Ao longo de 97 edições dos Óscares apenas 10 mulheres foram nomeadas ao Óscar de Melhor Realização, sendo que 7 delas já no século XXI. E dessas, 5 apenas nos últimos 5 anos. No século XX, apenas Lina Wertmüller por “Seven Beauties” em 1977 e Jane Campion por “The Piano” em 1994 concorreram pela realização dos seus filmes.

Realizadoras como Agnès Varda com “Cleo de 5 à 7” (1963), Chantal Akerman com “Jeanne Dielman, 23, quai du commerce, 1080 Bruxelles” (1978), Mira Nair com “Salaam Bombay” (1989) e Kimberly Peirce com “Boys Don’t Cry” (2000), são algumas das mulheres que ficariam muito bem representadas com nomeações ao Óscar.
Neste artigo, o foco recai no século XXI, destacando realizadoras que teriam hipóteses e mérito em serem nomeadas a Melhor Realização. As pontuações no IMDb servem apenas para ilustrar o acolhimento do público em comparação com os nomeados da categoria no respetivo ano, tornando algumas escolhas mais naturais ou até mesmo óbvias, e outras menos prováveis.
2001
Potencial Nomeada:
Mary Harron, “American Psycho | Psicopata Americano” (7,6 IMDb)
Potencial Omitido:
Steven Soderbergh, “Erin Brokovich” (7,3 IMDb)
Um dos maiores filmes de culto das últimas décadas sem uma única nomeação aos Óscares, “American Psycho” foi vítima de várias grandes injustiças em 2001, uma delas a da potencial nomeação de Mary Harron a Melhor Realização, que à semelhança de Christian Bale como Melhor Ator, ficou de mãos a abanar. Os Óscares entretanto mudaram e hoje em dia nomeações como a de Coralie Fargeat por “The Substance” mostram a grande evolução do corpo de votantes nos últimos anos.
2004
Sofia Coppola, “Lost in Translation | O Amor é um Lugar Estranho”
Terceira Mulher Nomeada ao Óscar de Melhor Realização
2007
Potencial Nomeada:
Susanne Bier, “After the Wedding | Depois do Casamento” (7,7 IMDb)
Nomeado ao Óscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira
Potencial Omitido:
Stephen Frears, “The Queen | A Rainha” (7,3 IMDb)
Depois ter visto o seu filme “Brødre” ficar de fora da escolha do comité dinamarquês para o Óscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira em 2005, numa injusta decisão muito criticada na altura, Susanne Bier viu o seu filme seguinte “After the Wedding” selecionado e nomeado na categoria. Seria merecedora de uma nomeação a Melhor Realização, bem como o eventual vencedor de Filme em Língua Estrangeira, Florian Henckel von Donnersmarck, por “The Lives of Others”. Bier viria a vencer poucos anos mais tarde com “In a Better World”.
2010
Kathryn Bigelow, “The Hurt Locker | Estado de Guerra”
Primeira Mulher Vencedora do Óscar de Melhor Realização

2010
Potencial Nomeada:
Agnès Varda, “Les plages d’Agnès | As Praias de Agnès” (8,0 IMDb)
Potencial Omitido:
Jason Reitman, “Up in the Air | Nas Nuvens” (7,4 IMDb)
Se a falta de filmes de animação nas categorias principais é grande, então a de documentários é ainda maior, uma vez que nenhum documentário foi alguma vez nomeado aos Óscares de Melhor Filme ou Melhor Realização, desde que a categoria de Melhor Documentário foi criada em 1941. Antes disso apenas “Chang: A Drama in the Wilderness” foi nomeado na primeira edição à categoria de Unique and Artistic Picture, que entretanto foi descontinuada. Mas se alguém poderia ter conseguido o feito seria sem sombra de dúvidas a veterana Agnès Varda, com o adorável “Les plages d’Agnès”, uma introspeção da própria sobre a sua vida, as suas obras e as suas inspirações. Apresentado em Veneza, Varda chegou a ser nomeada aos Directors Guild Awards na categoria de Melhor Realização Documental. A realizadora recebeu um Óscar honorário em 2018, ano em que foi igualmente nomeada pela primeira vez, na categoria de Melhor Documentário por “Visages villages”.
2011
Potencial Nomeada:
Susanne Bier, “In a Better World | Num Mundo Melhor” (7,6 IMDb)
Vencedor do Óscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira
Potencial Omitido:
Ethan Coen & Joel Coen, “True Grit | Indomável” (7,5 IMDb)
Uma das poucas realizadoras a ter mais do que um filme nomeado ao Óscar de Melhor Filme Internacional, Susanne Bier venceu a categoria com “In a Better World”. A probabilidade de substituir algum dos nomeados desse ano em Melhor Realização era ínfima, mas se nos seguirmos pelo IMDb teria caído no “True Grit” dos irmãos Coen, nomeado a 10 Óscares sem ganhar nenhum. Hoje em dia, dados os esforços da Academia pela diversidade e uma maior presença de votantes internacionais, a probabilidade de Bier ter uma nomeação seria bem maior.

2012
Potencial Nomeada:
Lynne Ramsay, “We Need to Talk About Kevin | Temos de Falar Sobre Kevin” (7,5 IMDb)
Potencial Omitido:
Alexander Payne, “The Descendants | Os Descendentes” (7,3 IMDb)
Ramsay é outra veterana que arrebatou a temporada dos críticos desde a estreia do filme em Cannes e que prometia chegar às nomeações, sobretudo para Tilda Swinton em Melhor Atriz Principal, num dos grandes papéis da sua carreira. Mas o filme, um olhar cru e feroz sobre a educação nos EUA, acabou por ficar totalmente de fora, numa das grandes injustiças de 2012.
2015
Potencial Nomeada:
Laura Poitras, “Citizenfour” (8,1 IMDb)
Vencedor do Óscar de Melhor Documentário
Potencial Omitido:
Bennett Miller, “Foxcatcher” (7,0 IMDb)
À época, um dos documentários mais relevantes da história americana desde o blockbuster “Fahrenheit 9/11” (2004, de Michael Moore), “Citizenfour”, sobre a jornada do delator da NSA Edward Snowden, tinha tudo para conseguir ir além da categoria de Melhor Documentário. Aspirando mesmo a uma alusiva nomeação a Melhor Filme. Desde então, nenhum outro documentário esteve tão perto. Por sua vez, Laura Poitras voltaria a ser nomeada pelo documentário “All the Beauty and the Bloodshed” em 2023.

2018
Greta Gerwig, “Lady Bird”
Quinta Mulher Nomeada ao Óscar de Melhor Realização
2019
Potencial Nomeada:
Nadine Labaki, “Capharnaüm | Cafarnaum” (8,4 IMDb)
Nomeado ao Óscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira
Potencial Omitido:
Adam McKay, “Vice” (7,2 IMDb)
Presente no top #250 do IMDb, “Capharnaüm” é sem sombra de dúvidas um dos melhores filmes de sempre do Médio Oriente. Vencedora do Prémio do Júri no Festival de Cannes, a obra de Nadine Labaki, premiada anteriormente por filmes como “Caramel” e “Et maintenant on va où?”, tem vindo a ser descoberta por uma audiência cada vez maior desde a sua passagem pelos Óscares, onde infelizmente só foi nomeada a Melhor Filme em Língua Estrangeira.
2021
Chloé Zhao, “Nomadland | Sobreviver na América”
Segunda Mulher Vencedora do Óscar de Melhor Realização
2021
Emerald Fennell, “Promising Young Woman | Uma Miúda com Potencial”
Sétima Mulher Nomeada ao Óscar de Melhor Realização
2021
Potencial Nomeada:
Jasmila Zbanic, “Quo Vadis, Aida?” (8,0 IMDb)
Nomeado ao Óscar de Melhor Filme Internacional
Potencial Omitido:
David Fincher, “Mank” (6,8 IMDb)
À semelhança de “Capernaum”, “Quo Vadis, Aida?” é um daqueles filmes internacionais a que a Academia deveria ter prestado mais atenção. Candidato ao Leão de Ouro no Festival de Veneza (perdeu para o eventual vencedor do Óscar de Melhor Filme “Nomadland”), venceu 3 European Film Awards incluindo Melhor Filme e Melhor Realização, para além de Jasmila Zbanic ter sido nomeada ao BAFTA de Melhor Realização. Caso tivesse conseguido a nomeação ao Óscar, seria o primeiro ano em que a Academia teria 3 mulheres nomeadas na categoria, junto de Chloé Zhao (a vencedora) e Emerald Fennell. Para Zbanic entrar na categoria, se nos seguirmos unicamente pela recepção do público, quem ficaria de fora seria o mestre David Fincher, cujo “Mank” obteve 10 nomeações, mas no final acabou por conquistar apenas 2.

2022
Jane Campion, “The Power of the Dog | O Poder do Cão”
Terceira Mulher Vencedora do Óscar de Melhor Realização
2022
Potencial Nomeada:
Sian Heder, “CODA | No Ritmo do Coração” (8,0 IMDb)
Vencedor do Óscar de Melhor Filme
Potencial Omitido:
Kenneth Branagh, “Belfast” (7,2 IMDb)
Até 2022 apenas 5 filmes venceram o Óscar de Melhor Filme sem uma nomeação a Melhor Realização, foram eles “Wings” (1929, de William A. Wellman), “Grand Hotel” (1932, de Edmund Goulding), “Driving Miss Daisy” (1990, de Bruce Beresford), “Argo” (2013, de Ben Affleck) e “Green Book” (2019, de Peter Farrelly). “CODA” tornou-se no sexto, mas curiosamente quem recebeu o Óscar de Melhor Realização nesse ano foi uma outra mulher, Jane Campion, a única até hoje nomeada a dois Óscares de Realização (1994, “The Piano”). A obra de Sian Heder, remake do filme francês “La famille Bélier” (2014, de Éric Lartigau), começou o seu percurso no Festival de Sundance conquistando 4 grandes prémios, seguindo-se uma estreia na Apple TV+ em Agosto e mantendo-se na conversa até à altura das suas 3 nomeações aos Óscares – Melhor Filme, Melhor Ator Secundário (Troy Kotsur) e Melhor Argumento Adaptado. Até ao momento nada fora do normal, não fosse depois na grande noite conquistar as 3 categorias a que estava nomeado, o que em retrospetiva faz pensar no facto de não ter sido nomeado a Melhor Realização. Se mais votantes o tivessem visto antes das nomeações, a probabilidade de tomar o lugar de Kenneth Branagh seria maior, bem como estar presente em categorias como Melhor Atriz Secundária (Marlee Matlin) e Melhor Canção Original (“Beyond the Shore”).

2024
Justine Triet, “Anatomie d’une chute | Anatomia de uma Queda”
Nona Mulher Nomeada ao Óscar de Melhor Realização
2025
Coralie Fargeat, “The Substance | A Substância”
Décima Mulher Nomeada ao Óscar de Melhor Realização
A cerimónia dos Óscares decorre na noite de 2 para 3 de Março com transmissão em direto na RTP1 e Disney+.