O que é que pode acontecer quando alguém decide juntar Al Pacino – no seu primeiro papel de longa duração em televisão – os horrores do Holocausto e um grupo de caçadores de Nazis? “Hunters”, da Amazon Prime, explora esse resultado. É uma fusão excêntrica, talvez bizarra, de drama histórico, comédia, banda desenhada, filmes de exploração dos anos 70 e até do trabalho de Quentin Tarantino.
“Hunters”, da Amazon Prime, é um medley de tons e ideias, ao variar entre a violência no estilo de Quentin Tarantino, humor inexpressivo e drama surrealista. Ao fim e ao cabo, tudo isto se mistura numa variedade de ideias diferentes lançadas nesta série de 10 episódios, que, embora confusa, acaba por ser estranhamente cativante.
América. Década de 1970. No centro da história está Jonah (Logan Lerman), um jovem de 19 anos que vê a vida virada de cabeça para baixo quando, sem aviso prévio, a sua avó é assassinada a sangue frio por uma figura misteriosa. No velório, Jonah é abordado por um homem chamado Meyer (Al Pacino), um velho amigo da avó que, rapidamente, fica envolvido na vida do protagonista.
Por almejar vingar a morte da avó, Jonah acaba por descobrir o seu passado. Por conseguinte, vai ocupar o seu lugar num grupo de personalidades que caça vários alvos Nazis.
Embora esta história consuma a maior parte da série, também conhecemos a agente Millie, que começa a juntar as migalhas das evidências em torno dos múltiplos homicídios que vão ocorrendo ao longo do tempo. Adicionalmente, juntam-se outros sub-enredos, como o de Biff, um Nazi de alto escalão que está infiltrado dentro da casa branca.
Há muita coisa a acontecer ao mesmo tempo. São várias histórias que convergem e que se interrompem ao longo dos dez episódios (cada qual com 1 hora de duração). E, efetivamente, apesar da premissa aparentemente apetecível, alguns destes episódios são demasiado longos e lentos.
O ritmo é um problema inerente a esta série, com exceção, por exemplo, para o sétimo episódio – que é excelente. O tempo de execução de mais de sessenta minutos para a maioria destes episódios (isto sem mencionar o primeiro, com noventa minutos de duração), não serve de razão justificável para o resultado final que é apresentado. A história poderia ter sido contada facilmente (embora de uma forma não tão eficaz) através de um filme mais longo, ao invés de num formato de série.
As tentativas de drama histórico, sério e sombrio, nem sempre combinam muito bem com o grupo, ao estilo comick, liderado por Meyer, que inclui Harriet (Kate Mulvany), uma antiga freira espiã, Lonny Flash (Josh Radnor), um ator, e Roxy Jones (Tiffany Boone), uma ativista.
O problema é que nem todos os personagens partilham a mesma mensagem, e isso resulta numa mistura de tons que não combinam da forma mais adequada e, na pior das hipóteses, desarticulam parte da premissa que está a ser construída.
Mesmo assim, apesar de alguns problemas, “Hunters” não deixa de ser relevante. Existem momentos genuinamente memoráveis, sendo que parte da ação é muito bem filmada. Quando a banda sonora funciona, harmoniza-se perfeitamente com o enredo espelhado. Desta forma, o sétimo episódio assume facilmente o destaque de todo a série, numa hora muito bem passada de tensão desconcertante.
A relação complexa de Johan com o conceito de vingança da morte da avó, foi o que mais me interessou ao longo da série. Apesar da satisfação e do prazer de presenciar um tipo de vingança utópica, são sempre levantadas questões relevantes.
De facto, o protagonista não aceita de imediato os caminhos bárbaros do grupo de caçadores, perguntando-se sobre o que é certo fazer e reclamando que só os bons devem impor-se para respeitar as regras. A metáfora do xadrez, juntamente com a dos super-heróis, é o verdadeiro orgulho narrativo da série, e serve (nem sempre da forma mais adequada) para a reflexão em torno do que é a justiça.
“Tal como todos no império Galático, Darth Vader foi condicionado para acreditar que uns Jedi rebeldes maus de um buraco no deserto vinham bombardear os pais dele, decapitar os amigos (…) O Vader não se levantava todos os dias com vontade de destruir a galáxia. Levantava-se a acreditar que tinha de a salvar”.
A vida e o personagem de Johan são introduzidos na série a partir de uma reflexão nerd sobre “Star Wars” (monólogos / conversas que se assemelham ao mundo de Tarantino). Um pensamento inofensivo que é sugerido ao público, como se fosse uma forma de nos fazer compreender, ou simplesmente tentar dar uma explicação a todas aquelas ações que estão ocultas tanto por trás da ideologia Nazi como por trás do pensamento da missão dos caçadores judeus.
Só por isso, “Hunters” é um passeio selvagem, de certa forma cativante, e, não obstante esteja longe de ser das séries mais consistentes do ano, não deixa de ter crédito para surgir nas nomeações aos Golden Globe Awards.
A série tenta facultar uma boa recompensa com duas grandes reviravoltas no final. A segunda temporada ainda não está confirmada, contudo, as revelações deverão ser suficientes para motivar algumas pessoas a voltar para ver o que acontece a seguir.
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