épica que o filme atinge no terceiro ato, isso seja favorecido, até pelo aumento do escopo, quer do bombardeamento visual e de uma edição frenética, quer do acabamento do CGI, que aqui provoca menos estranheza num olhar mais atento. Há para todos os gostos, das interações animadas da Team Sonic em trabalho de equipa, à destruição de robôs e máquinas indiferenciadas, deixando um rasto de destruição pelo caminho. Acredito que, e talvez necessite de rever, que a edição tenha sido mais ambiciosa, mesmo que seja difícil de exemplificar na prática, sem tocar nos famigerados spoilers.

Apesar de estar bem visível por trailers e entrevistas divulgadas, donde a história se encaminha face ao que se sabe de Sonic Adventure 2, diria que as surpresas são mais ao nível da sua execução e não tanto na sua inclusão. E o mesmo vale para as cenas pós-créditos. Talvez para os mais desatentos, as revelações e surpresas, durante e após terminar, tenham um impacto maior, mas para um fã, já sabe para o que vai. Até certo ponto, o segundo conseguiu ter mais impacto, numa altura em que não se sabia do “até que ponto é que vão buscar X ou Y dos jogos”. Aberta essa porta, como referi no início, este terceiro tornou-se numa tela em branco de ideias.

Sonic (Ben Schwartz), Knuckles (Idris Elba), Tails (Colleen O’Shaughnessey, James Marsden as Tom and Tika Sumpter as Maddie in Sonic the Hedgehog 3 from Paramount Pictures and Sega of America, Inc.

Dito isto, claro que foi emocionante e gratificante esperar tanto tempo para ver, já em adulto, coisas que apenas podia sonhar em criança, bem vivo no ecrã, em todo o seu esplendor. Queria ser mais explicito e concreto, mas por respeito óbvio a quem não viu, guardo o suspense. Diria apenas que acho impossível que alguém que tenha o mínimo de apego não fique em êxtase quando tudo culmina na resolução final. Independentemente de todos estes rasgados elogios, de alguém que decidiu largar o modo crítico e ligar o modo fã desta vez, não posso descurar que isto é, afinal, um filme que tem em vista um público muito maior. Nesse aspecto entretém e é divertido, indo até mais longe em momentos mais infantis que os anteriores, ainda que para mim, como fã e adulto, isso possa ser descartável.

Reforço, que não esqueço a quem este filme é dirigido, e assim sendo, cumpre bem o seu papel. Por outras palavras, como filme é mais uma daquelas longa-metragens, da linha B, que mescla comédia com aventura, onde o bem vence sempre o mal, e aí é, no máximo, um aceitável para os standards atuais. Mas como bem enfatizei desde o início, eu sou um fã enorme da mascote desde que me lembro, e saí mais do que satisfeito, tendo um sorriso no rosto do início ao fim, que mais podia eu pedir? Podia a minha opinião ser outra sequer?

Em síntese: vale tremendamente para os fãs uma ida ao cinema, é mais do que obrigatório, e idem para as famílias e o público casual, que ficou agradado com os dois últimos. Mas a todos os outros para quem Sonic é só mais um personagem animado genérico e/ou não compreendem a dimensão, face aos jogos, do aqui é apresentado e adaptado, respondo devolvendo uma pergunta: porque sequer iriam cogitar ver este filme? Sonic 3, é por isso, um filme só para quem já foi conquistado nos últimos dois, e sobretudo, uma obra de fãs para fãs.

8/10

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