Ao longo dos anos, “The Simpsons” foi somando vários episódios dedicados à época do Natal. Tal como fiz anteriormente com o Halloween, recordo agora algumas dessas relíquias relacionadas com a quadra natalícia.
Para o propósito deste artigo, um episódio de Natal será aquele em que o enredo gira em torno da época em si ou do seu significado. Desta feita, “Dude, Where’s My Ranch?” não conta, apesar de ter sido nesse episódio que o Homer escreveu Everybody Hates Ned Flanders, uma canção de Natal bastante conhecida na série.
O mesmo vale para “Behind the Laughter”, que inclui o álbum Christmas Boogie, mas que, em última análise, não é sobre a quadra natalícia. (Além disso, esta minha seleção só vai até à décima quinta temporada, porque quanto menos se falar no episódio de 2010, com a Katy Perry, melhor).
“Skinner’s Sense of Snow”
Tenho a convicção pessoal de que o Principal Skinner é um dos personagens mais underrated de “The Simpsons”, sendo que protagoniza, inclusive, alguns dos melhores diálogos da série.
O que poderia ser melhor do que um episódio em que Skinner fica preso na escola com os alunos, devido uma tempestade de neve? Apesar da premissa quase magistral, este episódio não é muito memorável. Talvez esteja relacionado com o facto de não ser tão emocionante, ou infundido com lições morais contundentes, como outros contos de Natal dos Simpsons. Seja como for, é, para mim, das melhores peças da série.
“Defying orders, eh? Well, I see you Scotsmen are thrifty with courage, too.” – Principal Skinner
“‘Tis the Fifteenth Season”
“’Tis the Fifteenth Season” mostra Homer ao seu melhor nível, mas também no pináculo oposto. Depois de receber uma oferta financeira inesperada de um Mr. Burns inconsciente, a família vai comprar alguns presentes de Natal no Springfield Heights Promenade. Mas em vez de gastar o dinheiro recém-adquirido em presentes e uma árvore, como tinha prometido à família, Homer decide comprar um astrolábio que fala.
Efetivamente, “Tis the Fifteenth Season” é uma homenagem aos especiais de Natal do passado, que inspiram Homer a alterar os seus hábitos gananciosos. Depois de assistir a “Mr. McGrew’s Christmas Carol ”- uma paródia não tão subtil de um personagem semelhante ao Mr. Magoo – Homer promete tornar-se o tipo mais porreiro de Springfield, e deixar até Ned Flanders envergonhado.
Porém, o tiro sai pela culatra quando Homer interpreta mal alguns dos conselhos budistas de Lisa e, por conseguinte, rouba os presentes dos habitantes da cidade com a intenção de queimá-los na praça da cidade.
O final sombrio, onde os Springfieldians confundem um tiro de sinalização de resgate, disparado por um Hans Moleman moribundo, com uma visão de Deus, entrega uma reverência apropriadamente cínica ao episódio.
“This is offensive to both Christians and prunes!” – Lisa
“Miracle on Evergreen Terrace”
“Bart ruins Christmas” parece ser um fio condutor ao longo dos episódios de Natal em “The Simpsons”. Mas, para ser justo, a destruição do Natal de Bart, em “Miracle on Evergreen Terrace”, acontece como um acidente completo, embora alimentado pelo egoísmo.
Numa tentativa de arrecadar os presentes de Natal, Bart acorda antes do resto da família e começa a explorar as possibilidades. Porém, um acidente com um carro dos bombeiros de controlo remoto, acaba por transformar a árvore e os presentes numa massa congelada de plástico derretido.
Bart inventa uma história sobre um ladrão que rouba os presentes e a árvore de Natal – por algum motivo – mas a coisa não corre bem quando, por fim, não consegue guardar a culpa ao ver os cidadãos de Springfield a abrirem os corações e, inclusivamente, as carteiras, pela família Simpson.
Por fim, descobre-se a tramoia. Desta feita, a cidade decide vingar-se dos Simpsons, ao saquear a casa, deixando-lhes uma mísera toalha solitária. Muitos séries já transmitiram a mensagem de que os “presentes não importam”, mas apenas “The Simpsons” poderia implantar esta moral ao utilizar a justiça da multidão.
“So while you’re home today, eating your sweet, sweet, holiday turkey, I hope you’ll all choke… just a little bit.” – Kent Brockman
“Simpsons Roasting on an Open Fire”
“Simpsons Roasting on an Open Fire” não é apenas o primeiro episódio de “The Simpsons” a ter ido para o ar, mas é também uma tábua de salvação para a série em si. Embora a estreia com um especial de Natal pareça engenhoso em retrospectiva, a Fox tinha o plano de lançar a primeira temporada no outono de 1989.
Todavia, os argumentistas e a equipa de animação não estavam em sintonia e, desta forma, causaram atrasos suficientes para empurrar a estreia formal da primeira temporada para janeiro de 1990.
Embora o primeiro especial de Natal de “The Simpsons” possa existir como o primeiro episódio da série, foi, na verdade, o oitavo episódio a ser produzido.
Esta aventura de Natal sombria e cómica, faz um trabalho muito melhor a apresentar o elenco principal do que o verdadeiro primeiro episódio em que Bart enfrenta The Babysitter Bandit. E, mais importante, o episódio apresenta o Santa’s Little Helper, cujo nome atua como referência subjacente aos originais de Natal da série.
“Alright, kids, prepare to be dazzled. Marge! Turn on the juice!” – Homer
“Marge Be Not Proud”
“Marge Be Not Proud” não aborda um tema padrão sobre família ou união. Em vez disso, é um episódio definitivo em torno de Bart, com o Natal a funcionar como um dispositivo da história. O filho mais velho dos Simpsons é apanhado a roubar um videojogo, e Marge responde como se fosse a pior coisa que o jovem já tenha feito.
No que toca à linha de tempo, Bart até podia ter provocado um incidente internacional recentemente, mas em termos de patifarias nada fantásticas que um miúdo de dez anos pode cometer na vida real, roubar o Try-N-Save foi a sua maior transgressão.
Ele esforça-se para restabelecer a dinâmica amorosa com a mãe, que rejeita no início do episódio, quando afirma que “já não é uma criança”. Embora esteja feliz em retratar o papel de Dennis the Menace da sua geração, ele não quer que o caos vá longe demais e afaste a mãe.
Mais do que tudo, “Marge Be Not Proud” martela a mensagem de que nada é mais miserável do que dececionarmos as pessoas que nos amam verdadeiramente. Mesmo que Bart esteja pronto para enfrentar as consequências do ato, a punição que ele recebe é muito pior do que poderia esperar: a ausência emocional de Marge.
O facto de Bart tentar reconquistar a mãe, fornece a “Marge Be Not Proud” o final mais emocionante de qualquer episódio de Natal de “The Simpsons”, porque não deixa que os momentos emocionantes atrapalhem o modo de contar ótimas piadas.
E, no final, quando Marge compra – de forma inocente – o videojogo errado, mas Bart finge que é o que ele sempre quis, somos atingidos com mais força do que por um taco de golfe no Putting Challenge do Lee Carvallo.
“Shoplifting is a victimless crime. Like punching someone in the dark.” – Nelson Muntz