Home FilmesCinema “Judy”: Renée Zellweger presta homenagem a um dos maiores ícones do século XX

“Judy”: Renée Zellweger presta homenagem a um dos maiores ícones do século XX

by João Pedro

A representação de celebridades pode ser uma tarefa árdua. Na pior das hipóteses, o exercício não produz mais do que uma mera performance embaraçosa, porém, há sempre esperança que venha à superfície um momento de transcendência. Em “Judy”, Renée Zellweger oferece um tipo de performance magistral que exige que esqueçamos tudo o que achamos que conhecemos acerca do trabalho da atriz. Durante 118 minutos, torna-se Judy Garland, um dos maiores ícones do século 20.

Judy”, o drama biográfico sobre Judy Garland, abre no tom perfeito; uma cena suave e única em que Judy (retratada na sua juventude por Darci Shaw) é apresentada ao mundo de “The Wizard of Oz”. Ao mesmo tempo, Louis B. Mayer, o magnata do MGM, consegue lisonjear, insultar e seduzir a jovem com promessas de um sucesso glorioso na indústria do cinema.

Posteriormente, a narrativa tem lugar no ano de 1968, quando Judy (de Renée Zellweger) enfrenta um tumulto de dívidas acumuladas, e o confronto pela custódia dos filhos com um dos seus ex-maridos, Sidney Luft. No esforço para provar que consegue ser uma boa mãe, Judy aceita efetuar um série de concertos, durante cinco semanas, no Talk of the Town, em Londres.

Ao longo dessa aventura, nutre um caso amoroso com o empresário Mickey Deans, e até passa algum tempo com os fãs que lhe são mais queridos. Todavia, no momento em que a vida começa a trabalhar a favor de Judy, os demónios pessoais ameaçam destruir tudo.

De alguma forma, através da alquimia da atuação, maquilhagem, iluminação e do guarda-roupa, todos os vestígios de Zellweger são apagados, para que Judy tome o protagonismo.

Efetivamente, a atriz capta uma série de movimentos característicos de Garland em palco: a maneira como colocava o cabo do microfone sobre o ombro, ou a forma como inclinava o cotovelo para apoiar o punho sob a cabeça. Zellweger concebe estes movimentos de forma tão espontânea, que faz com que o público não pense que ela está a retratar Judy, ou seja, ela é a Judy por uma fração de momentos.

Renee Zellweger (Judy Garland) in JUDY

Adicionalmente, a atriz teve de efetuar alguns números musicais e, de facto, na condição de cantora, é impossível igualar Judy Garland. Não obstante, todo o trabalho vocal de Zellweger torna a performance muito mais viva, e quando uma atriz dá tudo de si em prol de um papel, e refuta inclusive a possibilidade de fazer uso de playback, a dedicação intrínseca só poderá ter o meu aplauso.

Adaptado da peça “End of the Rainbow”, de Peter Quilter, o argumento de “Judy” – concebido por Tom Edge (“The Crown”) – minimiza os elementos fantásticos do seu material de origem para se aproximar da verdade. O filme é bastante autêntico na descrição da vida pessoal de Garland. Os flashbacks oníricos da infância de Judy são especialmente poderosos, desde logo pela fachada que a MGM criou em torno da sua juventude, e que catapultou a atriz para uma vida repleta de vícios.

A meu ver, a realização acaba por não desempenhar um papel digno de destaque vital para o filme, que acaba também por esmorecer a dada altura.

Em bom rigor, “Judy” ganha vida nas cenas em que Garland sobe ao palco no Talk of the Town. Por mais expressiva que seja a atuação de Zellweger, é nos momentos musicais que a atriz capta a vibração de uma lenda claramente desbotada, mas que ainda permanece na memória de muitas pessoas.

São as cenas em que a realização de Rupert Goold (“True Story”) e a fotografia de Ole Bratt Birkeland (“The Little Stranger”) denotam alguma dinâmica assinalável, contrastando certos visuais monótonos.

Apesar da banalidade em que a narrativa é admoestada, “Judy” faz com que possamos refletir acerca da vida de uma mulher que nasceu para amar o público. Ao mesmo tempo que presta homenagem a um canto de cisne que marcou a Era Dourada de Hollywood, funciona como nota pujante sobre as verdades trágicas que estavam escondidas atrás daquele arco-íris.

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