Se fosse vivo, Robin Williams teria feito hoje 70 anos. Neste artigo, celebro o legado de um homem que, de sorriso rasgado no ecrã, nunca desistiu de lutar pela alegria do público. Ao entrar nas nossas casas, ensinou-nos a procurar paz de espírito na poesia, nos detalhes bonitos da vida; deu-nos a conhecer que o amor pelos filhos não conhece fronteiras e, para rematar, ensinou-nos que, para grandes males, grandes gargalhadas.
“Aladdin” (1992)
“Aladdin” tem sérias hipóteses de ser considerado um dos maiores filmes de animação de sempre da Disney. E, em parte, isso deve-se à decisão de contratar Robin Williams para dar voz a um Génio da lâmpada.
Para mim, é um dos trabalhos mais hilariantes e inspiradores do ator. Williams encontrou o ponto subtil de conseguir entreter crianças e adultos de uma só vez, com piadas que atingem frequentemente ambos os públicos em simultâneo.
Dada a ajuda de animadores, cujos pulsos devem ter ficado terrivelmente doridos para captar a sua energia, o ator fez do Génio um personagem que roubava cenários. E a Disney sabia-o: ofereceram a Williams um Picasso pelos seus esforços num filme onde foi pago à escala, e quando chegou a altura da sequela, as pontes que os separaram foram remendadas e o ator regressou ao papel.
Genial.
“Mrs. Doubtfire” (1993)
O que fará um pai para passar mais tempo com os seus filhos? Daniel Hillard (Robin Williams) não é um pai como os outros. Quando descobre que a ex-mulher (Sally Field) precisa de uma governanta que a ajude com os filhos, candidata-se ao trabalho. Com o seu disfarce irrepreensível, Daniel transforma-se na melhor ama do mundo.
Este é um dos filmes que mais me fazem rir na vida. Revê-lo é um conforto. É uma obra perfeita para vermos em qualquer altura, sozinhos ou em família. Tem a dose certa de drama e comédia. Com uma performance tocante e alegre, Williams fez com que este filme se tornasse um clássico.
Gargalhadas garantidas é o que prometo.
“Good Will Hunting” (1997)
Depois de duas nomeações, Robins Williams acabou por arrecadar o Óscar num ano competitivo – pela sua participação no aclamado filme de Gus Van Sant, cujo argumento apontou os holofotes para Matt Damon e Ben Affleck.
E, de forma preponderante, é difícil apontar uma outra performance mais merecedora do reconhecimento da Academia, visto que é uma combinação de todas as forças do ator. Williams interpreta Dr. Sean Maguire, o terapeuta doce que, a mando de um amigo (Stellan Skarsgard), concorda em ajudar um jovem com capacidades invulgares no campo das matemáticas mas que vive no seio da marginalidade.
Neste papel, Robin Williams oferece alguns vislumbres da sua proeza cómica, tornando Maguire um homem genuinamente engraçado. Mas, crucialmente, é Maguire, em vez de Williams, que nos faz rir, e o espectáculo é subcutado com a melancolia e raiva silenciosa de um homem privado da pessoa que mais amava no mundo e que está ossificado desde então. Mas o reconhecimento de um espírito afável na sua nova carga faz sobressair o calor de coração aberto do homem que foi, e mesmo quando a escrita se opõe a ser conveniente e a dar palmadinhas, Williams fundamenta-o num papel totalmente realizado e complexo (“Não sabes nada sobre a perda real, porque isso só ocorre quando amaste algo mais do que amas a ti próprio”).
As cenas com Damon são o coração, a espinha e a alma do filme, e o Óscar não poderia ter sido entregue a outra pessoa.
“World’s Greatest Dad” (2009)
Dadas as circunstâncias do falecimento de Williams, demorei algum tempo até decidir ver “World’s Greatest Dad”.
Com a realização de Bobcat Goldthwait, é uma comédia dura e negra, sobre um professor/romancista frustrado (Williams) e o seu filho desagradável e obcecado pelo sexo. Certo dia, o filho acaba por falecer de uma forma “humilhante”, e perante a situação, Clayton decide criar um bilhete de suicídio para evitar constrangimentos e embaraços entre a família e conhecidos. Contudo, o texto da carta acaba por espalhar-se, e Kyle, o miúdo que antes era considerado idiota, passa a ídolo póstumo do colégio. Perante este cenário, Lance não deixa escapar a oportunidade para revitalizar a carreira de autor.
O enviesamento selvagem da cultura de santificação do filme é agudo, se bem que ainda mais desconfortável hoje em dia, mas é Williams que o impede de escorregar em pura misantropia. Tão contido e tonificado como sempre foi, ele interpreta um homem de multidões. Não obstante o enredo até ande de mão dada com a triste coincidência ao redor do ator, este trabalho deveria servir de monumento aos seus talentos.
“Dead Poets Society” (1989)
Houve filmes inspiradores em torno da arte de ensinar antes de ‘Dead Poets Society’, e houve muitos outros desde então, mas poucos foram tão autênticos como a longa-metragem de Peter Weir.
O argumento de Tom Schulman exerceu um destaque notável, ao captar aquele momento na adolescência em que os sonhos artísticos e as necessidades pragmáticas da educação e da vida parecem ser impulsos irreconciliáveis. Para os estudantes da Academia Welton nos anos 50, o novo professor de inglês, John Keating, abre a porta a filosofias e possibilidades que nunca tinham considerado ou não tinham tido a coragem de explorar.
Numa das abordagens mais emocionantes de Williams (foi nomeado ao Óscar pelo papel) ele foi o professor e pai que todos desejávamos ter – alguém que desafiou abertamente a convenção, e que abraçou a importância do espírito individual. Não há nada de particularmente novo nesta mensagem, e o filme em si não abala as suas limitações de género, mas Williams é a alma do filme.
“Nós não lemos e escrevemos poesia porque é giro. Lemos e escrevemos poesia porque somos membros da raça humana. E a raça humana está repleta de paixão. E a medicina, o direito, os negócios, a engenharia, são atividades nobres e necessárias para sustentar a vida. Mas a poesia, a beleza, o romance, o amor, é para isto que nos mantemos vivos”, diz John Keating.