“Fantasy Island” pode ser resumido numa frase: quando um bom double plot-twist é arruinado por um péssimo triple plot-twist. Estreou recentemente nas salas de cinema portuguesas, já foi visto por mais de 20 mil espetadores mas as pontuações tardaram a sair no Rotten Tomatoes, fazendo-se adivinhar o que viria aí.
Esta produção Blumhouse é uma reinvenção da série de comédia do mesmo nome que nos anos ‘70 apresentou ao mundo Ricardo Montalban e Hervé Villechaize como os anfitriões de uma ilha onde todas as fantasias eram tornadas realidade. Nomeada a 7 Emmys e 1 Globo de Ouro, a série marcou a década e agora, à semelhança de todos os êxitos de glórias passadas teve direito a um remake.
A ideia de base era promissora o suficiente para garantir um bom filme de thriller e mistério. Enquanto na série as peripécias estavam viradas para o humor, no filme os resultados seriam assustadores. E até foram… mas no mau sentido.
A começar, “Fantasy Island” tem um conjunto de hóspedes do mais básico que poderíamos encontrar. Nota-se um esforço em tentar desenvolver algumas das personagens com um percurso de vida realista e que apele às emoções do espectador (uma vítima de bullying na infância, um jovem-adulto que perdeu o pai na guerra e uma mulher arrependida por uma decisão que a privou de uma vida em família), no entanto, a grande maioria do diálogo parece forçado e a soar a falso, quebrando qualquer emoção. O facto dos outros dois hóspedes serem dois idiotas que só fazem disparates também não ajuda.
Por sua vez, o Mr. Roarke de Michael Peña não tem o peso para suportar uma personagem que deveria ter sido tão carismática quanto ambígua, deixando o espectador na dúvida se seria um possível vilão ou uma boa pessoa alheia ao terror da ilha. Outra personagem que não resulta é o Morgan de Michael Rooker, neste caso uma boa escolha de casting mas num papel que deveria ter tido um maior impacto na narrativa.
No meio disto tudo estamos perante um filme que caminha pela comédia, aventura, fantasia, terror, mistério, thriller e ação, mas que não explora suficientemente cada um destes géneros para sequer ser considerado como parte de um deles. É sobretudo o resultado de uma escolha do estúdio em fazer um filme PG-13 em vez R-Rated para alcançar a maior audiência possível.
A ideia original do remake exigia um thriller psicológico que jogasse com a realidade e a fantasia colocando em causa a sanidade mental dos hóspedes da Ilha da Fantasia. O resultado final é uma mistela desenxabida que no máximo seria um mau filme de mistério e fantasia.
A piorar a situação, o filme, que até se aguentava como uma proposta genérica, atingiu um ponto muito interessante quando (tentando evitar spoilers) assistimos à fantasia do edifício em chamas. As revelações das personagens presentes nesse momento apontariam para um final de melhor qualidade, com um bom double plot-twist que redimiria quase tudo o que tínhamos visto até agora e com um “vilão” inesperado mas bem justificado que traria um momento de introspeção a todas as personagens.
Infelizmente esse momento é-nos arrancado breves minutos depois por um triple plot-twist extremamente ridículo e mal amanhado que inclusivamente é um atentado às verdadeiras vítimas de abusos físicos e psicológicos ao transformarem as intenções de uma personagem numa psicopatia doentia e sem fundamento.
My Dinner with Hervé,HBOO meu único conselho é para guardarem o vosso dinheiro e, se ainda se lembrarem que o filme existe daqui a uns 2 anos, verem-no na televisão. Aconselho-vos sim a verem “My Dinner with Hervé”, um filme biográfico da HBO com Peter Dinklage (“Game of Thrones”) no papel de Hervé Villechaize, o ator anão que co-protagonizou a série “Fantasy Island” e que numa extrema depressão por nunca ter conseguido mudar o rumo da sua carreira decadente decide conceder uma última entrevista a um jornalista britânico.