Sessenta e cinco anos depois da sua morte, James Dean vai regressar ao grande ecrã, num novo filme sobre a Guerra do Vietnam. Dean representou uma geração de adolescentes desiludidos com a sociedade, particularmente com o seu papel em “Rebel Without A Cause”, onde retratou Jim Stark.
Em 1955, James Dean morreu de forma trágica na sequência de um acidente de carro. Após o acidente, tornou-se o primeiro ator a receber uma nomeação póstuma ao Óscar na categoria de Melhor Ator.
Embora só tenha participado em três filmes, os adolescentes daquela geração que se identificaram com os personagens de Dean garantiram que o seu legado iria vigorar pelo tempo. O seu trajeto de vida serviu de inspiração para a conceção de múltiplos livros e filmes e, efetivamente, muitos realizador ainda consideram Dean como um dos melhores atores de sempre.
Agora, 65 anos após a sua morte, o ator terá outra oportunidade de surgir no grande ecrã. Segundo o Hollywood Reporter, Dean vai protagonizar “Finding Jack”, através de processos em torno do CGI, filmagens e fotografias.
Anton Ernst e Tati Golykh, realizadores do filme, obtiveram os direitos por parte da família para utilizar a imagem do ator, com o intuito de criarem “uma versão realista de James Dean”. Baseado no romance de Gareth Crocker, “Finding Jack” conta a história sobre o abandono de mais de 10.000 cães militares no final da Guerra do Vietnam.
“Pesquisámos a opção perfeita sobre quem poderia interpretar o papel de Rogan, que tem alguns arcos de caráter extremamente complexos, e após meses de pesquisa, decidimos que teria de ser James Dean. Sentimos-nos muito honrados pela família apoiar o projeto, e aceitar todas as precauções para garantir que o seu legado como uma das estrelas mais épicas do cinema permaneça intacto. A família considera-o como o seu quarto filme, um filme que ele nunca conseguiu fazer. Não pretendemos decepcionar os fãs “ – Anton Ernst (Hollywood Reporter)
Esta não é a primeira vez que um ator “ressuscita” através do CGI. Embora o ator Peter Cushing tenha falecido em 1994, ele apareceu em “Rogue One: A Star Wars Story”, de 2016, na pele de Grand Moff Tarkin. Nessa ocasião, foi utilizado um ator para retratar fisicamente o personagem e, posteriormente, utilizou-se a tecnologia do CGI para sobrepor o rosto do ator com o de Cushing.
Adicionalmente, “Rogue One” também fez algo semelhante para criar uma jovem princesa Leia. O realismo dos efeitos foi elogiado na altura, levando a indústria a adotar a tecnologia. Mais recentemente, “Gemini Man”, a longa-metragem protagonizada por Will Smith usou o CGI para criar uma versão mais jovem do ator. Embora o argumento do filme tenha recebido críticas medíocres, quase todos os críticos elogiaram a iniciativa como sendo uma maravilha tecnológica.
A má notícia é que a CMG Worldwide, que também possui os direitos de imagem de Dean, considera esta possibilidade como uma porta de entrada para trazer de volta alguns dos seus clientes já falecidos. Se “Finding Jack” chegar mesmo a existir, e for um sucesso, vai abrir caminho para uma série de filmes protagonizados por versões digitais de Jack Lemmon ou Maya Angelou.
Seja como for, parece muito pouco provável que este projeto possa chegar a bom porto. Tomemos como exemplo “The Irishman”, o novo filme de Martin Scorsese: ninguém o queria financiar devido ao facto da tecnologia (para “rejuvenescer” os protagonistas) a empregar ser demasiado cara. Por fim, surgiu a Netflix, que continua a desbravar um caminho ambicioso para a obtenção de prémios sonantes.
Ou seja, o filme de um maiores realizadores de sempre, protagonizado por dois atores conceituados, quase não aconteceu por ser demasiado caro. O que dizer de um filme de dois sujeitos que praticamente nunca trabalharam em cinema, e que pretendem triunfar com um ator que faleceu há quase setenta anos ?
Ernst é fundamentalmente conhecido por ter produzido um filme de Jean-Claude Van Damme, em 2004, chamado “Wake of Death”. Quanto a Golykh, nunca realizou uma longa-metragem na sua carreira.
Efetivamente, é provável que este assunto volte a alimentar a controvérsia no que toca à possibilidade de usar-se a imagem de atores que já não estão entre nós.
Para além de ser prejudicial para os atores que ainda estão vivos, acaba por ser cimentada uma má imagem de Hollywood, que parece querer explorar atores que já não têm o poder de tomar decisões sobre as suas carreiras.
No final, mesmo que o filme seja concebido, a magia imposta pela performance de James Dean não será visível ou almejada…porque tornou-se imortal há sessenta e cinco anos atrás.