Depois de “Melancholia”, de Lars von Trier e “Secrets & Lies”, de Mike Leigh, chega a vez de escrever sobre o último filme desta trilogia especial disponibilizada no site da Medeia Filmes. A longa-metragem é “Mia madre”, que Nanni Moretti realizou em 2015.
Depois de ganhar a Palme d’Or em 2001 por “The Son’s Room”, Nanni Moretti regressou num molde semelhante. No entanto, em vez de espelhar uma família que lida com uma ausência inesperada, temos aqui a perspetiva oposta: a das crianças crescidas que lidam com a morte inevitável dos pais efémeros, mas não só.
Desajeitadamente, examina as lutas da sua protagonista, enquanto ela lida com dilemas familiares e profissionais. Seja como for, contamos com a performance gratificante de Margherita Buy, que tende a compensar as deficiências do filme.
Margherita é uma realizadora de sucesso que prepara o começo das filmagens da sua nova obra.
A obra conta com a participação de Barry Hughins, um ator conhecido internacionalmente, tanto pelos papéis que desempenha, como pelo feitio impossível de suportar. Margherita sente o peso expectativas dos colegas de profissão, do público, e por tudo o que lhe é exigido durante as gravações.
Ao mesmo tempo, a nível pessoal, atravessa um momento particularmente difícil. A juntar ao facto de ter terminado a relação com o companheiro, enfrenta a crise de adolescência da filha, e o facto da mãe estar internada num hospital.
A ironia que devemos tirar do projeto cinematográfico de Margherita, é que ela está a criar algo destinado a explorar a voz da classe operária, um instrumento para ‘o povo’, e ainda assim é uma opressora tirana no seu próprio ambiente.
Isto não quer dizer que ela seja 100% desprezível, mas é alheia à sua atitude desdenhosa e, às vezes, acaba por ser arrogante. Todavia, as falhas da personagem são subestimadas no filme e, adicionalmente, também não ajuda que Moretti mantenha um estilo consistentemente cómico.
O que “Mia Madre” consegue mostrar é o talento de Margherita Buy, mas ela é a única personagem desenvolvida no filme.
A presença de Moretti no filme, na pele de irmão da protagonista, parece desnecessária, visto que adiciona pouca textura familiar, com um personagem que poderia ser interpretado por qualquer pessoa.
Curiosamente, passei a maior parte do tempo a definhar no alívio cómico de John Turturro, que é divertido, mas é usado com tanta frequência que começa a adotar a função de muleta para aguentar o tempo da corrida.
Sem outras características evidentes em “Mia Madre”, o filme de Moretti apresenta-se como um drama familiar de edição padrão.
O filme está disponível no site da Medeia Filmes até às 12 horas do dia 19 de Maio de 2020.