Este ano tem sido um corropio de acontecimentos inesperados que ficarão para a História. E um destes últimos acontecimentos mais badalados têm sido as revoltas e manifestações um pouco por todo o Mundo em favor de uma sociedade igualitária para todos os cidadãos, em especial para a comunidade negra.
Ninguém é indiferente ao que se está a passar neste momento. #BlackLivesMatter tem feito parte do vocabulário social há décadas. Porém, possivelmente nunca teve tanto alcance como este ano.
Seja com os pés no terreno ou através de apoio via digital, muitos se uniram para mudar um sistema político com uma taxa racista bastante enraizada nos seus corredores.
Mas, enquanto amantes da 7ª Arte, o que podemos fazer para ajudar? O que podemos fazer para mudarmos e incentivarmos a mudança?
Nada melhor podemos fazer senão educarmo-nos sobre o assunto. Abrir os olhos para uma nova perspectiva, novas histórias que estão e merecem serem contadas.
Em Hollywood, a voz negra foi subjugada e oprimida durante anos. Muitos dos filmes vindos da comunidade negra no anos 70 caiam na categoria de Blaxploitation. Eram filmes protagonizados por um elenco negro, feito por realizadores negros, tendo como público a comunidade negra. Apesar de uma forte comunidade fã destes filmes, nunca chegaram a ter um grande alcance para um público mais vasto.
Mais tarde, os filmes que condenavam a escravidão começaram a ganhar mais terreno e notoriedade. E, apesar de muitos serem excelentes filmes, muitas das vezes vinham de realizadores brancos, com o protagonista branco tendo a abolição da escravatura como pano de fundo da história a ser contada.
Só agora, em pleno século XXI, é que os filmes vindos de criadores negros começam a ganhar mais atenção por parte do grande público. Só agora as suas histórias começam a ser contadas e as suas vozes a serem ouvidas (no que toca a entretenimento cinematográfico).
Histórias sobre escravidão e subjugação social têm vindo a causar impacto um pouco por todo o Mundo, chegando mesmo a receber aclamação universal e arrecadar prémios de alto nível.
Histórias não apenas que ocorreram durante o século XIX – pico alto da escravidão – mas também actuais, que ocorreram nos tempos de hoje e nas ruas de agora.
Não apenas realizadores já conceituados como Spike Lee, mas também novos mestres como Jordan Peele, Ryan Coogler ou Barry Jenkins começam a estar nas bocas do Mundo e a trazer para o grande ecrã histórias tão íntimas, tão pessoais e profundamente ligadas à comunidade negra, tornando-se universais e intemporais ao mesmo tempo.
Sem nunca esquecer as vozes negras femininas, como Kasi Lemmons ou Ava DuVernay, que lutam para serem ouvidas dentro de Hollywood, tanto devido à sua cor de pele como ao seu género sexual.
Sejam filmes crus e hiper-realistas como “Fruitvale Station”, “BlacKkKlansman” ou “Selma”, ou fantasias com grande carga social como “Get Out”, “Us” ou o sucesso mundial “Black Panther”.
Sejam documentários arrepiantes como “13ª Emenda” (disponível na Netflix) ou “The African Americans: Many Rivers to Cross”, ou séries igualmente impactantes como “When They See Us” (disponível na Netflix) ou “Black-ish” – que entre gargalhadas toca em assuntos importantes como racismo, política e a cultura da comunidade negra.
As escolhas são mais que muitas, bem mais do que aquelas mencionadas acima. As histórias da comunidade negra estão a ser contadas e pedem para serem ouvidas. Devem ser ouvidas.
A melhor forma de conseguirmos perceber o que está a acontecer em nosso redor é através da educação. É ler. É ver. É ouvir. É procurarmos por informação e ganharmos uma nova perspectiva sobre o assunto.
Para melhor podermos alterar a sociedade e as nossas condutas à que compreender a posição do outro. É colocarmo-nos dentro dos seus sapatos e tentarmos dar uns passos para depressa percebermos que algo tem de mudar para conseguirmos caminhar.
Os filmes e as séries podem ajudar nessa nossa descoberta. Basta ver o entretenimento certo. Está à nossa disposição à distância de um clique. Só não vê quem não quer.