News of the World é mais uma das apostas da Netflix, que nos prometeu dar filmes todas as semanas, e traz-nos Tom Hanks para um western que podia ter sido muito mais, mas que compensa pela ligação que a sua personagem cria com a de Helena Zengel.
Apesar de ter mantido a sua estreia nos cinemas norte-americanos em dezembro, com uma passagem pelo Premium VOD em janeiro, a verdade é que “News of the World” só chega ao resto do mundo agora no dia 10 de Fevereiro, exclusivamente na Netflix. Vamos poder ver o filme ainda a tempo dos Critics Choice Awards, em que está nomeado nas categorias de Melhor Filme, Ator, Jovem Atriz, Direção de Fotografia, Direção Artística e Banda Sonora Original.
Em 2 horas de um filme baseado no romance homónimo de Paulette Jiles, seguimos um veterano que, cinco anos após o fim da guerra civil, tem como “trabalho” contar as notícias de cidade em cidade, quase como se contasse histórias, até que encontra uma menina perdida e incumbe-se da missão de a levar até ao seu tio e tia. Vimos este cenário há pouco tempo em The Midnight Sky, só que desta vez sabemos mesmo o nome da rapariga e um pouco da sua história, o que a levou a estar naquele lugar.
Escusado será tecer elogios a Tom Hanks que já nos habituou aos seus dotes de representação, especialmente em filmes mais dramáticos mas é surpreendente ver como um western lhe pode assentar tão bem. Uma boa surpresa foi Helena Zengel no papel de Johanna que, embora a sua personagem não tenha muita coisa com que trabalhar, fez um óptimo trabalho com o tinha em mãos, e isso está a valer-lhe várias nomeações nas cerimónias de prémios (inclusivé foi nomeada para os Golden Globes enquanto que Tom Hanks não).
O filme é bom mas simplesmente não correspondeu às expectativas que eu tinha para o mesmo. É certo que a personagem de Tom Hanks, o Capitão Kidd, leva a sua missão muito a sério de levar as notícias pelo mundo fora assim como leva a missão de proteger a rapariga, custe o que custar. E percebe-se que os dois têm uma ligação que é mais profunda do que pode parecer: ambos perderam tudo e de certa forma, encontram um no outro um refúgio inesperado, um apoio.
Acho bastante importante este fator das notícias, num tempo em que não havia telemóveis, nem carros, nem maneiras de ligarmos a internet e irmos ao Google para saber o que se anda a passar no outro lado do Mundo. Este trabalho compete a Kidd e é numa cena do filme que percebemos a importância que as palavras numa notícia podem ter, especialmente quando as pessoas não reconhecem a realidade fora da cidade de onde vivem e pode representar um sinal de esperança, de liberdade, de se exprimirem, especialmente num cenário de uma América fraturada pós guerra civil. Mais do que isso, mostra como pode ser poderoso contar uma história através de uma notícia. Esta cena, e outra mais de ação, foram assim os momentos em que me senti mais empolgada durante o filme.
Tirando isso, senti mais falta desta parte de contar as notícias porque, como referi, acho realmente importante (não fosse eu parte de um site que também partilha novidades) não só pelo contexto, mas pelo que representa, e senti que se prenderam mais a esta jornada dos dois protagonistas que, por muito necessário que fosse para irmos mais a fundo nas personagens e criarmos empatia com as mesmas, ficamos com a sensação que mesmo em alguns momentos, o filme podia ter um pouco mais de… algo que o fizesse destacar entre tantos westerns fantásticos que já passaram pelos grandes ecrãs.
Conta-nos a história como é, dá-nos margem para reflexão visto que nos fala sobre encontrar onde pertencemos e que pode ser num sítio/com alguém que menos se esperava, mas não explora muito mais do que isso porque não é como se pudesse dar grande volta num ponto de vista mais criativo.
A nível técnico, não tenho nada a apontar às paisagens que vemos ao longo do filme, num faroeste deserto à primeira vista mas que contém vários perigos para os nossos protagonistas ao longo do seu caminho, nem à cinematografia impecável de Dariusz Wolski (The Martian, Alien: Covenant) e a própria direcção artística que estava muito bem pensada. Sem esquecer, claro, a banda sonora, sempre fantástica, de James Newton Howard.
Contudo, e embora não tenha correspondido a todas as minhas expetativas, acho que é um filme que devem sem dúvida espreitar na Netflix porque não vão querer perder Tom Hanks num western e especialmente ver o início do que pode ser uma carreira promissora de Helena Zengel.