Do ponto de vista meramente comercial, dividir “Harry Potter and the Deathly Hallows:” em dois filmes foi uma decisão vencedora. Não obstante, esta primeira parte da reta final da saga, é, do conjunto dos oito filmes, o que pode causar mais problemas aos fãs que não tenham lido os livros. Entretanto, Harry, Hermione e Ron cresceram. Os horrores que conheceram em Hogwarts, são apenas lembranças nostálgicas. Agora, enfrentam a vastidão do mundo por conta própria, e Voldemort e os Devoradores da Morte aproximam-se cada vez mais.
As primeiras cenas de “Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1”, inserem-se de forma perspicaz na linha narrativa. A cena inicial, quando Hermione apaga todo o conhecimento em torno da sua existência, no cérebro dos pais, é de partir o coração (e é a primeira peça que conhecemos o trabalho de Alexandre Desplat, o compositor francês que termina o legado de John Williams, Patrick Doyle e Nicholas Hooper).
Posteriormente, os personagens são apresentados rapidamente, e, de repente, já estamos a testemunhar uma batalha nos céus. E aqui, surge algo que Steve Kloves (argumentista que trabalhou em praticamente todos os filmes) até fez realmente melhor do que J.K. Rowling escreve no livro.
No livro, durante a batalha dos “Sete Potters”, Harry é denunciado pelo facto de utilizar o feitiço Expelliarmus. Na altura, mesmo quando li o livro pela primeira vez, considerei isso um exagero. Contudo, no filme, Harry acaba por ser denunciado por Hedwig, que morre na batalha a tentar protegê-lo. Bom, e, neste aspeto, tiro o chapéu a Kloves. Foi um momento trágico e comovente. (Adicionalmente, temos a cena com o comboio parado, que também não está no livro, e realmente, serve apenas para garantir que Neville aparece no filme, mas está muito bem feita).
Também temos o momento agradável, que não tem correspondência nos livros (muitas vezes, as adições nas adaptações de romances têm coisas novas, e, regra geral, têm pelo menos algum tipo de conexão, mas isso é puro brilho da parte dos cineastas). Refiro-me, por conseguinte, à utilização de “O Children”, música de Nick Cave, no momento em que Harry e Hermione dançam.
Eles estão a tentar esquecer o clima de guerra que vivem, mesmo que por pouco tempo. É uma das poucas vezes em que o mundo exterior decide aparecer, e a música é usada de forma perfeita.
A história tem início logo após o final de “The Half-Blood Prince”. Com Dumbledore morto, Voldemort (Ralph Fiennes) está a ascender, e Harry (Daniel Radcliffe) vê-se em apuros.
Uma confederação dos amigos e aliados do Rapaz Que Sobreviveu, está disposta a protegê-lo. No entanto, Harry ainda está longe de encontrar os seis horcruxes restantes, e que devem ser destruídos para tornar Voldemort vulnerável.
Após a morte do Ministro da Magia (Bill Nighy), o Senhor das Trevas assume o controlo da comunidade mágica, e Harry torna-se o Inimigo Público # 1. Ele, Hermione e Ron, embarcam na missão de descobrir o paradeiro dos horcruxes, e os meios pelos quais eles podem ser destruídos.
O sol foi vencido. O humor foi retirado. O romance causa dor e perda. David Yeats, o realizador, afastando-nos das aventuras alegres das crianças, através das selvas espinhosas da angústia adolescente e para o mundo sombrio da vida adulta.
O ritmo é desigual, com passagens lentas intercaladas com cenas de ação tensas e instâncias mais significativas.
Aproximadamente metade da duração da longa-metragem, segue o trio na sua demanda – algo que funciona bem no livro, mas que tende a arrastar-se no grande ecrã.. A abordagem sem pressa também atenua parte do suspense, embora ajude a criar a sensação de pavor.
Do início ao fim, este filme é um estudo em anti-clímax. Há um sentido da narrativa que anda em círculos, mas que não avança muito.
Os esquemas de cores e tons deste filme são muito nítidos, escuros e vívidos, e a cinematografia é quase deslumbrante. Como Yates é obrigado a tirar os personagens da rotina habitual de Hogwarts, e a focar a aventura em florestas sombrias, surgem tons ricos de terra – marrons, verdes escuros e cinzentos, cores que não estão tão relacionadas com outros filmes de “Harry Potter”,
Radcliffe, Watson e Grint tornaram-se habilidosos, e Watson é especialmente perspicaz em preencher os momentos tranquilos da sua performance com um drama genuíno e envolvente. É certamente discutível, mas eu diria que a atriz consegue ser superior aos outros dois colegas.
Em suma, “Deathly Hallows: Part 1” termina num ponto em que o palco está totalmente preparado para o confronto épico que vai suceder no último filme, e que é uma viagem ininterrupta de emoção.