Depois de espalhar a sua perspicácia de realizador pelo mundo dos cortes e costuras da arte e do amor em “Phantom Thread”, o inigualável Paul Thomas Anderson volta a dar o seu parecer e colocar um holofote sobre a instâncias de uma paixão entre jovens em “Licorice Pizza”.
Nomeado para 3 Óscares da Academia, inclusive Melhor Filme, este drama/romance conta a história de uma paixão entre Gary (Cooper Hoffmann) e Alana (Alana Haim) que, apesar das diferenças de idade, ambos criam uma forte amizade que se transforma num amor que trará muitas aventuras para ambos.
Visto pela superfície, esta história tem tanto de banal e ordinário que, nas mãos de outro realizador, isto apenas seria mais uma comédia romântico com pouco para oferecer. Porém, estamos a falar de Paul Thomas Anderson. Óbvio que isto não é um romance baratuchos.
“Licorice Pizza” é uma análise da doçura e tribulação do primeiro amor. Numa colagem de momentos entre as personagens, Anderson navega suavemente por situações caricatas e por momentos com estas personagens com tanta naturalidade que, rapidamente, criamos uma empatia gigante com elas.
Esta empatia resulta pelas fenomenais interpretações pelos nossos protagonistas. Cooper e Alana, ambos a estrearem-se numa longa-metragem, têm uma química fenomenal desde o primeiro segundo. Cada sorriso, cada brincadeira, cada olhar prolongado é tão naturalmente calculado e dirigido por Anderson que se torna um trio de ataque perfeito e que carrega este filme até ao coração do espectador em apenas breves momentos.
Anderson cozinha este filme na perfeição. Ritmo deliberado, movimentos de câmara calculados e perspicazes, ele povoa o filme com personagens fascinantes, que marcam “Licorice Pizza” mesmo com pouco tempo de antena – como o caso de Bradley Cooper, que em apenas 15 minutos de filme a sua presença é perfeita.
Seja pela diferença de idade entre os protagonistas (tanto na vida real como no filme), ou por certas piadas presentes no argumento, “Licorice Pizza” foi alvo de críticas por parte do público, por considerar que existe uma frieza, uma descompaixão sobre assuntos sensíveis. Porém, o filme ocorre numa outra época (decorre nos anos 70), num contexto cultural completamente diferente ao que vivemos atualmente e Anderson escreveu de forma a colocar um espelho sobre a evolução dos assuntos entre aquela altura e a nossa. Nunca com o objetivo de ferir suscetibilidades, mas mais para mostrar que, até mesmo há pouco tempo, a sociedade era diferente e que ainda bem que existiu essa evolução social.
“Licorice Pizza” não é, nem de perto, o melhor ou o filme mais forte de Anderson. Com o seu tom mais relaxado, não tem o impacto que um “There Will Be Blood” ou, até mesmo, que os seus outros dois filmes de romance – “Punch-Drunk Love” e “Phantom Thread”.
Isso acontece pelo facto de o filme se perder ligeiramente na parte final. Na transição entre o segundo e terceiro atos, “Licorice Pizza” deixa-se levar por momentos de paixão e separação das personagens que perdem um pouco o rumo da história. Apesar de ter um ótimo e complexo final no que diz respeito ao futuro dos protagonistas, a chegada até lá é um pouco mais demorada do que seria aconselhado.
Contas feitas, “Licorice Pizza” é mais uma excelente entrada na filmografia de Paul Thomas Anderson. Alicerçado pelas incríveis prestações por duas novas estrelas de cinema em ascensão, e apesar de não ser um dos mais marcantes do realizador, este filme é mais uma prova de que Anderson pode perfeitamente fazer parte da lista dos melhores realizadores que já passaram pelos corredores de Hollywood.