“Minari”, filme que valeu o Óscar de Melhor Atriz Secundária a Yuh-Jung Youn, incide na história de uma família sul-coreana que se muda para uma pequena zona rural no Arkansas, em busca do seu sonho americano. Acima de tudo, este filme fala sobre como podemos construir um lar.
Em Minari, Lee Isaac Chung faculta tempo e espaço para cada personagem respirar. Conhecemos Jacob (Steven Yeun), o pai da família, Monica (Han Yeri), a sua esposa, David (Alan Kim) e Anne (Noel Cho), os filhos, e por fim, Soon-ja (Yuh Jung Youn), a avó (mãe de Monica) que surge já no final do primeiro ato do filme.
Chung nunca revela muito sobre os altos e baixos de cada personagem. A história desenrola-se a uma velocidade cuidadosa, à medida que cada conversa vai adicionando camadas a cada membro da família – onde o cineasta opta por pequenos pedaços de informação ao invés da exposição inicial.
Esta família não leva uma vida propriamente desafogada, e, como tal, os pais arriscam todas as suas poupanças na construção de uma quinta em solo abandonado. A família une esforços na visão empreendedora de Jacob, que recebe a ajuda de Paul (Will Patton), um vizinho. Jacob e Paul trabalham juntos para construir a quinta, ao mesmo tempo que juntam o máximo de recursos e dinheiro que lhes é possível economizar.
À medida que Jacob enfrenta múltiplos contratempos, a relação com a mulher começa a deteriorar. Posteriormente, a chegada da avó não serve de abono à frustração crescente da família, mas é um elemento delicioso para o enredo. Enquanto David ensina ao amigo um jogo de cartas coreano, Soon-ja apaixona-se profundamente por wrestling profissional. Ao mesmo tempo, Jacob persiste na sua luta, ao passo que Monica tenta encontrar maneiras novas de apoiar e amar os sonhos do marido.
Com a excelente banda sonora de Emile Mosseri e alguns cenários impressionantes, mas simples, “Minari” transplanta o público para o mundo desta família na América Central. Chung evita incorporar vizinhos racistas, a relação com a igreja e outras opções usadas frequentemente em filmes sobre minorias. Em vez disso, ao desprezar o mundo exterior, opta por apontar baterias para a relação entre os vários membros da família.
O filme parece enraizado em experiências reais, e a especificidade de cada ação entrega uma visão clara destas pessoas, como o amor descarado por Mountain Dew ou a magnitude da plantação de minari (uma verdura coreana) a crescer à beira do rio. Não obstante, “Minari” não é uma novela ou um conto de desgraças domésticas (como, por exemplo,”Hillbilly Elegy”). É algo muito mais comovente e autêntico.
Além disso, a qualidade do elenco é um fator primordial do resultado de excelência. Yeun pode ser mais conhecido pelo seu trabalho em “The Walking Dead”, mas brilha neste desempenho discreto de um pai que luta para encontrar o equilíbrio entre sustentar a família e perseguir os próprios sonhos. O outro destaque vai claramente para Youn, na pele de Soon-ja. A sua relação com David (o neto que nunca conheceu), é em última análise o coração a pulsar da longa-metragem, à medida que se vão aproximando (com mais resistência de David, que quer uma avó americana).
Existem pequenos detalhes que tornam o filme um pouco subtil, mas que não deixam de ser relevantes. Do jardim improvisado de Soon-ja ao longo do rio (que parece conter uma pequena metáfora) à busca silenciosa de Monica por pedaços da sua cultura no terreno desconhecido de Arkansas, é evidente que Chung pensou em cada detalhe ao pormenor.
“Minari” contém o poder, a consideração e a rara inspiração que nos faz sentir leves e felizes ao ver um filme. É um trabalho bonito.