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“Inhuman Resources”: És tu, Cantona?

by João Pedro

“Inhuman Resources”, ou “Dérapages”, é uma das mais recentes minisséries da Netflix. Tem apenas seis episódios, cada um com a duração de 45 a 50 minutos. Alain (Eric Cantona), um homem de cinquenta e poucos anos, está desempregado há 6 anos, e vai fazendo biscates para levar algum dinheiro para casa. Quando surge a oportunidade de garantir um emprego bem remunerado, decide fazer o que for necessário para garantir a estabilidade que perdeu há muito tempo e, por sua vez, recuperar a dignidade.

“Dérapages” foi realizada por Ziad Doueiri. O argumento ficou a cargo de Perrine Margaine, que adaptou a história (inspirada em factos verídicos) de Pierre Lemaitre.

A série é protagonizada por Eric Cantona (antigo jogador de futebol), Suzanne Clément, Alex Lutz, Gustave Kervern, Alice de Lencquesaing, Louise Coldefy, Adama Niane, Carlos Chahine, Clémence Bretécher e Yann Collette.

Cantona, uma lenda viva do Manchester United, envergou na representação depois de pendurar as chuteiras, e, pelos vistos, tem trabalhado numa carreira sólida, enquanto ator, em França.

Escrevo “pelos vistos”, porque nunca tinha visto um dos seus trabalhos fora das quatros linhas (à exceção das várias participações em anúncios da Nike). Por isso, quando esta série francesa surgiu no meu feed da Netflix, fiquei curioso.

Baseado num livro de Pierre Lemaitre, Cantona interpreta Alain Delambre, um gerente de recursos humanos, de 57 anos, que é despedido do emprego de longa data. Desta feita, enquanto tenta arranjar um novo trabalho, vai fazendo biscates. E, assim, vão passando seis anos. Até que os problemas começam.

Alain Delambre adora a família. Mas (tal como o próprio Cantona), Delambre também é um homem orgulhoso, que tem problemas em controlar a raiva. Num dos biscates que arranja, agride um superior, e acaba por ser denunciado.

Sem dinheiro para combater o caso, vai contra o próprio instinto, e candidata-se a um emprego de Recursos Humanos, numa multinacional. Não obstante, isso desencadeia uma série de eventos que o leva à prisão.

Nas mãos de uma equipa de produção medíocre (como “American”), “Dérapages” ia arrastar-se por várias temporadas. Mas aqui, acontece tudo em apenas 6 episódios. E era fácil fazer render o peixe para várias temporadas.

O primeiro episódio, incide no drama familiar. O segundo, mergulha na “natureza impetuosa” de Alain, e na forma como ele decide preparar-se para a entrevista de emprego. O terceiro, é uma situação ao estilo de “Dog Day Afternoon”. O quarto, é a análise sobre a vida na prisão. E o quinto e o sexto, unem-se para espelhar um drama de tribunal.

Ao longo de tudo isto, contamos com espionagem corporativa, organizações terríveis, hackers, segredos roubados e sequestros.

© Stephanie Branchu

Mas o cerne da questão, é que nada parece tremendamente exagerado. Nada parece desfeito, não obstante a enorme quantidade de história que é apresentada. Não há pressa em contar os pormenores. Somos convidados a acompanhar a história de um homem desesperado, que tenta fazer o melhor pela família.

Embora nunca tenha visto nenhum dos seus trabalhos anteriores, devo dizer que Eric Cantona surpreendeu-me neste seu mundo da representação.

É claro que, de certa forma, Alain Delambre é muito semelhante ao próprio Cantona, só que tem um nome diferente. Isso pode ter ajudado a antiga glória do futebol. É leal, orgulhoso e temperamental.

Seja como for, a performance está longe de ser irrisória, ao contrário, digamos, da participação de Neymar na quarta temporada de “Money Heist”, ou de Marshawn Lynch na última temporada do Westworld.

Claro que também existem incoerências no argumento. No início, Alain é ingénuo e inexperiente, e, de repente, surge quase como um chefe da máfia. Porém, Ziad Doueiri sabe como manter o padrão alto de curiosidade ao longo da série.

Além disso, existe uma caraterização sólida para o próprio Alain, enquanto o vemos permutar do homem deprimido e desempregado, para um estratega pronto para manipular as pessoas ao seu redor.

Apesar das táticas obscuras e descontroladas, “Dérapages” faz um ótimo trabalho, ao manter o público a torcer por Alain, independentemente das suas ações. O personagem tem uma demanda muito semelhante à de Walter White, em Breaking Bad, quando o vemos a assumir o papel de homem leal à família, mas que, quando surge a oportunidade, escolhe o crime na tentativa desesperada de colocar a vida nos eixos.

Para além de Cantona, o restante elenco também faz um bom trabalho nos respetivos papéis, e com uma química interessante entre si.

A série aborda algumas questões sociais importantes, como o desemprego, a luta em encontrar trabalho após uma certa idade, e a discussão sempre relevante em torno da saúde mental.

Para mim, no que toca a thrillers, não há dúvida de que “Dérapages” é certamente um dos mais interessantes deste ano até agora.

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