Normal People estreou recentemente na HBO Portugal e já foi bastante aclamada pela crítica. E sem dúvida que esta minissérie é uma das melhores produções de televisão que já fizeram este ano.
Já tinha lido críticas a Normal People muito boas por isso, quando soube que ia estrear na HBO Portugal, sabia que não podia perder a oportunidade de ver e confesso que a nomeação aos Emmys de Paul e saber que era inspirada num livro como mesmo nome, me deixou ainda mais curiosa.
Seguimos Connell e Marianne, dois colegas no secundário, que não trocam palavras na escola, embora a mãe dele trabalhe para a família abastada dela. Mas Marianne, devido a algumas situações familiares e não só, acaba por ter uma atitude mais defensiva o que resulta em não ter amigos e ir para o castigo diversas vezes, sendo totalmente o oposto de Connell.
Os dois começam a estar juntos mas toda a relação é mantida em segredo à frente da escola, embora haja sentimentos mais fortes do que ambos previam. Com esta premissa, vamos acompanhando-os ao longo dos anos em que, aconteça o que acontecer, acabam sempre por se encontrar e apoiar um ao outro.
Ao seguirmos um casal que se apaixona de maneira intensa, é inevitável também nós ficarmos in love por esta dupla. Ao representar um romance destes, acabamos por ter os momentos bons e maus da relação, e precisamente por estarem representadas duas pessoas normais, como o título indica, e as suas peripécias ao longo da vida seja na amizade, no amor, na vida académica ou profissionalmente, é fácil também para o espectador identificar-se com o que está a ver, nem que seja porque passou por algo semelhante ou porque até era algo que visualizaria para si mesmo.
Por vezes, a interpretação mais difícil é parecer que não se está a interpretar de todo. Durante a série inteira, nunca senti que estava a ver dois atores a interpretar, mas sim um casal normal, com muita química (preparem-se para 41 minutos ao todo de cenas sexuais), muita emoção, que também dizem as coisas erradas nos momentos errados, que tomam decisões difíceis e que transmitem os seus sentimentos de maneiras tão puras como um olhar ou um beijo, que mal é preciso haver diálogo para sentirmos o amor.
Quanto aos atores, Daisy Edgar-Jones que interpreta Marianne e Paul Mescal que interpreta Connell, eles estão incríveis e são realmente a alma da série.
Paul foi nomeado como melhor ator numa Minissérie para os Emmys e sem dúvida que a sua interpretação merece. A personagem dele atravessa diversas fases como de descoberta, de solidão, de tristeza, de alegria… O facto de Connell não ser uma pessoa que expresse muito bem as suas emoções, é uma pessoa que as vive de uma maneira intensa à sua maneira e isso vai-se refletindo na evolução da sua personagem ao longo dos anos.
A par e passo, tem sempre a personagem de Daisy, que por ter estado sempre tão sozinha, encontra um apoio em Connell, e torna-se uma pessoa muito direta, muito na defensiva e embora seja igualmente inteligente, também ela não sabe lidar muito bem com as suas emoções, reprimindo-as por vezes.
Com esta relação tanto de amigos, como de namorados/amigos coloridos, não somos apresentados a fantasias de que as coisas correm às mil maravilhas. Eles choram, eles riem, eles discutem, eles não se resistem. E é realmente bonito de se ver porque transmitem totalmente a realidade para o ecrã.
O trabalho de realização também ajuda muito, tornando toda a série muito intimista, mas eles estão incríveis. Seja nos momentos mais sensuais entre os mesmos, como os eróticos (foi contratado um diretor de intimidade, creio que é assim que se chama, para estes momentos) assim como os maus momentos familiares ou amorosos, nas amizades… Daisy e Paul merecem todos os elogios e mais alguns por nos fazerem sentir tudo aquilo que as suas personagens estavam a passar.
O argumento é complexo sendo simples. É estranho explicar mas ele apresenta-nos, como já referi, muitas situações que são fáceis de nos identificarmos, mas com a complexidade associada aos sentimentos e emoções que têm de estar espelhadas nos diálogos, sejam eles mais curtos ou compridos. A banda sonora também ajuda muito a trazer esta realidade para a cena e tudo junto é a fórmula perfeita. É pena que Normal People não tenha tido espaço para a nomeação em Série Limitada, nem Daisy Edgar Jones.
Posso dizer que esta minissérie chegou mesmo a lembrar-me um dos meus filmes preferidos, One Day (e não foi só porque a Daisy é igual à Anne Hathaway), em que a premissa é parecida: duas pessoas que não se davam, passaram a ser melhores amigos, namorados, e depois a vida acontecia mas eles acabavam por se encontrar sempre um ao outro em vários momentos da mesma, e acho que nos faz acreditar naqueles amores que estão destinados, sabem? Já o final lembrou-me o de La la Land, em que às vezes, há que perseguir os seus sonhos, sabendo que têm o apoio e amor um do outro.
Resumindo, vejam Normal People. Não se vão arrepender e vão ter uma montanha russa de emoções e se uma série nos consegue fazer sentir de tudo um pouco e na mesma medida que os seus persoangens, merece totalmente ser vista.