Realizado por Steven Spielberg e inspirado no livro de 2011 de Ernest Cline, Jogador nº1 (Ready Player One) transporta-nos para um mundo virtual chamado OASIS onde os únicos limites são a nossa imaginação. É um dos filmes mais aguardados do ano.
Tudo começa no futuro, mais precisamente em 2045, quando conhecemos um mundo virtual cheio de possibilidades chamado OASIS. O criador, fã de jogos e nerd James Halliday (Mark Rylance), aquando da sua morte, deixou um desafio aos jogadores. Há três chaves escondidas algures neste mundo e quem as encontrar terá acesso a um easter egg que fará do vencedor o próximo dono do OASIS, herdando a fortuna do génio. Parece fácil, não é?
Mas se há coisa que vamos aprender com Halliday é que é preciso ir além do que achamos óbvio. É preciso ter em conta as pistas que ele dá, saber interpretar, e acima de tudo, conhecer a história dele.
É em Columbus, Ohio (que neste ano ainda é a cidade terrestre de crescimento mais rápido), que conhecemos o orfão Wade Watts(Tye Sheridan). Ele vive na torre e, à semelhança de todos os cidadãos, passa a vida na sua caravana com os óculos de realidade virtual colocados porque não há mais nenhum sítio para onde ir. Excepto o OASIS, onde tudo é novo e fantástico. Wade descreve-o como “O único sítio onde sinto que significo algo. Um mundo onde os limites da realidade são os da nossa imaginação.”, o que parece o cenário ideal para fugir à realidade.
Lá, as pessoas podem ser e fazer o que quiserem. Podem escolher os seus avatares e personalizá-los a nível de género e aparência e até ter nicknames. Wade é conhecido como Parzival e o seu avatar tem todo o look de um personagem de Final Fantasy. O seu melhor amigo lá, Aech (Lena Waithe) tem um avatar de um homem alto e musculado que domina o jogo Deathmatch, onde consegue a maior parte das moedas para manter a sua oficina. É um jogador conhecido e um dos melhores mecânicos no OASIS.
Os dois juntos fazem parte dos gunters (egg+hunters), nome que é dado aqueles que procuram o ovo… Não fossem as catchphrases dos dois amigos “O primeiro a chegar à chave” e “O primeiro a chegar ao ovo!”. A eles juntam-se mais dois avatares: Sho (Philip Zhao) e Daito (Win Morisaki) que os acompanharão ao longo do desafio.
Para conseguir decifrar as pistas de Halliday (cujo avatar se chama Anorak e se assemelha ao feiticeiro Merlin) é preciso ir mais fundo do que o que está à vista. Como Wade não tem muita coisa a que se agarrar na vida real, dedicou o seu tempo a conhecer melhor o génio e os acontecimentos da vida do mesmo. Há, inclusive, uma biblioteca onde os jogadores têm acesso às memórias de Halliday. É lá que passa a maior parte do seu tempo.
É no primeiro desafio, uma corrida de carros para chegar à primeira chave – a de bronze – que Parzival conhece a badass Art3mis (Olivia Cooke), que ao longo do filme se vai tornando mais uma aliada, e não só.
E claro, ser o próximo proprietário do OASIS é uma ideia que agrada a todos. Como tal, são muitos os que competem. É possível observar na corrida o DeLorean (carro do Regresso ao Futuro) cujo dono é Parzival, o Batmobile, o Ryu (Street Fighter) e a mota vermelha de Kaneda (do filme Akira) que pertence a Art3mis. Todos competem pelo mesmo objetivo, enfrentando obstáculos como dinossauros e até mesmo o King Kong antes de chegar à meta. Tais dificuldades fazem com que muitos dos jogadores fiquem pelo caminho.
E sempre que um dos avatares “morre”, há uma quantidade de moedas que dão lugar ao corpo e que podem ser recolhidas por outros jogadores para aumentar o nível de combustível, neste caso. O que acontece é que ao “morrerem”, perdem tudo e têm de voltar ao início do jogo. Isto torna a caça ao ovo ainda mais aliciante.
Também quando há muito dinheiro envolvido, existem aqueles que farão de tudo para alcançar o objetivo pelas razões erradas. Neste caso, apelidam-se de IOI e dedicam-se a estudar todos os detalhes da vida de Halliday. Como tal, acham-se os mais competentes para chegar às chaves em primeiro lugar.
Quem gere a corporação é Nolan Sorrento (Ben Mendelsohn), o vilão do filme. O seu avatar é um homem corpulento, que nada tem a ver com a aparência real do mesmo. Aliás, toda esta chamada de atenção de os avatares poderem não corresponder à realidade é feita várias vezes ao longo do filme.
E tal como o objetivo do desafio de Halliday é encontrar as chaves que levam ao Easter Egg, também o filme está cheio deles. São várias as referências (especialmente dos anos 80) que vamos apanhando ao longo de mais de duas horas. Como por exemplo “Star Wars”, “Piratas das Caraíbas”, “Godzilla”, “Dragon Ball Z”, “Não Digas Nada”, “Chucky”, “Superhomem”, entre tantas outras. Deixo esse desafio para vocês se entreterem a encontrar o resto, o que ainda requer alguma atenção.
Steven Spielberg provou que ainda consegue fazer bons filmes e que o bom filho a casa torna, 14 anos depois. Neste caso, à Warner Bros, onde o seu último filme foi o “Inteligência Artificial”. Entretanto já levou “A Ponte dos Espiões” e “The Post” aos Óscares e agora presta homenagem da melhor maneira aos anos 80. A banda sonora, composta por Alan Silvestri (compositor de Regresso ao Futuro), faz-nos viajar pelo OASIS e vamos ficando nostálgicos quando pelo meio ouvimos Billy Idol, Wham!, Blondie, Def Leppard, entre outros ícones musicais.
O OASIS e tudo o que é efeitos visuais do filme está cativante. Deixa-nos agarrados ao ecrã entretidos com o que estamos a ver, seja nos movimentos mais rápidos como a corrida de carros ou as lutas, nos desafios a superar ou nas coisas mais simples como a aparência dos avatares que faz parecer mesmo que estamos dentro de um videojogo.
Apesar de não ser interativo, ao metermos os nossos óculos 3D (para quem for ver em IMAX), quase parece que acabámos de meter uns óculos de realidade virtual e estamos dentro do OASIS a seguir à risca o que os personagens principais fazem e a ajudá-los a resolver os enigmas também.
E sim, podem ser quem quiserem no OASIS desde que se lembrem sempre do que é real. Esta é a grande lição, porque como dizia James Halliday:
“Eu criei o OASIS porque nunca me senti em casa no mundo real. Não sabia como havia de me conectar com as pessoas lá. Mas foi quando me apercebi que por muito terrível e dolorosa que a realidade seja, é o único lugar onde se pode encontrar a verdadeira felicidade. Porque a realidade é real.”.