A Vertical Entertainment apresenta-nos um drama, mostrando-nos o quão é dura a realidade da recuperação da dependência de drogas. É esta a premissa comandada por Rodrigo García, que está de volta após a realização de “Albert Noobs” (2011), tendo a escrita ficado às mãos de Eli Saslow, jornalista e vencedor de vários Pulitzer.
Há dois fatos que considero relevantes: estreou no Sundance Film Festival em 2020 e a história foi baseada em fatos reais (este último consegue cativar, não é? Pois, já imaginava!).
Mal o filme começa, entendemos exatamente do que se trata, e em que consistirá; quero com isto dizer que a história em si é simples, sem grandes dificuldades ou surpresas.
Molly (Mila Kunis) é uma viciada em heroína (não se ficando por aqui, o que só aumenta a gravidade e põe em causa a credibilidade com base no historial da personagem) que retorna, procurando ajuda junto da sua mãe, Deb (Glenn Close). Porém, esta mostra-se resistente em ajudá-la, já que desconfia das suas reais intenções. E no fim de contas, um longo passado de tentativas e erros não jogam nada a seu favor. Porém, essa não é a batalha mais difícil que Molly terá de travar. Vencer a sua dependência, o período de abstinência e seus efeitos poderosos, com a possibilidade grave de recaída sempre ao virar de uma esquina, só dificulta ainda mais a sua luta e a sua própria existência.
Mila Kunis e Glenn Close estão soberbas, com desempenhos fantásticos, recriando uma dinâmica familiar com altos e baixos, um misto de emoções, que se estendem desde o passado até ao presente, envolvendo decisões, erros e perdão por parte de ambas. Toda essa tensão de longa data é a força motriz desta história, e o filme foca-se (e bem) no relacionamento de ambas, criando algumas cenas comoventes de mãe para filha (e vice-versa).
Apesar disso, existem algumas falhas, como é o caso de uma cena desnecessária (quando Molly sai do carro em busca…), que não acrescentou nada à história, não se justificando, portanto, a sua existência. Ou quando é atribuída a culpa à indústria médica, tendo sentido que esse aspeto poderia ter sido bem mais aprofundado.
No entanto, o que mais me deixou insatisfeito foi justamente a falta de profundidade sobre o tema central – o vício em drogas –, tendo sido abordado de uma forma ligeira, com discussões superficiais bem como o seu impacto em Molly e na família. Não há nenhuma cena terrível que nos faça ver e sofrer, isto é, que nos choque, que nos pese, mas há pedaços de amostras daquilo que é a dependência ou o que pode causar, falando de consequências, porém, o verdadeiro espetáculo reside na atriz Mila Kunis, transformada fisicamente, com uma aparência degradada, encarnando o sofrimento e ao mesmo tempo uma luzinha de esperança.
Em suma, o brilho do filme está nas prestações talentosas de Glenn Close e Mila Kunis. São elas que nos transportam e nos fazem vivenciar, partilhando as suas emoções, algumas guardadas desde há muito tempo. Porém, a ausência de cenas mais intensas, que poderiam proporcionar uma maior tensão, levam a que história fique vazia, ficando um sentimento final de que ainda havia ali mais para ser explorado, sobretudo, em relação aos efeitos do vício de Molly na sua vida e na relação com as outras pessoas.
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