Depois de sequelas e crossovers duvidosos, será que a Disney conseguiu finalmente um filme que faça justiça ao Predador de 1987?
Estávamos em Março de 2019 quando a Disney finaliza a compra da Fox, muitos falavam das possibilidades que se podiam criar, visto que agora os X-Men finalmente pertenciam aos mesmos criadores da MCU. Mas a compra também englobou outros universos, não tão badalados mas que outrora faziam as delícias dos fãs de ação, falo nomeadamente de Die Hard, Alien e Predador.
Com uma forma de revitalizar e capitalizar estes ativos que ao longo do tempo foram perdendo o brilho, muito devido a sequelas duvidosas e que davam mais prejuízo do que lucro, a Disney decidiu não arriscar uma massificação pelos cinemas, mas sim um filme que saísse diretamente nas suas plataformas digitais (Disney + e Hulu). Com esta decisão poupava-se diretamente nas ações de marketing e os lucros são única e exclusivamente da plataforma, sem ter de os dividir por distribuidoras e cinemas.
Assim é garantido que há muito mais predisposição em ver um filme que tinha tudo para correr mal no conforto do seu lar do que acartar todos os custos e tempo que provoca uma deslocação ao cinema e, claro está, depois de fracassos sucessivos, era bem provável que este Prey passasse ao lado das pessoas em plena época de blockbusters nos cinemas.
E chegamos assim à questão preponderante sobre Prey… é este filme digno da saga Predador?
A resposta é sim, Prey é um digno sucessor do filme original, que neste caso na linha temporal é uma prequela. Muito desta resposta é devido ao facto de que a Disney escolheu Dan Trachtenberg para realizador, ele que já tinha mostrado que conseguia desenvolver uma sequela digna de Cloverfield com o claustrofóbico 10 Cloverfield Lane.
Dan realizou um filme que é direto e não perde muito tempo a explicar o que está a acontecer: uma tribo indígena do século XVIII procura sobreviver a todas as ameaças de fauna e de colonizadores até que certo dia aparece um ser que coloca todos estes elementos em perigo, um predador. Quando falo o quão direto é o filme é no sentido em que nem sequer é mostrado ou explicado o porquê deste Ser espacial ter vindo visitar o nosso planeta. Sabemos apenas de filmes passados que a espécie procura combater e enfrentar os maiores adversários, numa espécie de treino e colecionar crânios das vítimas como troféu.
Da tribo indígena destaca-se Naru (Amber Midthunder) que, não contente com o seu papel numa sociedade programada, quer mostrar que é uma excelente caçadora e não uma curadora como lhe foi imposto desde tenra idade. Sem grandes floreados de guião e sem muitas falas, percebemos o quão astuta é Naru, mas ao querer provar a sua qualidade de caçadora dá de caras com um Predador, que após enfrentar animais poderosos como ursos e lobos, vê a tribo desta como o próximo alvo.

© 2022 20th Century Studios. All Rights Reserved.
Neste aspeto, o filme é cauteloso em não dar ênfase aos desníveis sociais que transcendem o próprio filme, e daí a Naru que é de poucas falas e de mais ação, o que é uma ótima estratégia para combater a toxicidade pública e provoca mais aprovação por parte do espectador em “aceitar” uma líder feminina como personagem principal numa saga de ação criada numa década em que os homens musculados predominavam neste tipo de papéis.
Claro que dentro da sua tribo um dos caçadores repete vezes sem conta que o lugar da mulher não era a caçar mas sim ajudar com os afazeres diários, mas nunca chega a beliscar o quão astuto o filme é e onde quer chegar. No final, ninguém mete em causa que Naru é uma caçadora nata.
Agora é de referir que o facto do guião ter poucas falas e muito mais ação pode dar origem a outro tipo de problemas estruturais. O problema mais gritante de todos, na minha opinião, é que por ser tão incisivo faz com que todas as personagens humanas sejam altamente genéricas… e aqui nem Naru escapa a isto. Pouco ou nada é desenvolvido ao ponto de não sentirmos apreensão pelo destino de uma personagem (exceto o cão). Assim, é incontornável comparar com o filme original da saga, onde grande parte da trama é para dar a conhecer os soldados do batalhão, as suas motivações e onde muitos tinham mais batalhas internas do que propriamente enfrentar um predador. Aqui resumidamente é Naru a matar o Predador para ser aceite na tribo como caçadora.
Contudo esta simplicidade pode vir a dar mais proveitos do que propriamente mais prejuízos tendo em conta que o filme vai criando expectativa pelo confronto final entre as duas personagens. Até lá, vemos o predador a mostrar todas as suas capacidades de assassino e caçador de um lado e Naru a aprimorar as suas técnicas de caça noutro.
Todas as movimentações e mortes do Predador são um festim para os olhos de quem gosta de boas doses de sangue, mas sem nunca exagerar. Do outro lado temos Amber Midthunder numa forma física espetacular ao ponto de todas as cenas de luta parecerem verdadeiras e que, acima de tudo, ajudam a cimentar a sua personagem para o grande final.

© 2022 20th Century Studios. All Rights Reserved.
Depois claro está, o guião foi criado quase em exclusivo para essa dita batalha final e exemplo disso é o aparecimento a meio do filme de colonizadores franceses, que parece que só estão ali para o predador testar todo o seu reportório de armas futuristas e deixar um Easter egg relacionado com Predador 2 que teve Danny Glover como ator principal.
Prey é simples e depravado de qualquer complexidade. Não consigo dizer que seja competente, mas acho sobretudo que Trachtenberg fez um filme bastante seguro, sem muitas ousadias, tanto para o bem como para o mal. Confesso que gostava que tivesse explorado as personagens para dar mais relevância a estas e não serem só “mais um”. No final, é facilmente perceptível que Prey não é um filme para cinemas e que a função aqui é só uma: pôr a saga novamente “no mapa” e sobretudo dar um sentido a algo que parecia completamente desgovernado. Pode ser o ponto de viragem para algo maior, mas ficamos com a sensação que poderia ter sido bem mais, mas que na realidade o que se queria era mesmo isto… dar um rumo conciso para que o futuro possa ser próspero.
É o segundo melhor filme da saga? É. Era difícil sê-lo? Não. (Se bem que eu sou fã de Predadores de 2010)
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