Para Sophie, uma jovem produtora de chapéus, a vida é a personificação do mar calmo, onde a monotonia reina. Porém, certo dia, enquanto divaga pela sua cidade, é abordada por dois guardas antipáticos. Com medo das intenções dos dois homens, ela acaba por ser salva por Howl, um feiticeiro misterioso. Embora a jovem regresse a casa em segurança, os seus problemas não terminam, visto que uma Bruxa, com ciúmes da sua interação com o feiticeiro, decide lançar-lhe uma maldição caricata.
Envergonhada pela sua transformação repentina numa mulher idosa, Sophie foge da cidade e começa a percorrer o interior de Waste, na busca de uma cura para a maldição. No seu caminho, encontra um espantalho que a leva ao castelo de Howl. Sem saber que o castelo é a morada do feiticeiro, ela entra e assume o papel de governanta.
Rapidamente, a jovem envolve-se numa aventura mágica, enquanto continua a procurar a sua própria cura. Ela tem que ajudar Howl e os seus amigos, enquanto tentam escapar das garras da tal Bruxa malvada, bem como do poder monárquico da cidade, que tenta forçar Howl a entrar numa guerra contra uma região vizinha.
Na generalidade, embora evidencie algumas falhas, “Howl’s Moving Castle” (título original: “Hauru no ugoku shiro”) é um dos filmes de animação da minha infância, e, por conseguinte, um dos mais agradáveis que já vi.
A história vem da caneta de Dianne Wynne Jones, uma autora galesa, e é basicamente uma jornada de descobertas fantásticas.
O enredo incide em dois tópicos principais. O primeiro segue a aventura de Sophie, enquanto procura uma cura para o feitiço sobre o qual foi transformada numa mulher de 90 anos. Ao longo do tempo, a jovem é lançada num mundo mágico que nunca havia testemunhado. Parte desta sua aventura também abrange afeições por Howl.
A segunda parte da história gira em torno da vida do próprio Howl, visto que, para além de fugir, ele também está sob uma maldição, e acabará por cair num destino desagradável, a menos que alguém mude essa realidade.
Adicionalmente, também temos sub-histórias secundárias que giram em torno de Calcifer, um fogo que fala e que controla o castelo em movimento, e o espantalho, que leva Sophie a encontrar a sua nova casa.
É uma epopeia interessante. Absorve o público desde o início, enquanto explora a imaginação de cada um. Mesmo que o final seja previsível, há algumas surpresas que chamam a atenção, além de resumir bem todos os tópicos principais e secundários da história.

© 2004 – Studio Ghibli
Embora a história e a animação sejam predominantemente voltadas para um mercado mais jovem, o conteúdo é adequado para qualquer adulto assistir sem ficar aborrecido.
Não obstante “Howl’s Moving Castle” tenha a preocupação de focar Sophie e Howl, todos os outros personagens ajudam a manter o filme num ritmo muito bom.
Muitos dos personagens vivem das vozes, e isso foi uma surpresa para mim, visto que, embora tenha ouvido a versão dobrada em português quando era mais pequeno, e, mais tarde, também na original, ouvi recentemente a versão na dobragem americana. E, por momentos, nem me apercebi que estava a ouvir alguns dos maiores nomes de Hollywood, como Christian Bale, Jean Simmons, Billy Crystal e Lauren Bacall.
Os personagens, embora não sejam muito detalhados, são bonitos pela sua simplicidade e, na minha opinião, isso é primordial na animação.
Cada movimento, seja um movimento facial simples ou um movimento rápido do braço, é desenhado de forma tão bonita e suave, que, por momentos, conseguimos esquecer que estamos a ver um desenho animado. É muito mais que isso.
Os planos de fundo são bonitos, porém, neste caso, são tão detalhados, que contribuem para um bom cenário para a ação principal.
O Castelo Andante, uma estranha mistura de salas, torres, janelas e pernas robóticas, que o impulsionam pelo chão, é uma obra-prima. Sempre que olho para ele, posso identificar algo diferente. Ele treme a cada passo. É uma peça incrível de animação.
Estou certo de que “Howl’s Moving Castle” agrada a muitos grupos etários diferentes. Os mais pequenos ficam boquiabertos pelo trabalho de animação propriamente dito, mas, obviamente, perdem-se na história. Por outro lado, os adultos podem desfrutar do pack completo: a animação e a história.
Tal como sucede em todos os filmes de Hayao Miyazaki, “Howl’s Moving Castle” está inserido num mundo alternativo, que mistura emoções, gentileza e capricho.
Miyazaki não procura a perfeição ou o realismo nas suas imagens. Algumas das suas paisagens mais impressionantes são impressionistas. Isso dá-lhe a liberdade de enfatizar a alegria indescritível, tanto no que é grande (o castelo a arranhar as colinas como um pastor que olha pelo seu rebanho) como no pequeno (um cão pequeno que corre em pânico) que ele apresenta.
Fundamentalmente, o castelo de Howl é uma fábula sobre a natureza do amor – amor puramente oferecido e sem reservas. E para chegar lá, progredimos numa série de incidentes sobrenaturais que demonstram, um após o outro, todas as coisas que pensamos que são amor, mas não são. Não pode ser apenas atração, não vem com condições ou pechinchas, não se expressa em grandes gestos ou sacrifícios altruístas. O amor é apenas amor, e essa ligação à felicidade torna-nos fortes e livres.
E depois, Sophie, que sofre a maldição de assumir a forma de uma senhora idosa, vai recuperando a sua juventude em algumas partes do filme. O que é que isso pode significar ?
Miyazaki mostra-nos que, na ausência de explicações, o mundo pode ser um lugar assustador. “Howl’s Moving Castle” é mais sobre poesia do que razão. E, quando chegamos ao fim, a sensação que resta é mais simples do que a maioria dos filmes pode proporcionar.