Esta é uma rubrica dedicada a músicas ou bandas sonoras que marcaram a sétima arte. Improviso, reaproveitamento, perseverança… esta é a fantástica história de Nowhere Fast dos Fire Inc. Uma música que não estava prevista mas conseguiu um legado bem maior do que o filme a que se destinava.
Filme: Streets of Fire
O início desta epopeia remonta ao final da década de 60, quando o então jovem cantor Meat Loaf é o escolhido para a Rock opera “Hair”. Na equipa técnica desta, encontrava-se o também jovem compositor e pianista Jim Steinman, que tinha o sonho de compor um álbum diferente de tudo o que tinha sido feito até então.
A ideia de Jim era criar um álbum rock que contasse uma história forte de maneira a que os ouvintes imaginassem uma peça de teatro megalómana.
Meat Loaf, que entretanto já tinha gravado um álbum com a sua colega de peça Stoney, começa a mostrar interesse na ideia de Jim enquanto falavam nos bastidores de Hair.
Assim os dois unem esforços e gravam Meat Loaf: Bat Out Of Hell. O problema é que nenhuma editora quis arriscar num projecto tão extravagante. Com esta contrariedade, decidem financiar o próprio álbum e este viria a ser um sucesso de maneira a conseguirem um contrato discográfico.
Após uma longa digressão decidem fazer uma pausa, mas a editora exige um segundo álbum o mais depressa possível para justificarem o investimento da mesma.
Meat Loaf desmarca-se deste, alegando problemas nas cordas vocais. Assim, Jim Steinman lança um álbum em nome próprio intitulado Bad for Good em 1981. O álbum tinha uma produção espectacular, mas a crítica ostracizou a voz de Jim Steinman, que a cantar era um peixe fora d’água.
Com alguma surpresa, Meat Loaf lança um álbum no mesmo ano sem a participação de Jim…mas também não viria a ter o êxito necessário. Jim sabia que as suas músicas eram boas, mesmo com ele a cantar.
Entretanto, após o sucesso de 48H com Nick Nolte e Eddie Murphy, o realizador Walter Hill recebe luz verde dos estúdios para gravar uma trilogia de seu nome The Adventures Of Tom Cody e o primeiro filme chamar-se-ia Streets Of Fire.
A premissa era simples:
A vocalista dos Fire Inc, Ellen Aim (Diane Lane) volta à sua terra de natal para um espectáculo. Contudo, esta é raptada pelos Bombers, um grupo de motards liderado por Raven Shaddock (Willem Dafoe). Reva Cody (Deborah Van Valkenburgh) envia uma mensagem a seu irmão Tom Cody (Michael Paré), ex-namorado de Ellen, pedindo ajuda para recuperar a vocalista e salvar a cidade dos Bombers.
Walter Hill, que era fã do álbum Bat out of Hell, queria que a sua banda fictícia do filme, os Fire Inc, tivessem uma música produzida por Jim Steinman.
Contudo Walter Hill queria especificamente uma balada, visto que a última música que Jim tinha escrito e produzido era “Total Eclipse Of The Heart”, o primeiro êxito estratosférico de Bonnie Tyler.
Jim, que ainda estava a recuperar do seu falhanço a solo, aceitou o convite e escreveu “Tonight Is What It Means to Be Young“. Este tema seria gravado com a voz de Holly Sherwood e Laurie Sargent, mas quem aparecia no vídeo a cantar era a actriz Diane Lane.
Tudo estava bem encaminhado nas gravações do filme, mas faltava a confirmação de um pormenor… O filme chamava-se Streets of Fire e Walter Hill queria que o filme abrisse com os Fire Inc a interpretarem Streets of Fire de Bruce Springsteen.
A cena estava gravada e aguardava apenas o ok do Boss para a sua utilização…mas este nunca a deu.
Nas escassas 48 horas do termo das gravações do filme, Walter Hill liga a Jim desesperado para este criar um bom tema de abertura visto que o agente de Bruce Springsteen não dava qualquer tipo de resposta e outro tema não original teria de entrar em longos processos negociais que ultrapassariam a data.
Jim, em caso de desespero só tinha em sua posse os direitos do malfadado álbum a solo e assim o fez. No primeiro tema do álbum Bad For Good, com o mesmo nome, Jim tinha um trecho da música que adorava:
God speed!
God speed!
God speed! speed us away!
God speed!
God speed!
God speed! speed us away!
a partir do minuto 5:11
Agarrou-se a este trecho como base para a música nova, chamou Holly Sherwood e Laurie Sargent para cantarem, aumentou a velocidade e substituiu Bad for Good por Nowhere Fast porque fascinava-lhe a ideia de ter motards como vilões.
Mas surgia um novo problema: a quase ausência de tempos de gravação de filme. Montar o cenário do concerto, chamar novamente o cast e figurantes teve um custo de quase 700 mil dólares e só havia tempo para um take. Diane Lane, que ia fazer playback das duas vocalistas, teve de decorar tudo em 2 horas, e caso se esquecesse, a produção iria focar outro membro da banda ou público. Tudo correu bem!
Já em relação ao filme…foi um autêntico falhanço de bilheteira, muito devido ao facto de sair no mesmo dia que um filme da saga Star Trek.
A música Nowhere Fast contudo tornou-se viral, ultrapassando facilmente a popularidade do filme. Tem os pergaminhos todos de uma música de acção e de perseguições e adoramos todos ouvi-la quando vamos num carro! Tonight is What It Means to be Young, a outra música de Jim para o filme, foi também um êxito global!
A trilogia nunca passou do primeiro filme, mas a música teve o condão de reavivar a credibilidade de Jim Steinman. Do seu álbum a solo saiu a base para outro tema intemporal, Stark Raving Love deu origem a “Holding out for a Hero” de Bonnie Tyler.
Em 89, Meat Loaf contacta Steinman para gravarem um novo álbum em conjunto e assim, após 4 anos de trabalho, sai Bat Out of Hell II: Back Into Hell com uma power Ballad que conquistou o mundo: “I’d Do Anything for Love (But I Won’t Do That)”. Esta música foi número 1 em 28 países e o vídeo teve a realização de Michael Bay e transformou Meat Loaf e Steinman em estrelas mundiais!