Uma invasão familiar preenche as salas de cinema do país com a estreia deste “À Espreita do Mal” (I See You), um dos primeiros filmes de terror/suspense da década.
O género de terror/suspense é uma das maiores montanhas-russas que a sétima arte nos pode dar. Não tanto na experiência de ver os filmes, mas sim na qualidade dos filmes que nos são dados.
Nos últimos tempos, esta amplitude de qualidade é drástica. Tanto nos oferecem obras geniais como “Conjuring” e “Hereditário”, tal como filmes de culto como “It Follows” ou “Raw”, como também temos de nos proteger de desastres como “A Ilha da Fantasia”, “Annabelle” ou “The Open House”.
Neste sentido, em que plataforma desta escala é que se posiciona este novo “I See You”?
“I See You” conta-nos a história de uma família que se está a desfazer internamente, devido ao facto da mãe ter sido infiel. O pai, detective na pequena cidade, investiga o desaparecimento de uma criança, que tem semelhanças com um caso de desaparecimentos que ocorreram anos antes na cidade.
Enquanto isso, a família é aterrorizada por acontecimentos inesperados e sem explicação que vão ocorrendo na sua própria casa.
Ora bem, vamos meter os pontos nos i´s… “I See You” não é um bom filme. Nem chega a ser um filme medíocre.
No fundo, o conceito e a ideia por detrás do filme é interessante e poderia ter pernas para andar. Porém, caí em várias armadilhas e erros fatais que matam todo o seu potencial.
O argumento “I See You” é escrito por Devon Graye, sendo este o primeiro argumento que ele escreveu. E nota-se, descaradamente. O filme não tem um grande ritmo, é recheado por clichês e decisões advindas das personagens que faz o espectador coçar a cabeça.
Por falar em personagens, estas brincam num limbo entre o esquecível e o desprezível. Em toda a duração do filme, não existe qualquer tipo de protagonista e o papel de antagonista saltita como bola de ping-pong, deixando o espectador sem nenhuma bóia a que se agarrar.
Os actores aparentam não ter qualquer tipo de direcção por parte do realizador Adam Randall, oferecendo interpretações insípidas e impávidas sobre aquilo que as rodeia. Desde o mais velho ao mais novo, nenhum consegue criar uma personagem interessante, muito devido ao facto do argumento com que têm de trabalhar.
“I See You” ainda sofre de um problema fulcral para um filme de terror – não consegue criar ambiente. Como o argumento bate em muitos lugares comuns para o espectador, Randall deveria conseguir criar um ambiente sinistro e sombrio, de forma a obter uma identidade própria e agarrar o espectador.
Porém, a falta de protagonista, argumento desequilibrado e uma banda sonora demasiado ribombante leva a que “I See You” tente ferir a susceptibilidade do espectador, mas faz parecer que se trata de um passeio no parque.
“I See You” é uma aposta falhada no género de terror/suspense para este início da década. Apesar do conceito base ser interessante, todas as decisões que “I See You” faz para se destacar caem por terra, fincado-se somente entre o patamar de aborrecido e esquecível. Não é um desastre total, mas não será certamente lembrado por muito tempo.