Home FilmesCinema“J’accuse”: O regresso tímido de Polanski

“J’accuse”: O regresso tímido de Polanski

by João Pedro

Roman Polanski está de volta com um filme de época em torno de um período histórico da política francesa, nomeadamente acerca de Alfred Dreyfus, que captou a atenção de uma nação inteira durante a década de 1890.

“J’accuse”, o novo filme de Roman Polanski conta com a participação de Jean Dujardin, que interpreta Picquart,  um coronel que, depois de ser designado como chefe do serviço de inteligência, começa a perceber que pode existir um encobrimento maciço de informação por parte dos níveis mais altos das forças armadas.

Dreyfus (Louis Garrel), um oficial, é condenado a prisão perpétua por acusações de traição. Neste caso de injustiça da mais alta ordem, supostamente marcado por discriminação racial (Drefyus é judeu), ao invés de existirem evidências claras de crime, Picquart tentar corrigir a sentença, enquanto é submetido a um tremendo confronto profissional.

Depois de Dreyfus ser preso, os superiores de Picquart não têm qualquer interesse em reabrir o processo e, adicionalmente, não fazem tensão de admitir que culparam o homem errado. 

Por conseguinte, com o intuito de impedir que a verdade seja revelada, Picquard é enviado para o interior de França. 

Embora os melhores dramas históricos tenham o engenho de manter o público em alerta do início ao fim, mesmo quando quando não há mistério sobre o final ( “Apollo 13” continua a ser um bom exemplo disso), “J’accuse” assinala cada desenvolvimento da história de maneira mecânica e desinteressante. 

Qualquer controvérsia que possa surgir sobre a decisão de Roman Polanski ao tentar equiparar-se implicitamente a uma das maiores vítimas de injustiça da história, é dissipada pela morna apatia do filme. 

Polanski sabe uma coisa ou duas sobre suspense, como um dos verdadeiros herdeiros de Alfred Hitchcock, mas o seu aclamado dom para a tensão e paranóia acaba por traí-lo nesta obra, embora esta história seja repleta de vigilância (estilo do século XIX), mentiras e decisões suspeitas.

Caso em questão: depois do famoso “J’accuse!” ter sido publicado (o artigo que Émile Zola escreveu na realidade, e que expõe a injustiça acerca do caso de Alfred Dreyfus), há uma cena no filme em que um grupo de franceses queima os livros de Zola. 

Num outro filme, Polanski teria feito com que o público sentisse o terror imposto naquele momento, ou por outra, o ódio e o anti-semitismo da multidão. Em vez disso, a cena termina rapidamente, com cortes excessivos, colocando até em causa a sua necessidade na longa-metragem. 

Não obstante, grande parte da monotonia do filme pode ser conectada a Dujardin, que, a meu ver, não consegue entender o papel na sua plenitude. 

Todavia, há muito que admirar do ponto de vista da fotografia, com Pawel Edelman (um colaborador frequente de Polanski) a usar a luz natural numa densidade interessante, e que se adequa aos detalhes do período histórico, desde os documentos até aos uniformes do exército. 

© Guy Ferrandis – Légendaire – RP Productions – Gaumont – France 2 Cinéma – France 3 Cinéma – Eliseo Cinema – Rai Cinema

“J’accuse” oferece um toque ocasional do que Polanski faz de melhor, seja uma cena num bar que se pode equiparar a uma pintura de Toulouse-Lautrec, ou por momentos agitados de violência súbita. Porém, estes momentos excepcionais servem apenas para sublinhar a falta de adrenalina na génese do filme.

O principal tema a ser analisado neste filme, e que é, ao mesmo tempo, extraordinariamente atual, é o do anti-semitismo, difundido especialmente nas classes sociais que inevitavelmente tendem a condicionar a opinião pública e, portanto, geram crenças desenfreadas. 

Intelectuais como Emile Zola lutam frequentemente contra essas ideais, e encarregam-se de espalhar uma verdade demasiado desconfortável para políticos ou outro tipo de personalidades de alto gabarito. 

Em certos pontos, o enredo promete a possibilidade de uma intensificação da demanda, mas que acaba por não chegar a bom porto. Não há dúvida sobre o valor da reconstrução histórica, mas parece que falta um elemento chave para que este não seja só mais um filme no reportório de Polanski, que, infelizmente, não perdura na memória dos aficionados pelo cinema.

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