O mais recente filme do realizador Tiago Durão, que conta com o ator Ruy de Carvalho aos 96 anos de vida e 81 de carreira, chega amanhã aos cinemas. O Misterioso Caso de Lázaro Lafourcade é definida como uma “comédia de crime” e conta a história de Lázaro, o patriarca capitalista de uma família disfuncional, e o mistério do seu assassinato com a ajuda de um inspetor.
Este filme é sem dúvida diferente porque ousa “arriscar”. Não é o tipo de filme que estamos habituados a ver no cinema português e ainda bem que assim o é. Com esta família Lafourcade, em que cada um dos elementos da mesma tem os seus problemas e atritos – seja a irmã de Lázaro que é aquela tia que adora espicaçar os outros e dizer que no seu tempo é que era bom, seja a filha mais velha de Lázaro que tem uma relação com remendos com o seu marido, ou então os dois filhos mais novos, Raul e Amélia, que vivem no seu mundo, sempre juntos, refugiando-se no cosmo ou na literatura.
Para mim, os grandes destaques deste filme são a representação de todo o elenco e os diálogos do mesmo. Quanto à história, senti que todo o filme é uma ótima introdução ao que seria a profundidade de conhecermos esta família para depois podermos descobrir o mistério de Lázaro Lafourcade. É uma ótima construção de personagens porque conseguimos entender em que ponto estão e quais seriam os motivos (embora houvesse mais motivos para se matarem uns aos outros do que ao próprio Lázaro).
E isso deve-se muito aos atores. Ruy de Carvalho embora não tenha muitas falas, é uma presença brilhante inegável quando surge no grande ecrã; Dalila Carmo é maravilhosa nos seus diálogos com Pedro Lamares, o casal que discute e se ofende mas que sabemos e percebemos que há ali um entendimento, seja ele qual for; a Maria José Paschoal que nos entrega aquela tia irritante e quase antiquada de forma viciante, deixando-nos sempre a querer ver mais dela e, de certeza, que conseguirás reconhecer alguém conhecido do teu seio familiar nesta personagem; e claro, Isac Graça, com os seus diálogos mais eruditos devido também ao seu refúgio na literatura mas bastante carismática e Lidia Muñoz que se entrega ao cosmos e também à insanidade da sua família, indo várias vezes contra a sua tia, de forma fantástica.
Quanto aos diálogos, são nos entregues vários momentos com comédia perspicaz, que embora alguns tenham sido demasiado arrastados (assim como algumas cenas), conseguimos reconhecer a complexidade e uma narrativa eat the rich bem conseguida através dos mesmos.
A banda sonora também tem um grande destaque nos momentos certos. Quando há tensão, sentimo-lo através da música que se ouve, e vamos acompanhando a história sempre com este ambiente definido pela mesma.
O cinema português merece oportunidade de ser visto, estas representações merecem ser vistas, por isso, a partir de 23 de novembro já podes ir até às salas de cinema portuguesas ver O Misterioso Caso de Lázaro Lafourcade.