Rocketman é a nova biopic do cinema, desta vez inspirada na vida pessoal e profissional de Elton John. É realizado por Dexter Fletcher e protagonizado por Taron Egerton que surpreende nesta interpretação. Pode-se dizer ainda que para além de uma biopic, este filme é uma fantasia musical.
O filme mostra-nos como o timido Reginald Dwight se transforma no imortal Elton John (Taron Egerton) mas de uma maneira original, visto que este conta a história a partir da reabilitação após “chegar ao fundo do poço” tornando logo desde de inicio uma personagem vulnerável e frágil. É interessante perceber que o filme começa com a personagem em negação e como o facto de ele ir contando a sua história o vai ajudando a aceitar o estado em que está.
O filme mostra sem rodeios todos os vícios de John, desde drogas, álcool e mesmo o assumir da sexualidade e aí salta o talento de Egerton, que não impôs limites a si próprio para recriar o ícone da musica o mais fiel possível! Egerton recria na perfeição os gestos, a maneira de andar e até o próprio riso e ainda dá cartas nos momentos musicais (e não são poucos).
Taron transforma-se mesmo da cabeça aos pés no Elton e estamos perante uma representação digna de um Óscar, visto que ao vermos este ator em filmes como Robin Hood ou até mesmo Kingsman, embora já reconheçamos potencial nestes, conseguimos ficar estupefactos em Rocketman.
O filme nunca tira o foco de Elton, ele é o centro das atenções e tudo o que vemos é a sua interpretação de cada situação e a sua opinião das coisas, fazendo com que todos os outros actores nunca lhe roubem o protagonismo, embora também tenham a sua dose de brilhantismo neste filme.
Sim, sentimos que algumas das personagens poderiam ser melhor explicadas, exemplo disso são as constantes mudanças de opiniões da sua mãe, ficamos mesmo sem perceber se aconteceu algo para a sua progenitora comportar como tal com Elton ou se realmente fazia mesmo parte da sua personalidade, mas mesmo assim temos de tirar o chapéu a Bryce Dallas Howard.
Incrível também, e apesar de ser um personagem secundário, é Jamie Bell, que interpreta Bernie, o melhor amigo de Elton e quem escreve as letras das músicas do mesmo. Este ator destaca-se sempre que tem uma cena com Taron, fazendo com que os dois passem o sentimento de uma amizade muito bonita que ia muito para além do trabalho, eles tornaram-se mesmo amigos para a vida mesmo depois de tudo o que passaram.
De referir ainda a interpretação de Richard Madden que interpreta o agente John Reid, o mesmo agente que aparece em Bohemian Rhapsody, interpretado pelo seu colega de Game of Thrones, Aiden Gillen. Ele acaba por ser aqui quase como o vilão desta história, só se importando com o dinheiro e fama de Elton, como vamos vendo ao longo do filme.
Uma das grandes surpresas deste filme é o facto de estarmos perante uma espécie de musical misturado com fantasia, o que torna logo o filme diferente de algumas biopic’s que conhecemos.
Sem ordem cronológica, as musicas são interpretadas de maneira inteligente, visto estarem sempre ligadas a uma situação especifica desde desilusões amorosas aos momentos épicos, incluindo as discussões familiares. Mas ao mesmo tempo que temos essas músicas a ajudarem na transmissão dos sentimentos que Elton está a sentir, temos também muita fantasia/surrealismo à mistura, o que faz com que sintamos que não sabemos bem quando começa e acaba o “sonho”, por assim dizer.
Ainda assim, é raro o momento em que conseguimos ouvir uma música do início ao fim e mesmo a nível da história, vamos perdendo-nos um pouco ao longo da cronologia. Inclusive no final gostávamos de ter visto algo a remeter para o marido de Elton.
O ponto mais negativo a apontar a Rocketman acaba por ser quando este se torna mais sério, parece que a magia se perde um pouco no último acto, onde Elton John se tenta reencontrar consigo próprio longe dos seus vícios, mas este não estraga o filme, apenas parece que de repente estamos num filme completamente diferente nada comparável à viagem alucinante que vínhamos a assistir. Isso pode-se dever à própria vida de Elton se ter “endireitado” de certa maneira nessa parte de Rocketman, mas ficamos na mesma com mixed feelings.
Não podemos deixar de parte a realização. Quando este filme foi anunciado, com o aval e participação do próprio Elton John na produção deste, pensávamos que o filme iria “beber” do mesmo formato que Bohemian Rhapsody visto que Dexter Fletcher participou no filme sobre os Queen mas nunca foi creditado. Estávamos redondamente enganados. Em Rocketman, Fletcher consegue utilizar outros métodos bem mais originais de mostrar os momentos marcantes do excêntrico artista.
Claro que nem Rocketman escapa à comparação de Bohemian. Para além de falarem sobre um cantor icónico, com os seus vícios e a sua orientação sexual e ainda para mais, ambos excêntricos, puxam tanto pela vida pessoal e profissional dos cantores, têm inclusivé a mesma personagem mas mesmo assim, conseguem ser filmes completamente distintos um do outro.
Rocketman é assim uma imagem fiel de Elton John (e para isso contribuiu o facto de este ter participado em todo o desenvolvimento do filme), excêntrico, louco divertido e completamente afastado da realidade e para dar mais força a isto tudo a espectacular indumentária do artista (indumentária essa super fiel à realidade ao longo do filme). Ou seja, uma autêntica festa que ficamos com pena quando esta acaba!