Na actualidade cinematográfica, muitas são as pessoas que se queixam de uma industrialização abusiva dos filmes, de eles serem criados com apenas a intensão de vender. Muitas são as vozes que afirmam que “os filmes hoje em dia são todos iguais” e que “não têm uma voz própria” e não são “genuínos”.
Pois bem, para quem procura genuinidade nos seus filmes, “Sing Sing” chegou para ser o vosso salvador.
“Sing Sing” coloca Colman Domingo no centro da ação da história, história essa que se passa dentro de uma instituição prisional onde reclusos encontram numa comunidade teatral uma forma de escapar à sua realidade e poderem-se expressar livremente, encontrando-se a si mesmos nesse meio artístico. A melhor parte de tudo? À parte de Domingo, todos os outros atores são reclusos na vida real, oferecendo uma camada tremendamente realista ao filme.

Este é o primeiro grande filme do realizador Greg Kwedar e ele não conseguia ter criado um filme mais puro e com coração que “Sing Sing”. Desde o primeiro frame que percebemos a paixão de todas as pessoas envolvidas no projecto e para a história que está a ser contada tal como sua importância num mundo cada vez mais sombrio e cínico.
“Sing Sing” foge de qualquer artificialidade a todo o custo. Cada actor interpreta uma versão de si mesmo, despidos de qualquer pudor. Homens de barba rija – como se costuma dizer – que mostram todos os seus defeitos sem receios de serem ridicularizados.
E tudo isto somente é possível com um excelente ator principal que consiga navegar estas águas de forma exímia. E Domingo fá-lo sem qualquer dificuldade, aceita o desafio e encaixando nesta personagem como uma luva. Colman oferece uma personagem sensível e honesta, apesar de não se abster de um certo ciúme e sentido de superioridade aquando da chegada de Clarence Maclin, o novo membro do grupo de teatro e que não parece que se encaixa naquele meio a 100%.

Se Colman Domingo é a vela que dirige com segurança este barco, Maclin é a âncora que confere ao filme todo o realismo que necessita. A conseguir acompanhar Domingo a cada passo que o outro dá, Maclin é uma personagem dura e fria, a antítese do Divine de Domingo, mas que vai percebendo, com relutância, que o grupo de teatro é o melhor meio para estabelecer amizades, entrar numa comunidade onde se sente feliz e descobrir um lado em si que ele próprio não sabia que existia.
Domingo e Maclin fazem uma parelha imperfeitamente perfeita e conferem ao filme toda a energia que o mesmo necessita para nos fazer relacionar com as personagens.
“Sing Sing” afasta-se de toda a artificialidade de Hollywood, gravando com pessoas reais a fazerem-se de si mesmas, sobre uma história verídica que apenas tem uma mensagem muito simples para transmitir – “arte, seja ela qual for, serve para melhorar a vida de de qualquer pessoa”
Devido ao ambiente onde se passa, poderia facilmente tornar-se num filme frio e demasiado cru. Porém, cada momento de “Sing Sing” é doce, é confiante na história que está a contar e torna-se num projecto que altera completamente a forma como encaramos o nosso dia-a-dia.