No dia 26 de Fevereiro estreou na Netflix uma das grandes apostas deste ano da plataforma de streaming – “I Am Not Okay With This”. Baseado na banda desenhada com o mesmo nome, este drama/comédia adolescente junta parte da equipa por detrás de “Stranger Things” e, à frente da câmara caras conhecidas pelas andanças de “It”.
Para quem ainda não se aventurou nesta saga de apenas 7 episódios, com 30 minutos cada, a história gira em torno de Sydney Novak (Sophia Lillis), uma adolescente tímida, reservada e anti-social que, para além de ter de lidar com traumas na família e problemas na escola, tem ainda de saber o que fazer com os recém-descobertos superpoderes.
Isto é, numa frase simples, o conceito de “I Am Not Okay With This”. Porém, a série lida com perda, saudade, parentalidade com um tom de comédia negra e sarcástica essencial, advindo da personalidade da nossa protagonista.
Até aqui, tudo bem.
À medida que ia vendo a série, era evidente as referências que a mesma fazia a outros filmes/séries imprintos na cultura pop, que não ficou claro se seria homenagem ou apenas pedir emprestado (mas isso é assunto para outro artigo). Isso e algumas falhas em termos de localização temporal dos acontecimentos estavam a colocar-me de guarda em relação à série.
Porém, o problema mais aparente revelou-se quando a série terminou. Veio como uma luva branca a dar-me chapadas no meu entusiasmo enquanto espectador. Deixou-me com um sabor amargo na boca e cravou-se como um espinho.
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(fica avisado quem se aventurar para além do tracejado)
Aquilo que mais me incomodou foi o facto de “I Am Not Okay With This” terminar a meio da história.
Vamos por partes.
Uma história, de um modo mais comum, é contada em três partes – conhecido como três actos: Introdução, onde nos são apresentadas as personagens e as suas relações entre si; Desenvolvimento, que começa com um incidente que leva o nosso protagonista numa aventura física ou psicológica; e Conclusão, o confronto final que termina a saga.
Nas séries, esta estrutura é um pouco mais esbatida, porque conta uma história mais longa. Porém, dentro de cada temporada conseguimos discernir cada um dos actos a progredir ao longo dos episódios e, no final, coloca-se a cereja no topo do bolo – um cliffhanger – para prender o espectador para voltar na temporada seguinte.
O problema é que em “I Am Not Okay With This”, esta estrutura não ocorre. Atenção que não tenho nada contra a quebra dos conceitos pré-estabelecidos, pelo contrário, apelo à mudança.
Mas esta primeira temporada de “I Am Not Okay With This” termina com o incidente. seguimos 6 episódios de introdução às personagens e às suas relações, entre encontros e desencontros típicos de um ambiente escolar, e chega-nos o último episódio em que algo acontece, algo que fará o protagonista partir para a sua aventura… E a série diz-nos “Tchau, até para o ano”.
Não termina num cliffhanger, porque não chega a contar uma história. Apenas o início de uma. Fez-nos investir tempo de vida, investir a nossa empatia com estas personagens para depois, quando algo de interessante despoletou, terminou.
A série não é má, não está mal executada, não me ofendeu sobremaneira em qualquer momento. Porém, confesso que me deixou com um sabor amargo na boca e sem saber se terá valido a pena ter gasto quase 4 horas do meu dia para depois não ter nenhum pay-off.
Isto não quer dizer que não venha a ganhar um maior apreço pela série há medida do tempo, à medida que vá vendo mais conteúdo da mesma. Porém, no momento em que estamos, a verdade é que, quando terminou, a série me levou a pensar: “Bem…. I Am Not Okay With This”.