O novo documentário sobre a vida obscura do Rei da Pop, Michael Jackson, estreou no princípio do mês na HBO e houve até vários países que optaram por não passar mais a música do artista.
Michael Jackson é uma figura incontornável da humanidade, teve uma infância curta onde era a figura principal dos Jackson 5 e quando decidiu enveredar por uma carreira a solo teve um sucesso meteórico inigualável quer no panorama musical quer no panorama social.
Figura de referência de várias gerações, Michael era conhecido pela sua mestria na produção e composição de músicas, quem o conhecia fora deste meio dizia que era uma pessoa especial, muito carinhosa e atenciosa para quem queria o seu bem.
Contudo sempre foi notório a sua peculiar atenção e apego por crianças. Muitos consideravam que se devia à falta de infância que os seus pais impunham para se focar simplesmente na música. Esta atenção especial fez com que fosse acusado de pedofilia, chegando mesmo a ser julgado por duas vezes, sendo que numa delas tratava-se de uma criança portadora de cancro em estado avançado.
Este documentário tem o condão de pôr em risco outra vez a imagem do Rei da Pop e a diferença é que este já não se encontra entre nós, o que torna difícil manter a sua inocência.
Dez anos após a morte de MJ, James Safechuck e Wade Robson mostram ao mundo a sua versão dos acontecimentos e esta promete abalar a imagem do artista. Sempre soubemos que certos comportamentos, estilo de vida e extravagâncias de MJ eram questionáveis, mas este documentário da HBO ultrapassa a nossa compreensão e mete mesmo em causa tudo aquilo que achamos do artista.
Pior é que o documentário de Dan Reed é tão gráfico nas suas exposições, que é difícil serem meras alegações de dois homens para “ganharem” protagonismo e dinheiro. O documentário tem a duração de 4 horas e está dividido em dois episódios e ainda bem que assim é, pois provoca desconforto e mal-estar a quem o vê e é mesmo preciso ter “estômago” para aguentar toda a informação. Estas sensações são provenientes dos detalhes das duas vítimas.
À medida que o documentário vai mostrando mais detalhes da relação de MJ com as vítimas, começamos a aperceber algo doentio dentro do artista, algo que nos era completamente impossível associar à sua imagem de quase “Messias”.
As vítimas, ao contarem estes detalhes, sente-se, quer através da fala e da própria sensação de desconforto, que há algo de verdade no que dizem e seria preciso serem grandes atores para inventar tudo aquilo que expõem.
E a exposição de falar abertamente de práticas sexuais cruéis e de jogos psicológicos impostos a crianças de idades compreendidas entre 7 a 9 anos, dão mais evidência ao peso deste documentário. Ficamos mesmo com a sensação que estes homens não ganham rigorosamente nada em expor esta situação de maneira tão frontal e franca e temos até a certeza que isto tudo lhes trará mais dissabores que bem-estar ou alívio.
Os rumores sobre estes e outros abusos são datados do início da década de 90, desde que uma das empregadas do rancho Neverland (residência de MJ), Blanca Francia, veio a público afirmar que tinha assistido a comportamentos inapropriados da estrela pop. Depois dela, também os pais de duas crianças vieram alegar os tais abusos sexuais.
Mas MJ arranjou uma forma de contornar a situação, fazendo com que estes depoimentos fossem descreditados da opinião pública. Exemplo disso: as duas vítimas deste documentário afirmam que enquanto estiveram sobre a alçada do artista foram “obrigadas” a jurar que tudo estava bem e defendendo-o quando questionados sobre tais abusos, até entenderem que o que se passava não era amor.
Assistir a isto tudo é doloroso, não sendo um fã de Michael Jackson mas respeitando-o como artista e aquilo que contribuiu para nós, o sentimento é de revolta. Custa fazer julgamentos a alguém que já não está entre nós, mas irá custar mais a quem visionar o documentário tentar descreditar estes testemunhos.
O documentário fará com que possamos mudar de opinião e é ainda mais difícil quando crescemos a ver e ouvir MJ, um artista sempre disposto a superar os limites artísticos. O maior erro acaba por não ser de Michael Jackson, mas sim da sociedade na altura das primeiras alegações, quando aceitou a sua desculpa, salvando assim o artista em prol da pessoa e mostrando que nunca iria ser um julgamento justo.
Agora, 10 anos após a sua morte, é difícil reverter ou ocultar a situação, o que acaba por se tornar um fim triste, mas acima de tudo cheio de revolta, para o seu legado.