“Glow” estreou em 2017 na Netflix e já foi renovada para a quarta e última temporada. Com cores vibrantes e um elenco que brilha no ringue, esta série merece ser vista.
Tudo começa e passa-se nos anos 80 com Ruth Wilder (Alison Brie) a querer ser atriz custe o que custar, porém acaba por sofrer daquele preconceito de que nesta profissão há que ter o corpo e a cara bonita. No entanto, surge a oportunidade de uma audição para um programa de televisão, que acaba de ser criado, sobre wrestling feminino, o GLOW. É certo que à primeira vista parece que de representação não tem nada (pelo menos é assim que Ruth pensa) mas há muito mais que se lhe diga.
Separando esta crítica por temporadas, na primeira temos o começo de tudo. Começamos por ser introduzidos às atrizes escolhidas e às suas personagens em tom de sátira num elenco diversificado e muito bem escolhido composto por Cherry Bang – a treinadora na primeira temporada e Black Magic na 3ª (SydelleNoel), Rhonda/Brittanica(Kate Nash), Carmen/Machu Picchu (Britney Young), Sheila/She-Wolf (Gayle Rankin), Tammé/The Welfare Queen (Kia Stevens), Melanie/Melrose (Jackie Tohn), Dawn e Stacey/Edna and Ethel (Kimmy Gatewood e Rebekka Johnson), Arthie/Beirute (Sunita Mani), Jenny/Fortune Cookie (Ellen Wong) e ainda Reggie/Vicky The Viking (Marianna Palka).
A par e passo temos toda a preparação e os treinos das mesmas para serem lutadoras de wrestling (sem se magoarem), visto que nenhuma delas nunca tinha lutado, enquanto colocam um storytelling no que fazem, visto que é um programa de televisão – quase um inception de histórias, se formos a ver bem.
Embora fiquemos a conhecer bem cada uma das personagens, os grandes destaques vão para Debbie e Ruth, que no ringue são Liberty Belle e Zoya the Destroya (EUA vs Rússia), duas mulheres amigas que deixam de o ser quanto Ruth estraga a amizade dormindo com o marido de Debbie, o que acaba por contrastar com a história que tentam contar dentro do ringue. Betty Gilpin e Alison Brie entregam interpretações muito boas, sendo que acabam por ser os grandes destaques nesta temporada, tendo em conta também que a história está mais centrada nelas. O mais interessante é que, com Alison, ela interpreta a vilã, mas não deixamos de torcer por ela em momento algum, de tão bem que ela assume esta personagem.
E o facto de elas serem as cabeças de cartaz também se nota quando saem as nomeações: Betty já foi nomeada três vezes para o Emmy Award de Melhor Atriz Secundária numa Série de Comédia, sendo uma delas este ano (e a única para a série); e Alison esteve nomeada para dois Globos de Ouro como Melhor Atriz numa Série de Comédia.
Apesar disto, o elenco todo é maravilhoso e cada personagem consegue ter os seus momentos e as suas histórias, brilhar em cena e não ficar confuso nunca. Para além disto, outros dos pontos fortes não só da primeira temporada, como da série inteira são sem dúvida a produção, os figurinos e maquilhagem, super bem conseguidos e que nos transportam para este mundo das Mulheres Bonitas do Wrestling, fazendo com que sintamos que estamos perto do ringue a apoiar cada uma das lutadoras. (e sim, é inspirado num programa dos anos 80 igualmente chamado Gorgeous Ladies of Wrestling). O próprio nome é curioso, visto que elas não são modelos nem nada como se poderia prever ao ler este nome: são pessoas, de várias etnias, de vários tamanhos, que formam ali uma família.
Na segunda temporada, conseguimos assistir a uma dinâmica completamente diferente. Elas já sabem o que fazem e como tal, assistimos a combates muito bons, com uma boa história, bom trabalho de câmara e essencialmente uma boa representação de todo o elenco, sem ninguém a ficar para trás. Temos um conhecimento maior do background de todas, incluindo Bash (o produtor interpretado por Chris Lowell) e Sam (o realizador interpretado por Marc Maron), à medida que vemos a Debbie a tornar-se produtora do espetáculo, as raparigas a ganharem mais destaque e poder no ringue e fora dele, e como o programa vai evoluindo – até já têm fãs!
Um dos melhores episódios da série inteira para mim foi sem dúvida, o episódio 8 da 2ª temporada, “The Good Twin”. A prova de que é possível numa série sobre wrestling contar uma boa história com poucos combates e que é super interessante de se ver. É certo que a série não é só sobre isso mas em boa parte vive do que se passa dentro do ringue, embora a construção das personagens esteja realmente muito boa.
A terceira temporada leva-nos até Las Vegas, a cidade do Pecado, para que elas possam fazer ao vivo o que fizeram no programa de televisão. O que mais gostei nesta temporada foi de toda a evolução das personagens, da sua maturidade, dos desafios que lhes puseram à frente e como superaram, os dramas que assolam as suas vidas.
Para além de que todo o ambiente de estarem num casino, transpira Las Vegas mesmo sem eu nunca ter lá ido para comprovar o que digo. Para além de que é uma temporada focada em temas importantes da sociedade hoje em dia. Acho que embora não tenha sido a melhor temporada para mim, foram 10 episódios em que as lutadoras se reinventaram para se adaptarem a um espectáculo ao vivo e nunca pensei que ia gostar tanto de ver “A Christmas Carol” a ser interpretado dentro de um ringue com wrestling à mistura.
Realmente, tanto as atrizes no programa como as da vida real deram o seu máximo para fazer com que os pulos e movimentos pareçam fáceis. Se calhar não era preciso alongarem-se tanto em alguns episódios mas resolveram muito bem com o final, elevando a nossa curiosidade ao máximo para a quarta temporada. Venha ela porque queremos ver mais deste grupo!
Em suma, a série deve ser vista porque, como já referido, é mais do que wrestling feminino e três temporadas passam super a correr de tão entertaining que ela é. Só fico triste que não consiga mais nomeações porque merece.