Home FilmesCinema Jojo Rabbit: Um candidato excêntrico aos Óscares

Jojo Rabbit: Um candidato excêntrico aos Óscares

by João Pedro

A Segunda Guerra Mundial está a terminar e, desta feita, a Alemanha está à beira da derrota. Porém, Jojo Betzler recusa-se a aceitar esse absurdo. O jovem é um defensor da Pátria, e venera Adolf Hitler da mesma forma que outras crianças idolatram estrelas de rock.

Em “Jojo Rabbit”, Jojo é um rapaz que tenta exaltar provas da sua coragem num campo de treino da Juventude Hitleriana, contudo, o resultado é desastroso. Por conseguinte, depois de ser alvo de chacota, e receber o apelido de “Jojo Rabbit”, o jovem de dez anos acaba por regressar a casa.

Ainda determinado em provar a sua devoção ao Führer, Jojo aceita distribuir folhetos da propaganda nazi na sua cidade natal, mesmo quando os rumores acerca da derrota iminente da Alemanha começam a ganhar força.

Todavia, certo dia, descobre que a sua mãe está a proteger Elsa Korr, uma jovem judia, e acaba por ficar dividido na sua tomada de decisão e ação. Perante este cenário, nem mesmo o seu amigo imaginário, o próprio Hitler, parece ter uma resposta.

Adaptado de “Caging Skies”, um obra de Christine Leunen, “Jojo Rabbit” conta com o argumento e realização de Taika Waititi. Em certa medida, o filme analisa a forma como o isolamento pode impactar psicologicamente as pessoas, e afetar inclusive a sua resposta à sociedade que as rodeia. 

Ao combinar humor satírico com drama, o público consegue sentir verdadeira empatia por Jojo, na ilustração sobre como a solidão e a insegurança acabam por levá-lo a abraçar a ideologia odiosa de Hitler. 

A obra de Waititi rasga simultaneamente a imagem da Alemanha nazi sem banalizar a sua defesa da supremacia branca ou os horrores que eles infligiram (ou ajudaram a causar) durante a Segunda Guerra Mundial. “Jojo Rabbit” pode estar cheio de piadas espirituosas e piadas visuais inteligentes, mas é capaz de fazer uma pausa e assumir um tom mais sério quando a ocasião o exige, ao passar de irónico para sombrio num piscar de olhos astuto.

Fotografia: Kimberley French. © 2019 Twentieth Century Fox Film Corporation All Rights Reserved

Do ponto de vista do personagem, existe o trabalho para que haja a transformação gradual de Jojo – de aspirante a fascista – para alguém capaz de reconhecer que amor e bondade são os caminhos para a sua existência solitária. 

Além do seu charme juvenil, Roman Griffin Davis traz um grau de nuance emocional impressionante à sua performance, e é acompanhado por Elsa, uma grande personagem cuja natureza travessa disfarça a sua verdadeira dor. Acima de tudo, é alguém que teve que crescer rápido demais sem aproveitar o tempo, e o conforto de McKenzie com o papel é mais uma prova do seu talento, após o seu trabalho em “Leave No Trace”. 

Waititi (que também interpreta Hitler) e Davis enfrentam-se de forma magnífica, com o jovem a conseguir transformar Jojo num personagem totalmente realizado. Scarlett Johansson, que dá vida à mãe do protagonista da história, é igualmente maravilhosa, e junta este trabalho ao seu currículo que, em 2019, só apresentou prestações de alto gabarito. 

Rosie é engraçada e encantadora, mas também possui uma tristeza inegável, isto é, uma melancolia derivada de um mundo enlouquecido e pela falta de esperança que o acompanha. As suas cenas com Davis apresentam um vínculo entre mãe e filho forte e genuíno.

No que toca ao restante elenco, Stephen Merchant interpreta um agente da Gestapo, Rebel Wilson surge na pele de Fräulein Rahm, e depois há Sam Rockwell, que dá vida ao capitão do campo de treino da Juventude Hitleriana, um personagem deveras engraçado. 

Obviamente, como não poderia deixar de suceder, o filme apresenta alguns defeitos, não obstante, acabam por não ser (isto na minha ótica) protagonistas. Por exemplo, o ritmo durante o segundo ato é um pouco diferente quando comparado ao início energético que apresentou o clímax. 

O estilo cinematográfico de Waititi é similarmente derivado de outros realizadores, todavia, a paralela com os trabalho de Wes Anderson (“Moonrise Kingdom”, durante as cenas dos acampamentos juvenis, e “The Grand Budapest Hotel”, na sua crítica ao regime nazi) são basicamente superficiais, e Waititi estabelece-se totalmente no seu próprio ritmo ao longo do filme. 

Fotografia: Larry Horricks. © 2019 Twentieth Century Fox Film Corporation All Rights Reserved

Provavelmente, seria possível conjecturar que um filme que conta com Hitler como personagem nunca poderia ser doce, no entanto, Waititi consegue alterar a mensagem e moldá-la em torno de um espírito de boa índole. 

Waititi poderia ter sobrecarregado “Jojo Rabbit” com momentos oportunos para que o público refletisse acerca do clima atual de ódio em que nos encontramos. Porém, o cineasta é mais perspicaz, e entende que não precisa de exaltar algo que é perfeitamente óbvio.

No filme, todos os nazis são mortais e perigosos, mas também são autênticos palhaços que têm crenças “estúpidas”. A chave para fazer esta história funcionar reside na descoberta de Jojo de que todo o seu culto nazi é falacioso. 

Efetivamente, “Jojo Rabbit” quer atribuir a crença de que há sempre uma oportunidade de redenção, e que a melhor maneira de acabar com o mal é permitir que a bondade prevaleça.

Não importa se esta crença é totalmente verdadeira ou não (e não me cabe a mim discutir sobre isso). O importante é não desistir, e termos fé no nosso percurso, tal como Rosie diz a Elsa a certa altura: “You keep living, that is how you beat them”. 

Para mim, esta é a mensagem definitiva de “Jojo Rabbit”, ou seja, de que temos sempre de ter coragem para enfrentar a vida. Nesse percurso, é apresentado o desafio de nos mantermos sempre afastados da escuridão, e embora ela nos possa alcançar mais cedo ou mais tarde, vamos enfrentar as adversidades, vamos viver, deixar morrer, e isso significa que estamos a ganhar.

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