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Hotel Mumbai: A realidade que não podemos ignorar

by João Pedro

“Hotel Mumbai” é um thriller inspirado nos ataques terroristas que ocorreram na cidade de Mumbai em 2008. Com a participação de Dev Patel, Armie Hammer e Jason Isaacs nos papéis de alto relevo, o filme é intenso e implacável ao abordar este ato de pura maldade, bem como o heroísmo altruísta daqueles que tentaram ajudar.

Em Novembro de 2008, um grupo islâmico paquistanês realizou um ataque terrorista em Bombaim. O grupo abriu fogo em vários locais da cidade, incluindo numa estação ferroviária, um café e no Taj Mahal Palace Hotel. Infelizmente, não existiam forças policiais capazes de combater a ameaça em Bombaim e, desta feita, a cidade teve de pedir ajuda a Nova Dehli, que demorou quase sete horas a enviar reforços.

Numa co-produção entre a Índia, a Austrália e os Estados Unidos da América, “Hotel Mumbai”  centra-se nas ações brutais que aconteceram no Taj Mahal Palace Hotel, fornecendo uma série de pontos de vista por parte dos intervenientes, ou seja, dos terroristas, dos funcionários do hotel e dos vários hóspedes e convidados presentes.

Durante o filme, existe uma constante tensão implacável. Efetivamente, é retratada a forma como os terroristas não têm dó nem piedade dos civis que se encontram no hotel, o que acaba por obrigar o público a imaginar e ponderar como os acontecimentos deverão ter sucedido na realidade.

Apesar de tudo, nesta história, não existe uma figura semelhante a John Mclane (“Die Hard”) para salvar o dia, uma vez que estamos perante um grupo normal de trabalhadores. No entanto, o filme não é necessariamente incapaz de apresentar cenas de qualidade. O jogo do gato e do rato entre os terroristas e a equipa do hotel, os convidados e a polícia acaba por garantir que não exista aborrecimento desmedido, mas exalta uma boa dose de stress à mistura.

Esta é a primeiro longa-metragem do realizador e argumentista, Anthony Maras, que trabalhou ao lado de John Collee na concepção do argumento da obra.

Os terroristas ambicionam a riqueza extravagante dos convidados do Taj Mahal Palace Hotel. O massacre é brutal, e Maras, sem apelo nem agrado, mostra que ninguém é poupado. No grupo constituído por homens, mulheres e criança, poucos conseguem sobreviver ao punhado de jovens extremistas que vêem as suas vítimas como meros danos colaterais.  

Entre os hóspedes do hotel estão David e Zahara (Armie Hammer e Nazanin Boniadi), um casal de estrangeiros que, devido à sua aparente riqueza e status, acaba por ficar refém do grupo. Não obstante, o casal tem um bebé, que, juntamente com a sua ama, é obrigado a integrar todo aquele terror. Adicionalmente, surge ainda um russo misterioso (Jason Isaacs), cujo alto escalão contribuirá também para que seja tomado como prisioneiro.

Por conseguinte, Arjun (Dave Patel) e Hement (Anupam Kher), o seu chefe, que são funcionários do hotel, arriscam a vida para manter os convidados a salvo. Estes atos cruciais de heroísmo formam a espinha dorsal do filme, mas acabam por não servir de oásis ao sangue derramado.

Maras expõe a letalidade dos ataques com uma eficiência notável, e que tem um efeito desconcertante e até mesmo arrepiante. Não obstante, com o tempo, a contagem crescente de corpos e o retrato inabalável de horror acaba por tornar-se desagradável.

Em contrapartida, o exagero da violência acaba por ser temperado pelo desempenho do elenco, em particular de Patel, que é um ator com uma habilidade fora do comum para se conectar com o público, independentemente do papel que se proponha a efetuar.

Ao mesmo tempo que enfrenta os terroristas, Arjun tem de lutar com a discriminação das pessoas que jurou proteger. Assim, esta luta interior do protagonista é parte do argumento que Maras poderia ter explorado com maior exatidão e brilho. Desta feita, o rumo da trama parece ter cedido às exigências de um grande thriller de ação de Hollywood.

Contudo, o filme realça a forma como as diferenças entre as religiões e as culturas podem não ter grande destaque ou importância quando as pessoas são forçados a unir esforços em prol da sobrevivência.

Embora não explore o potencial de todas as personagens, e se possa tornar inclusive um pouco cansativo, “Hotel Mumbai” recria a natureza vil e angustiante de um ataque terrorista. Desde a forma como o som é alternado e editado para fornecer uma melhor experiência ao público, até às cenas mais penosas de assistir, os espectadores acabam sempre por levantar a questão: “o que é que eu teria feito nesta situação?”.

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