Com somente 2 temporadas, “Ramy” já se está a tornar uma série de comédia de culto que já conta com inúmeras nomeações e 4 prémios ganhos.
“Ramy” tem um objectivo muito simples – mudar mentalidades. E o todo o seu sucesso advêm de conseguir cumprir o seu objectivo de uma forma tão subtil, mas com um impacto gigante.
Apesar de gerar pouco falatório nos media e de não ser uma das séries mais lucrativas da actualidade, a verdade é que “Ramy” tem feito girar muitas cabeças de críticos e angariar uma legião de fãs cada vez mais crescente.
Porém, este artigo destina-se a quem ainda nunca ouviu falar da série, a quem já ouviu falar mas nunca viu, a quem já viu uns episódios mas não continuou e para quem já viu tudo e está à espera por mais. Basicamente, será um artigo bastante inclusivo – como a série em questão.
Sem mais demoras, aqui vos apresento 5 motivos para começarem a ver “Ramy”, o mais depressa possível:
1. Foco numa cultura/sociedade pouco explorada na indústria
Desde o início do século XXI, especialmente após o atentado de 11 de Setembro, a cultura muçulmana começou a ser retratada na indústria cinematográfica de uma forma maléfica e aterrorizadora, sendo na grande maioria das vezes os vilões da história.
“Ramy” troca-nos as voltas ao mostrar o lado mundano do islamismo, da sociedade muçulmana. Os laços de amor e pacificidade estão presentes em cada segundo do filme. Não existe “acção”. Existe sim uma dicotomia, um reflexo entre o que sabemos e o que desconhecemos, tanto sobre nós como sobre os outros.
Recentemente é que começamos a ouvir histórias sobre etnias e sociedades que, anteriormente, eram totalmente subjugadas pela elite e Hollywood. “Ramy” é um caso entre alguns que vêm surgindo que querem quebrar essa barreira e mostrar que existem histórias maravilhosas e diferentes vozes que merecem um lugar ao Sol e serem ouvidas. De certa forma, ver “Ramy” é quase como ser um apoiante de uma mudança no panorama actual.
2. Partes da série são inspiradas em realidade
“Ramy” é sobre a vida de um jovem muçulmano e as suas dúvidas existências enquanto um adulto emergente, as suas questões relativamente ao islamismo e à América e Mundo em que ele vive.
Esta história em si já é interessante. Mas acrescentemos o factor de que o escritor e mente criativa por detrás da série é o comediante Ramy Youssef e começamos logo a verificar claras semelhanças entre actor e personagem.
Não que os acontecimentos da série tenham ocorrido na vida de Youssef tal e qual como estão descritas em “Ramy”. Mas certamente que muitas das dúvidas e interrogações que a personagem faz ao longo dos episódios serão muitos pensamentos que o próprio Youssef teve/terá no dia-a-dia.
No que toca a todas as personagens, elas não são um copy paste da vida de Youssef. Existem diferenças significativas, especialmente relativamente à sua família. Porém, há uma grande excepção nesta equação – Steve Way, o actor que faz de melhor amigo do nosso protagonista é, de facto, o melhor amigo de Youssef na vida real e, de certa forma, Steve Way faz dele mesmo na série.
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© 2020 Hulu, LLC. – Photo by Craig Blankenhorn
3. A naturalidade da série
Sejamos sinceros, a língua portuguesa tem mil e uma expressões e palavras tão nossas que não são logo perceptíveis para desconhecido do nosso dialecto. Mas são essas são as expressões que enriquecem qualquer linguagem e cultura.
Em “Ramy”, somos colocados no meio de uma sociedade com as suas próprias tradições, crenças, expressões e linguagem e somos obrigados a “correr” um pouco para tentar acompanhar os diálogos das personagens e o significado de muitas coisas para as personagens.
Todas as personagens habitam este mundo de um modo natural – o que é perfeito – e não existem tradutores para o espectador. Eles falam entre si e debatem entre si de uma forma natural, cativante e dinâmica, mas um leigo sobre o mundo muçulmano (como eu sou) tem de se esforçar um pouco para ter alguma clareza sobre certas situações. Mas o esforço recompensa com um conhecimento rico e mais aprofundado sobre esta sociedade.
Outro grande motivo de naturalidade advêm do nosso protagonista e a sua posição deslocada neste mundo. O humor injetado em “Ramy” é irónico, puro, e pouco limado, como um diamante em bruto. Não há punchlines. Somente existem piadas circunstanciais bem escritas, bem colocadas e que valem ouro cada vez que surgem. Ramy Youssef despeja-se para o grande ecrã de modo tão natural que se torna palpável.
4. Crescente trama em cada episódio
Quem apenas viu os primeiros episódios não tiveram bem noção do nível profundo em que a trama se desenvolve. As relações entre as personagens vão-se desenvolvendo e desabrochando por caminhos que nem suspeitávamos.
Existem até mesmo episódios inteiros que colocam Ramy de lado e focam-se somente em desenvolver uma personagem, mostrando mais o mundo sob os seus olhos. Com este método, até mesmo personagens que não eram tão acarinhadas pelo espectador ganham uma profundidade tal que depressa ganham o nosso apreço e compaixão.
Tudo isto não repuxa por um drama clichêt e completamente rebuscado. Tudo tem uma abordagem subtil e gentil, não nos massacra com uma exposição excessiva da sua mensagem. “Ramy” é cada vez mais cativante à medida que avança, sem perder nem uma única fracção daquilo que a tornou tão especial desde o início.
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© 2020 Hulu, LLC.
5. Universalidade no individualismo
Apesar de grande parte do seu foco ser na sociedade muçulmana e como percepciona e é percepcionada hoje em dia, “Ramy” nunca deixa de parte o universalismo e os laços comuns que nos ligam uns aos outros. Seja o amor de família, a diversidade nas amizades, as dúvidas da vida ou as paixonetas de Verão – tudo isto são pontos em comum entre a vida do espectador e o imaginário de “Ramy”.
Numa coesão poética, a série faz questão de mostrar que existem pontos de discórdia entre as sociedades mas que, no fundo, somos todos os Seres Humanos que apenas querem viver neste planeta, rodeados de quem mais gostamos, tentar perceber o nosso papel no meio disto tudo e fazer o nosso melhor para que, no final, possamos encarar tudo com nostalgia e um sorriso no rosto.