Last Night in Soho é o nono filme de Edgar Wright e, num ano em que o britânico também realizou o documentário The Sparks Brothers, este é, claramente, o projeto mais desinspirado de entre os dois e o mais longínquo da qualidade de trabalho que este realizador tem apresentado nas duas últimas décadas.
Wright parte de um argumento (escrito em conjunto com Krysty Wilson-Cairns, 1917) que tem um conceito base com bastante potencial: Ellie (Thomasin McKenzie), uma jovem ingénua do interior muda-se para Londres para estudar moda numa prestigiosa universidade e, depois de uma má experiência inicial com umas terríveis colegas de quarto, decide mudar-se para um quarto em Soho.
À noite, a dormir, Ellie tem sonhos que a transportam para a época elegante e glamourosa dos anos 60 vividos neste mítico bairro do West End – ela vê a noite através dos olhos de Sandy (Anya Taylor-Joy), uma aspirante a cantora cujos sonhos de atuar em frente às luzes da ribalta depressa se tornam num pesadelo às mãos do agente (Matt Smith) que a engana com promessas de uma carreira no showbiz.
A primeira metade do filme assenta no desenvolvimento desta premissa e é durante a primeira meia hora que vemos os seus melhores aspetos como o excecional guarda-roupa criado para ser fiel à época, efeitos visuais criativos na refulgente sequência de apresentação dos anos 60 e o estilo de edição dinâmico habitual de Edgar Wright que concede a energia e o fulgor necessários às cenas iniciais.
Infelizmente, os elogios ficam por aqui visto que a segunda metade é uma desordem completa no que toca à gestão do tom do filme, tropeçando entre momentos de tensão real na vida de Sandy e as repercussões pouco convincentes que Ellie sente no seu dia-a-dia à medida que os sonhos e a realidade se tornam cada vez mais indistiguíveis. Juntando a isto personagens superficiais, reviravoltas e twists altamente previsíveis e ainda acrescentando um final “feliz” completamente forçado temos um filme que parece ter saído do início dos anos de 2000 que, por acaso, vimos porque passou num sábado à tarde na SIC e não tínhamos nada melhor para fazer.
Este filme acaba por ser uma desilusão considerável para os fãs de Edgar Wright mas, caso o leitor se inclua neste grupo, o meu conselho é esperar pelo próximo projeto deste realizador que será, sem dúvida, melhor sucedido e até lá ver (ou rever) o documentário The Sparks Brothers ou o thriller de ação Baby Driver.