Já todos ouvimos a expressão “so bad it´s good” (“tão mau que é bom”) no que toca a filmes. Mas, qual o factor-chave empregue que faz com que esta alternância ocorra?
Desde cedo que descobri o meu fascínio pela 7ª arte. Fosse no conforto da minha casa ou no escuro acolhedor de uma sala de cinema, fazia sempre os possíveis para ver os filmes considerados “bons”.
Porém, ao deambular pelos caminhos cibernéticos, inúmeras vezes me deparava com a expressão “so bad it´s good” em comentários a filmes. “Como assim um filme podia ser tão mau que se tornava bom?” – questionava-me eu, sem noção do que aquilo poderia significar.
Muitos desses comentários traziam sempre algumas recomendações de filmes nesta categoria e havia sempre um que era recorrente: “The Room”, realizado e protagonizado pelo infame Tommy Wiseau.
Com uma curiosidade inabalável, decidi então arregaçar as mangas e ver este filme tão recomendado. Depois de o ver, o meu olhar sobre o cinema mudou para sempre.
Como é que algo tão incompetente em quase todos os níveis poderia ser tão cativante? É quase como ver um choque frontal entre dois carros e não conseguimos desviar o olhar.
Entre argumento sem fundamento, realização amadora, interpretações hilariantes, planos e edição absurda, tudo se conjuga neste “The Room” para tornar um mau filme em algo de incrível entretenimento. De facto, pode-se dizer que é tão mau que se torna bom.
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Desde então, muitos filmes vi – uns bons, outros maus, umas obras-primas e outros que depressa me esqueci. E sempre achei divertido ver filmes maus que se tornam, num produto bom.
Muitos filmes incompetentes em vários níveis técnicos não conseguem atingir este estatuto. Só alguns (in)fortunados é que chegam a tamanho nível – como o caso de “Plan 9 from Outer Space”, “Troll 2” ou “Flash Gordon”.
Assim, no meio de incontáveis filmes que são maus, o que faz com que estes mencionados se destaquem positivamente? Existe algum Factor-X para esta reviravolta?
Pois bem, há anos que tenho vindo a questionar-me sobre isto. Depois de muito ponderar, acho que cheguei à melhor conclusão para mim. A meu ver, o que faz com que estes filmes maus se destaquem é a Paixão empregue na sua criação. Passo a explicar…
O que todos estes filmes têm em comum é o facto de existir por detrás alguém que tem a urgência de contar uma história, de fazer a sua voz ser ouvida, através do cinema. Exemplos disto é o próprio Wiseau e Ed Wood, realizadores de “The Room” e de “Plan 9…”, ambos com uma paixão imensa por esta arte e vontade de se mostrar ao Mundo – vontade esta que está bem documentada em filmes dedicados a explicar o processo de ambos, em “The Disaster Artist” e em “Ed Wood”.
Ao contrário de filmes simplesmente maus, em que ou não se nota qualquer tentativa de mostrar uma personalidade individual por detrás do projecto ou não são mais do que produtos pré-manufacturados pela máquina conhecida como Hollywood, nestes filmes “tão maus que se tornam bons” denota-se uma chama inerente de intencionalidade, de contar aquela história da melhor forma possível, mesmo que as pessoas por detrás não tenham o talento ou as capacidades para tal.
E assim, qual a lição que podemos tirar disto? Tudo o que façam, façam-no com paixão. Seja filmes, música, desenhar ou até cozinhar o vosso bolo favorito. façam-no sempre com o propósito de o fazer por gosto, por vontade.
Mesmo que não corra exactamente como planeado, consegue-se sempre notar a paixão por detrás, uma verdadeira vontade, e isso impregna um sabor especial ao produto final. Sê mais como o Tommy Wiseau ou o Ed Wood. Quiçá, até em algo onde correu tudo mal, pode vir tornar-se o teu maior sucesso.
