Pedro Almodóvar é um dos meus realizadores favoritos. O cineasta espanhol leva já quase cinco décadas a fazer filmes e é reconhecido internacionalmente como um mestre criador e contador de histórias. Para além de realizar, Almodóvar escreve também os argumentos e, neles, as suas personagens parecem sempre pessoas reais com emoções e idiossincrasias específicas. Apesar dos seus enredos levarem rumos pouco convencionais e de porem as personagens em situações inusitadas estas nunca são utilizadas como objetos de choque ou elementos de circo, muito pelo contrário. Nos filmes de Almodóvar sente-se sempre um olhar empático da câmara pelas pessoas que nestes mundos habitam e, em Madres Paralelas, isso não é exceção.
As mães paralelas são Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit): uma fotógrafa de 40 anos e uma estudante adolescente que partilham um quarto na maternidade onde dão à luz no mesmo dia. Nenhuma delas escolheu engravidar, mas ambas estão determinadas a ter as suas filhas. Ana teme não estar preparada para enfrentar esta nova responsabilidade, mas Janis assegura-a que, com o tempo, estará à altura e será uma ótima mãe.
No início do filme, Janis pede ajuda a Arturo (Israel Elejalde), arqueólogo forense responsável por uma fundação destinada à exumação dos restos mortais daqueles que morreram durante a guerra civil espanhola (e também amante da protagonista). Supostamente, existe uma vala comum perto da aldeia de Janis onde o seu bisavô e muitos outros homens foram enterrados e, agora, os seus descendentes querem desenterrá-los para poderem ter, finalmente, um funeral digno.
Estas duas linhas narrativas que, à partida, parecem dissonantes, vêm a tornar-se essenciais uma à outra no que toca ao tecer e desenrolar desta história e dos temas que lhe são inerentes, como os laços familiares, a História e a importância que a nossa memória tem no moldar de ambas.
Almodóvar trabalha frequentemente com os mesmos atores e neste filme colabora mais uma vez com a incrível fonte de vida e entusiasmo que é Rossy de Palma bem como Penélope Cruz cuja entrega e franqueza neste papel são marcantes. Também a jovem Milena Smit se destaca pela força (por vezes) mascarada de vulnerabilidade que demonstra enquanto dá vida a Ana.
As típicas cores vivas utilizadas pelo artista espanhol nas suas obras manifestam-se aqui na criação dos espaços onde a ação decorre (Vicent Diaz), no guarda-roupa efusivo (Paola Torres) e na maneira como todos estes elementos são geridos na composição da fotografia deste filme (José Luis Alcaine) que confronta ideias e conceitos difíceis de abordar.
Depois de fazer furor na estreia durante o Festival de Cinema de Veneza, Madres Paralelas chega esta quarta-feira, dia 1 de Dezembro, às salas de cinema portuguesas e é, sem dúvida, um filme imperdível a ver no grande ecrã nesta temporada de Inverno.