Home FilmesCinema “Joker”: Joaquin Phoenix leva o vilão a outro nível numa atuação digna de Óscar

“Joker”: Joaquin Phoenix leva o vilão a outro nível numa atuação digna de Óscar

by Beatriz Silva

Joker é o filme que está nas bocas do mundo, especialmente porque as críticas foram ainda melhores do que se esperava, chegando inclusive a ganhar um Leão de Ouro, gerando todo um hype em volta do mesmo.

“Joker” é mais do que um filme sobre um vilão. É a história de Artur Fleck (Joaquin Phoenix) que, diagnosticado com uma doença mental que o faz rir descontroladamente em situações de maior nervosismo, é renegado, gozado e pontapeado pela sociedade de Gotham, que como muitos de nós já sabíamos, é a casa de Joker… e posteriormente de Batman.

Se pensam que vão assistir às artimanhas deste vilão, desenganem-se. Vão sim, acompanhar a triste vida de Arthur, um homem com uma doença mental, que trabalha como palhaço para ganhar a vida e que tudo o que procura é deixar as pessoas a rir, felizes. Ao longo do filme, enquanto vamos assistindo à deterioração de Arthur, vemos também toda a transformação em Joker, a cada homicídio que comete, como consequência de tudo o que passou.

Joaquin Phoenix é brilhante neste papel. Ele, para além de carregar o peso do filme nas costas magras (devido aos 23 quilos que o ator perdeu), tem de carregar com o peso de nos passar uma mensagem e, quiçá, várias lições. Surpreende em cada minuto que aparece e são 121 minutos do melhor papel que eu já vi Joaquin a interpretar, porque acreditem, se já o viram em filmes como “You Were Never Really Here” ou “Her”, “The Master” ou “Gladiator”, entre tantos outros, já sabem que ele é um óptimo actor, mas, mesmo assim ele chega a este filme e deixa-nos sem palavras.

Fotografia: NOS Audiovisuais

Agarrar este papel de Joker, um dos vilões mais conhecidos do cinema, não deve ter sido tarefa fácil visto ser o legado de nomes como Jack Nicholson e Heath Ledger, especialmente este último que ganhou o Óscar com este papel.

Jared Leto tentou, mas não conseguiu conquistar o público. E agora vem Joaquin dar um novo lado a este vilão, que tão bem conhecemos, mas que desta vez foi humanizado, no sentido em que deu a conhecer um pouco da sua história. Percebemos que ele é uma pessoa como nós, que sofre de uma doença mental mas que não deixa que isso o impeça de tomar conta da sua mãe, igualmente doente.

Ele também tem sonhos, sendo um deles de ser um comediante e outro ir até ao programa de televisão conhecer o seu ídolo, Murray Franklin (Robert DeNiro), um apresentador de televisão.

Se pensarmos bem, este Joker, aliás, este Arthur (porque a história é dele), acaba por refletir a sociedade de Gotham que nos é apresentada. Gotham, essa cidade escura, cheia de ratazanas e de lixo, onde se fazem manifestações contra o poder que aqui é representado por Thomas Wayne.

Arthur é humilhado por esta sociedade porque a mesma já está tão debilitada que nem consegue responder de outra maneira. Mas é também esta sociedade que pega nas máscaras de palhaço para se manifestar usando Joker como um símbolo de “esperança”.

“I used to think that my life was a tragedy, but now I realize, it’s a comedy.” (Joker, 2019)

A representação de Joaquin traz-nos vários sentimentos: deixa-nos com um nó no estômago mas ao mesmo tempo, quando ele começa a dançar “na bolha dele”, nós não conseguimos desviar o olhar. Acabamos o filme a querer ver mais. A querer ver o que acontece a seguir. O que acontece com ele. Joaquin foi nomeado três vezes para o Óscar e espero honestamente que com este filme seja uma quarta vez e que possa levar a estatueta para casa com ele.

Fotografia: NOS Audiovisuais

Todd Phillips também fez um óptimo trabalho na realização. Ele quer-nos passar uma mensagem, que não sabemos bem se é uma mensagem de cariz humano, político, económico, social… se é tudo junto. Mas que ele passa uma mensagem, consoante a pessoa, passa. Ele utiliza planos fechados em Arthur, o que não nos permite quase desfocar a atenção dele. O uso de cores cruas e vibrantes como, por exemplo, nas roupas de Joker, acabam por contrastar bem com a tonalidade escura que o filme tem, para melhor representar a deterioração de Gotham.

A banda sonora também ajuda, porque é intensa, porque se adequa a cada cena de tensão , de loucura, de manifestação. Porque se adequa a Joker e ao que ele passa e obrigada, Hildur Guðnadóttir (Arrival, Sicario, The Revenant, Chernobyl), mais uma vez.

De recordar também que o filme teve como inspiração vários filmes como “The King of Comedy” e “Taxi Driver” (ambos com DeNiro), entre outros. E sim, está longe de ser um filme de super heróis e vilões ou até mesmo daquilo a que estamos habituados da DC e das suas personagens. Todd pegou numa personagem já conhecida e puxou-a para falar de temas atuais, embora a história se passe nos anos 80.

Resumidamente, e porque não me quero alongar, embora já o tenha feito: É um filme que nos deixa a reflectir devido ao turbilhão de sentimentos com que ficamos, mas também é um filme que conseguimos dizer logo que é bom, assim que começam os créditos. Porque, cinematograficamente, é.  Se incita a violência, bem, ele demonstra-a, é verdade. E não pode ser ignorada. Mas também não precisa de ser copiada. Ele mostra-nos que os actos, qualquer um deles, têm consequências. Coisas que parecem óbvias como chamar aberração a alguém que luta para sobreviver num trabalho como palhaço e que tem uma doença mental, pode causar danos. Bastou isto, repetidamente, para levar Fleck à loucura total.

E é por isso mesmo que devem ir ver o filme, nem que seja para verem Phoenix a levar este vilão a um nível que já sabíamos que era possível. Well done.

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