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Sol Posto: Um serão com os Capitão Fausto

by Tiago Marques

“Sol Posto” é o novo filme-concerto dos Capitão Fausto com realização de Ricardo Oliveira. O quinteto lisboeta alia-se mais uma vez ao colaborador de longa data para trazer ao grande ecrã um evento único no que toca ao cinema nacional: 70 salas de cinema, de Norte a Sul do país, vão exibir “Sol Posto” uma única vez, dia 20 de Novembro às 20 horas. 

Este filme-concerto apresenta-se como uma “reflexão sobre a passagem do tempo e sobre a sua perceção e como enfrentamos um período de ponderação em vez de ação” e nasce de uma necessidade da banda poder conectar-se com o seu público nesta altura tão particular que vivemos. As restrições e limitações geram criatividade ao forçar-nos a encontrar novas soluções para os nossos problemas e, com este filme, os Capitão Fausto conseguem (re)criar uma certa intimidade com o espectador através da envolvência com o ambiente que os rodeia, a banda e a música que interpretam.

O concerto foi gravado em Melides em Setembro deste ano e é nesta freguesia no concelho de Grândola que encontramos os palcos deste concerto: um antigo estaleiro abandonado, o terraço de uma casa inacabada e a própria floresta alentejana cujos pinheiros rodeiam os músicos enquanto eles tocam pela noite dentro.

As atuações dividem-se em três momentos do dia, começando no entardecer que se transforma na noite e que, por sua vez, dá lugar à alvorada da manhã seguinte.

Utilizando a luz natural, a fotografia deste filme cria imagens quentes e acolhedoras ao recortar as silhuetas dos músicos contra o sol que se põe no horizonte, convidando o espectador a juntar-se ao grupo nesta viagem em que estão prestes a embarcar.

A luz é, aliás, um elemento fulcral do filme. Quer seja pela importância que a luz do sol tem ao iluminar os artistas, pelos faróis dos carros e máquinas de construção que alumiam a porção noturna do concerto ou como o contraste entre o claro e o escuro altera a nossa perceção do que nos é apresentado.

Para reforçar este tema temos também o uso de obras de arte do pintor William Turner e do escultor Robert Melee. Turner foi um artista da era romântica conhecido pelas suas colorações expressivas, pelo fascínio com a representação de paisagens turbulentas (nomeadamente o mar e as tempestades) e pelos jogos de luz que empregava ao ilustrar fenómenos naturais como a chuva, o nevoeiro e a luz solar.

Já Robert Melee utiliza o estilo camp nas suas peças destacando-se pela subversão dos clássicos valores de beleza e por uma sensibilidade especial pelo “mau gosto”. Em certos momentos temos algumas das suas esculturas envoltas em sombras, com um aspeto indistinto e até mesmo uma forma grotesca, mas que se revelam como uma amálgama de cores berrantes ao serem banhadas pelos primeiros raios de sol da manhã.

Quanto às canções interpretadas, a setlist percorre todo o repertório da banda, focando-se maioritariamente nos dois últimos álbuns (A Invenção do Dia Claro, 2019 e Capitão Fausto Têm os Dias Contados, 2016). Em “Sol Posto” somos também brindados com novos arranjos de algumas das músicas mais conhecidas bem como arrojados interlúdios instrumentais executados com uma clareza característica de uma banda experiente que, nesta fase mais madura, refina agora o seu som.

Este filme é uma experiência excecional tanto para seguidores assíduos dos Capitão Fausto como para novos ouvintes. Eu próprio não me considerava um fã da banda, mas sinto que fiquei cativado e com vontade de ouvir mais.

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