Uma imagem pode ser uma catarse sublime. Uma imagem pode valer mais do que mil palavras dispostas. Acontece algumas vezes. Sabemos que é possível. Só temos de prestar atenção à fórmula e à dimensão.
Em “If Anything Happens I Love You”, as imagens combinam entre si para criar uma das curtas-metragens mais emocionantes dos últimos tempos. Não existem diálogos. O que falta em dobragem, é mais do que compensado com a banda sonora e os temas apresentados.
A curta foi escrita e realizada por Michael Govier e Will McCormack, que trabalhou no argumento de “Toy Story 4”.
Os protagonistas são dois pais que, devido à dor causada pela perda da filha, tentam explorar a vida que lhes resta. Embora não falem, as emoções tomam forma graças às sombras.
Desta forma, as cores também têm um papel fundamental. A maior parte da imagem animada é desenhada com traços a preto e branco. Os rostos surgem acompanhados por sombras, que atuam como uma manifestação do subconsciente destas personagens.
Não obstante, o azul é usado com um motivo repetido ao longo da curta, que simboliza a depressão e a tristeza. O que começa por ser uma camada fina de tinta na parte lateral de uma casa, evolui lentamente para dar espaço a uma criança que cresce e encontra alegria com os pais. Ao lado, está o amarelo, outra cor primária, e que simboliza exatamente o oposto – a esperança e a alegria.
A animação, com um estilo simples mas extremamente expressivo, e com o preto e branco a ser interrompido apenas por alguns salpicos de cor, tal como a história emocionante, fazem com que “If Anything Happens I Love You” seja um dos melhores trabalhos que vi em 2020.
O uso inteligente, mas criativo, das sombras e a mensagem de grande impacto, deixam uma marca na alma e na mente do público, que não consegue deixar de ficar envolvido.
São doze minutos de um realismo contundente e significativo, que se destina não só a quem gosta de animação, mas que atinge todo o tipo de espetador sem dificuldade.