Home FilmesCinema Jodorowsky’s Dune – O projeto maldito que se tornou fonte de inspiração para Hollywood

Jodorowsky’s Dune – O projeto maldito que se tornou fonte de inspiração para Hollywood

by Miguel Revel

“Qual é o objetivo da vida? É criar uma alma para si próprio. Para mim, o cinema é uma arte… mais do que uma indústria. E é a busca da alma humana… como a pintura, como a literatura, como a poesia. O cinema é isso para mim.” Estas são as primeiras palavras de Alejandro Jodorowsky no documentário sobre a criação da sua adaptação de “Dune”.

O realizador queria que o filme tivesse o mesmo impacto que a criação de uma nova religião, sendo ele o profeta responsável por passar a mensagem. Com esse objetivo, reuniu um exército de guerreiros, que tinham a missão de transformar a sua visão da bíblia de ficção científica de Frank Herbert em realidade.

O que mais me impressionou ao ver o documentário de Frank Pavich foi o facto de tudo estar tão embebido em símbolos e metáforas religiosas. No meio de todo o esoterismo da mente imaginativa e criativa de Jodorowsky, ele estava a lidar com o projeto como se fosse uma missão religiosa e, por acaso, várias das situações por que passou refletiam isso. Desde Salvador Dalí estar numa mesa rodeado por outras 12 pessoas num restaurante dos Champs Elysées, até H.R. Giger sentir-se como quando Cristo estava na cruz, enquanto trabalhava na composição visual do projeto.

Jodorowsky’s Dune, Sony Pictures Classics

Outro aspeto curioso é que Jodorowsky considerava-se um profeta e escolheu o seu filho para o papel principal, dando-lhe todo o treino de um verdadeiro guerreiro que mudaria a humanidade. Em divergência com o livro, o realizador decidiu que o protagonista seria criado a partir de uma gota de sangue do seu pai eunuco, inseminado no ventre da sua mãe, de forma semelhante a Deus fazer com que Jesus nascesse da Virgem Maria. E, quando morresse, seria um messias – “Eu sou os outros, os outros são eu”. – pois morreria fisicamente, mas não espiritualmente, tornando-se parte de todos, e transformando o planeta num paraíso, que percorreria o universo iluminando os outros planetas da galáxia.

O mais interessante é que foi exatamente isso que acabou por acontecer com o “Dune” de Jodorowsky. O filme foi morto pelos estúdios americanos, mas porque a sua mensagem tinha tanto coração, mente, poder e ambição, a ideia de “Dune” permaneceu no mundo como um sonho, e tal como Jodorowsky disse “os sonhos podem mudar o mundo”. E assim, um filme que nunca aconteceu mudou a mentalidade da indústria cinematográfica.

Quando vemos a inspiração óbvia de futuros clássicos de ficção científica como “Star Wars”, “Alien”, “Terminator”, “Raiders of the Lost Ark”, “Flash Gordon”, “Masters of the Universe”, “Contact”, “Prometheus”, entre tantos outros… percebemos que “Dune” de Jodorowsky criou realmente uma nova religião em Hollywood, a dos filmes de ficção científica que podiam ser peças de qualidade, com criatividade e imaginação, para além da ciência estrita dos livros. “Dune” morreu e, ao fazê-lo, abriu caminho para que a galáxia do cinema mudasse, filme após filme.

Jodorowsky’s Dune, Sony Pictures Classics

Curiosamente, é interessante ver que, passadas tantas décadas, Léa Seydoux, a sobrinha-neta do produtor original de “Dune”, Michel Seydoux, acabou por ser Lady Margot em “Dune – Part Two” de Denis Villeneuve, recentemente nomeado a 5 Óscares.

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