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Palm Trees and Power Lines – Crítica Filme

O carteiro toca sempre duas vezes

by João Pedro

A marcar a sua estreia na realização, a cineasta Jamie Dack expandiu uma curta-metragem que tinha concebido em 2018. Por conseguinte, “Palm Trees and Power Lines” assume as proporções de longa-metragem para nos apresentar a beleza natural manchada pelo homem, adequada à história de uma rapariga que se vê usada pelas ambições sinistras de um homem mais velho.

Lea (Lily McInerny), de 17 anos, sente-se aborrecida pela vida que leva nas férias de verão. Cansada de conviver com amigos imaturos (que não têm qualquer interesse para além de beber ou fazer sexo) a jovem tem uma relação conflituosa com a mãe, Sandra (Gretchen Mol), que acusa de a negligenciar em favor de uma série de namorados.

Certa noite, Lea e os seus amigos fogem de um restaurante sem pagar, mas Lea é apanhada por um cozinheiro que lhe dá uma bofetada na cara. Em seu socorro, surge um homem de trinta e poucos anos, Tom (Jonathan Tucker), que tira o cozinheiro de cima dela, permitindo-lhe escapar. Enquanto a jovem caminha para casa, Tom aparece e oferece-lhe boleia. Inicialmente desconfiada, Lea é conquistada pelos encantos do seu salvador.

Tudo em torno de Tom significa perigo, mas temos a sensação de que Lea sabe disso, não obstante esteja disposta a correr o risco, visto que a sua vida chegou a um nível crónico de tédio. Além disso, pode até irritar a mãe, ou pelo menos fazê-la notar a sua presença (ou falta dela). “Não me mates”, diz Lea antes de entrar na carrinha de Tom.

Dack e a sua co-argumentista, Audrey Findlay, querem que o público conviva com Lea antes que ela chegue ao ponto crucial, estabelecendo a razão pela qual ela pode sentir-se atraída por este homem mais velho. Quando Tom interpreta a maturidade de Lea, o público também já idealiza de antemão a forma como ela se distingue dos amigos atrofiados. Ao contrário dos rapazes da sua idade, que esperam sexo num piscar de olhos, Tom não demonstra esse desejo, permitindo que a jovem avance ao seu próprio ritmo. É ela que inicia a primeira interação. Obviamente, Tom sabe exatamente o que dizer e quando o dizer, e tem uma resposta plausível para cada red flag que Lea evoca.

Durante grande parte da primeira metade do filme, não sabemos ao certo para onde é que a relação ruma e, desta feita, podemos até ser levados a pensar que estamos a assistir a um romance, ainda que de natureza tabu. É esse investimento na criação de um relacionamento credível, que faz com que a segunda metade do filme se transforme num thriller eficaz. Este cenário já foi abordado em dezenas de filmes repletos de clichés, mas Dack evita a moralização barata presente nesse tipo de enredos, o que torna o destino de Lea ainda mais preocupante.

Na sua estreia no cinema, Lily McInerny é um achado, totalmente convincente na pele de uma jovem ingénua de 17 anos, apesar de ter 22 na época das filmagens. Se ela não fosse tão convincente, como os jovens de vinte e tal anos que tendem a interpretar adolescentes nestes cenários, a verosimilhança do filme ter-se-ia desmoronado. Ajuda muito nunca a termos visto antes; livre de qualquer associação com papéis anteriores, para nós Lily é simplesmente a Lea.

E embora o filme não apoie certamente o comportamento de Tom, observa-o à distância, o que o torna ainda mais perturbador. Não se trata de uma obra com uma lição de moral banal para os espetadores. As personagens comportam-se de formas que nos frustram, porque é assim que as pessoas se comportam na realidade. Podemos gritar para o ecrã para que Lea saia de certas situações, mas nunca é garantido que ela nos ouça. Ela sempre se desiludiu com as pessoas durante toda a sua vida, por que razão haveria de nos ouvir?

Não existem explicações excessivas ou pregações. Com a duração de 1 hora e 50 minutos, “Palm Trees and Power Lines” é um conto cativante, terno e revelador sobre predadores sexuais e o processo de aliciamento.

Está disponível na Filmin Portugal.

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